Gilberto Gil, nos versos de Queremos saber, de 1977, perguntava quando iríamos ter raio laser mais barato, e, quase uma década antes disso, em uma canção de 1969, alertava que nenhum cérebro eletrônico seria capaz de nos socorrer com seus botões de ferro e seus olhos de vidro. Nesse mesmo ano, do outro lado do Atlântico, David Bowie cantava o triste destino de Major Tom em sua viagem espacial, apenas três anos antes de seu conterrâneo Elton John dar voz aos lamentos de seu Rocket man.

Não é de hoje que alienígenas, inteligências artificiais e viagens interestelares povoam nosso imaginário, saltando das páginas dos livros e das telas do cinema para fazerem parte do nosso cotidiano. E se a ficção científica é assunto recorrente, seja no comentário sobre a série que acabamos de assistir na plataforma de streamig, seja nas observações a respeito do assombroso impacto das novas tecnologias, tudo isso se deve, em grande parte, a uma figura, Hugo Gernsback, fundador da Amazing Stories. Foi ele quem, em abril de 1926, no primeiro número da sua revista, cunhou o termo “scientifiction” para designar o gênero de narrativas que, na sua opinião, desde H. G. Wells, Júlio Verne e Edgar Allan Poe, mesclam narrativas de aventura, pensamento científico, aparatos altamente tecnológicos e especulações acerca do futuro da humanidade e do universo.

Como forma de celebrar essa data e refletir sobre as transformações, o dossiê “A odisseia de um conceito centenário: transmutações, desdobramentos e permanências da ficção científica” espera receber textos que discutam questões conceituais e temáticas relacionadas ao universo literário e cultural da ficção científica, abrangendo suas mais distintas manifestações, bem como trabalhos dedicados às diferentes ramificações da FC, como a distopia, a space opera, o cyberpunk, o steampunk, as narrativas pós-apocalípticas, o afrofuturismo, dentre outras categorias que dialogam com o gênero. Por fim, também serão admitidas propostas dedicadas a autoras e autores, clássicos e contemporâneos, cujas obras tenham contribuído com a trajetória desse conceito centenário, dentro e fora do Brasil.