Terça-feira, 19 de Março de 2024
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Cadernos do Instituto de Letras (n. 64): Ficção, realidade e pós-ficção no romance latino-americano contemporâneo

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Chamada para artigos, Literatura

Chamada para a submissão de artigos

Cadernos do Instituto de Letras

Estudos Literários (n. 64)

Tema: Ficção, realidade e pós-ficção no romance latino-americano contemporâneo

Organizadores: Profa. Dra. Fabíola Simão Padilha Trefzger (UFES); Profa. Dra. Renata Rocha Ribeiro (UFG); Prof. Ms. Weverson Dadalto (IFES)

Prazo para submissões: de 31 de agosto de 2022 até 15 de outubro de 2022.

O romance contemporâneo tem suscitado discussões intrigantes, referentes tanto às formas de expansão do gênero quanto à sua relação com a realidade, entre outras questões. Julián Fuks (2017), partindo de conceitos como verdade e ficção, considera que o gênero, atualmente, vive o que denomina de “era da pós-ficção”, em que a fabulação não seria mais o principal estímulo da escrita criativa. Por seu turno, em relação à ficção dos dias atuais, Cristóvão Tezza (2017, p. 21) delimita a escrita como a ação capaz de capturar o “real, aquilo que se vive sem pausa, paralisado no tempo e no espaço”. Catharine Gallagher (2009, p. 657) considera que, à maneira de um truísmo, “o limite entre ficção e não ficção se está dissolvendo e que nossos campos discursivos estão, mais uma vez, mudando de fisionomia”. Nesse sentido, os discursos historiográfico e o biográfico, por exemplo, se apropriam de técnicas literárias, bem como os prosadores contemporâneos constroem personagens baseadas em pessoas reais e desenterram “eventos históricos como se fossem de sua imaginação”. Já James Wood (2017) entende que a ficção contemporânea vive uma crise, uma vez que, apesar de suas múltiplas manifestações, ninguém parece saber muito bem como proceder diante dela. Segundo sua análise, há um problema indissolúvel na relação entre ficção contemporânea e realismo, por exemplo. Assumindo como ponto de partida uma citação de Walter Benjamin sobre o uso da primeira pessoa do singular, segundo a qual ninguém deveria usar o artifício antes dos trinta anos de idade, Beatriz Sarlo (2017) destaca a desobediência contemporânea em relação a essa sugestão benjaminiana. Para a crítica argentina, o eu “se libertou, exerce seu império, o que não quer dizer, invariavelmente, que os resultados da primeira pessoa sejam melhores que o trabalhoso exercício de buscar um ponto de vista e uma linguagem para o personagem narrador de suas vicissitudes que começam, em geral, na infância, tenro paraíso da autoficção”. Presenciamos os avanços do campo tecnológico, e Julio Ortega (2014) assume que a criatividade romanesca se beneficia deles. Haveria também uma dificuldade em definir a cartografia do romance latino-americano contemporâneo, o que faz Ortega chegar a afirmar que “temos um romance que não é mais nacional. É pós-nacional, é transnacional; é, sobretudo, transatlântico”. Já Graciela Ravetti (2019), ao tratar da existência de novos realismos no romance latino-americano contemporâneo, assim os define: são as “produções literárias narrativas, produzidas na segunda metade do século XX e no século XXI, que utilizam procedimentos que implicam interpelações diretas à experiência viva, com intensos processos de reflexão sobre a produção literária e artística, o que confere um peso ao mesmo tempo artístico e político, intimista e público, ao esforço de introspecção”. Sobre a relação entre o contexto narrativo brasileiro contemporâneo (mas que também pode se expandir ao latino-americano) e a existência de um novo realismo, Karl Erik Schøllhammer (2009, p. 53-54) trata do desejo dos novos autores em retratar a realidade atual de uma perspectiva periférica, em sua maioria. Não seria, assim, “um realismo tradicional e ingênuo em busca da ilusão de realidade. Nem se trata, tampouco, de um realismo propriamente representativo; a diferença que mais salta aos olhos é que os novos ‘novos realistas’ querem provocar efeitos de realidade por outros meios”. Este breve panorama teórico ilustra as diversas possibilidades de leituras teórico-críticas sobre o romance contemporâneo, especificamente em sua vinculação com a realidade. Nesse sentido, o número temático da revista Cadernos do IL pretende receber contribuições em que sejam analisados aspectos concernentes a esse gênero nos dias de hoje, com destaque para o romance brasileiro e latino-americano. São sugestões de abordagem para este corpus específico: práticas culturais; literatura e memória; realismos; literatura e história; questões de gênero (gender); subjetividades; escritas de si; narradores e narração; literatura e tecnologia; ficção e testemunho; literatura e engajamento; literatura e resistência; expansão das formas do gênero romanesco; entre outras.

 

Referências

FUKS, Julián. A era da pós-ficção: notas sobre a insuficiência da fabulação no romance contemporâneo. In: DUNKER, Christian (Org.). Ética e pós-verdade. Porto Alegre: Dublinense, 2017.

GALLAGHER, Catherine. Ficção. In: MORETTI, Franco (Org.). A cultura do romance. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

ORTEGA, Julio. “O romance latino-americano é transnacional”, diz professor da Brown University. Entrevista ao Portal UFMG. Disponível em: .

RAVETTI, Graciela. Literatura latino-americana contemporânea: reflexões sobre paradigmas, convergências e legados. Olho d’água, São José do Rio Preto, v. 11, n. 1. jan. – jun. 2019. p. 12-31.

SARLO, Beatriz. Encerrar el yo en una lata. El País, 5 set. 2017. Disponível em: < https://elpais.com/cultura/2017/08/28/babelia/1503928864_171902.html>.

SCHOLLHAMMER, Karl Erik. Ficção brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

TEZZA, Cristóvão. A ética da ficção. In: DUNKER, Christian (Org.). Ética e pós-verdade. Porto Alegre: Dublinense, 2017.

WOOD, James. “Veo una crisis en la ficción contemporánea”. Entrevista a Eduardo Lago. El País, 1 set. 2017. Disponível em: .



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Cadernos do IL seer.ufrgs.br/cadernosdoil ISSN 2236-6385

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