I SENACORPUS - Seminário Nacional Corpus Possíveis
Início: ⋅ Fim: ⋅ Data de abertura: ⋅ Data de encerramento: ⋅ Países: Brasil
Chamada para trabalhos, Ciências Humanas e Sociais, Educação, Género
A organização do Seminário Corpus Possíveis anuncia a realização da 1ª edição do SENACORPUS entre os dias 30 de novembro a 02 de dezembro de 2016, na Universidade Federal do Oeste da Bahia - UFOB. O prazo para submissão de trabalhos do SENACORPUS vai até o dia 31/10 e você pode escolher a modalidade comunicação oral ou pôster.
Apresentação
A escola, tradicionalmente, tem sido o espaço do ajustamento, da reprodução e da aplicação de normas que hierarquizam culturas, sujeitos e produzem subalternidades. Seus projetos, planos de ação, estrutura física, profissionais e currículos se articulam e (re)produzem relações de poder nas quais as diferenças de raça/etnia, classe, gênero e sexualidade, religião e corpóreas, entre outras, quando não estigmatizadas e violentadas explicitamente, são apropriadas e alocadas no lócus marcado pelo signo do "exótico". Diante do exposto em tela, assistimos frequentemente emergirem narrativas sobre "caça às bruxas", monstros, sujeitos que não são sujeitos, pois a eles é negado o status de humano: são frequentemente reproduzidas na escola, ambiente que se propõe um dos pilares sociais de formação humana, reflexão, ética e produção de conhecimento violências e marginalizações dos que são lidos como diferentes, ou como afirma Butler (2015, p. 17), "há "sujeitos" que não são exatamente reconhecíveis como sujeitos e há "vidas" que dificilmente - ou, melhor dizendo, nunca - são reconhecidas como vidas". Recentemente, houve inúmeras campanhas em todo o país, a maioria bem sucedidas, para a retirada da expressão "gênero" dos planos municipais de ensino, em um projeto explícito de impedir a discussão e a reflexão sobre diversidades e as questões de gênero e sexualidade no espaço das escolas. Como se posicionar argumentando favoravelmente à permanência das questões de gênero e também de orientação sexual nos currículos e espaços das escolas de nível básico? Os debates sobre gênero e sexualidade na escola, em suas intersecções com as questões étnicorraciais, de classe, de deficiência e outras corporeidades, se apresentam como urgentes e necessárias, de modo a reconhecer a existência de uma história brasileira marcada pela marginalização e desigualdade de gênero, em especial, em relação às mulheres que mesmo com suas conquistas ainda têm sido desvalorizadas, sobretudo quanto à remuneração salarial, ocupação profissional ou participação na representação política, além da altíssima taxa de feminicídios, fazendo do Brasil o sétimo país do mundo com as maiores taxas de violência contra as mulheres conforme dados disponíveis no site da Organização das Nações Unidas (ONU) , inclusive só em 2012 foram registrados 50.000 estupros no Brasil. Ressalta-se que a Constituição Brasileira de 1988 já dizia em seu artigo 3°, inciso IV, que constitui objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. E em seu artigo 5º diz: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade". Dessa forma, entende-se que todas as pessoas devam ser reconhecidas e respeitadas em suas singularidades, inclusive nas suas identidades de gênero e orientação sexual.
Os documentos educacionais também têm considerado as relações de gênero como já expresso nos Parâmetros Curriculares Nacionais publicados em 1997 e, mais recentemente, nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica publicadas em 2013 em seu artigo 43 e parágrafo 3: A missão da unidade escolar, o papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, as questões de gênero, etnia e diversidade cultural que compõem as ações educativas, a organização e a gestão curricular são componentes integrantes do projeto político-pedagógico, devendo ser previstas as prioridades institucionais que a identificam, definindo o conjunto das ações educativas próprias das etapas da Educação Básica assumidas, de acordo com as especificidades que lhes correspondam, preservando a sua articulação sistêmica.
Essas orientações educacionais têm apresentado a importância de se discutir sobre gênero e orientação sexual nas escolas a fim de se combater os processos discriminatórios ainda tão expressivos em nossos espaços educacionais. A pesquisa "Juventudes e Sexualidade" (2004) realizada pelas pesquisadoras Miriam Abramovay, Mary Garcia Castro e Lorena Bernadete da Silva, via UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) com 16422 estudantes (a maioria de 15 a 19 anos) em 13 capitais brasileiras e no Distrito Federal constatou a presença de estupro ou violência sexual na escola ou perto dela (9% em Salvador) e da discriminação contra homossexuais (25,4% em Salvador). Os discentes também relataram situações de colegas que desistiram de estudar em virtude da exclusão vivida por ser homossexual, a qual se manifestava por meio de xingamentos, humilhações e até ameaças. Recentemente, a própria UNESCO (ano) elaborou um documento para orientar em ações educacionais que diminuam o bullying homofóbico nesses espaços.
Com base nas legislações, documentos educacionais oficiais e pesquisas realizadas por universidades e instituições nacionais e internacionais reconhece-se, portanto, a importância de se valorizar as diferenças e defendemos que a escola brasileira não se silencie frente ao sexismo (discriminação de sexo/gênero), à misoginia (rejeição às mulheres e à feminilidade) e a lesbo-homo-bi-transfobia (manifestação de rejeição e ódio aos(às) lésbicas, gays, bissexuais e travestis, transexuais e transgêneros), nem ao racismo e ao capacitismo. A discussão sobre bullying e violência escolar e seu enfrentamento tem sido pauta dos noticiários e se torna ação fundamental a ser implementada em todo o país. Enfatiza-se, portanto, o papel fundamental das escolas pela construção de projeto de defesa da diversidade humana, das diferenças de grupos e sujeitos, do respeito ao próximo, do afeto, da aprendizagem significativa, com a intenção de contribuir para a formação de crianças, adolescentes, jovens e adultos que reconheçam a importância do respeito às pluralidades sejam elas de origem social, cultural, étnico-racial, gênero, orientação sexual, religiosa, nacionalidade, condição física, sensorial e socioemocional, geracional e entre outras. O enfrentamento às violências, o estímulo ao reconhecimento e convivência com a diversidade não pode ser apenas referido como trabalho transversal, pontual ou superficialmente realizada em eventos esparsos durante o ano letivo. Há que se propor o protagonismo desse debate no projeto político-pedagógico e nos currículos de cada escola, pois é também nela que se constrói um projeto de sociedade menos injusta, menos violenta, menos desumana, mais respeitosa, amorosa e pacífica.
O bulling escolar preocupa, de há muito, não apenas pesquisadores das mais diversas áreas vinculadas à educação, como também professores vinculados à educação básica e estudantes, estes vítimas, quase sempre silenciosas, das mais diversas violências. O seminário que ora propomos se insere nessas preocupações e se justifica na medida em que busca, a partir do diálogo com os agentes envolvidos nos processos educacionais (professores, estudantes e estudantes das licenciaturas oferecidas pela UFOB e outras instituições da Região, a exemplo da UNEB e FASB, dentre outras, como aquelas que oferecem cursos na modalidade a distância), diagnosticar os problemas que se colocam como empecilhos a uma educação comprometida com os direitos humanos. Cabe à Universidade, notadamente à pública - cuja responsabilidade social é inquestionável, não apenas atestar que a educação e a formação de professores não vai bem, como, ainda, ensaiar estratégias de enfrentamento aos problemas.
Nosso país já acumula, há mais de uma década, um cabedal respeitável de estudos sobre as sexualidades e os gêneros "dissidentes". Muitos grupos de pesquisa, que se dedicam a estudar as relações entre a sexualidade e as culturas, sob uma perspectiva multidisciplinar, já vêm apontando a necessidade de que se aposte em estratégias de enfrentamento a todas as modalidades de subalternização de subjetividades no campo das culturas, uma vez que se parte da compreensão de que apenas os marcos legais não são suficientes para tal tarefa. Este evento, portanto, se soma a esse entendimento, e se apresenta, para além de um espaço de reflexão e debate - compromisso da Universidade, como um elaborador e catalisador de propostas inovadoras no âmbito do imbricamento dos estudos das sexualidades, da cultura e da educação. É imperativo construir uma educação para a diversidade e para a diferença e que enfrente todas as modalidades de opressão. Propõe-se que sejam deliberados planos de ação a curto, médio e longo prazo, de modo a serem discutidos pela Universidade, e principalmente os cursos de licenciatura, tratando, absolutamente, essas discussões como continuadas, permanentes e sempre avaliadas pelos grupos. Ademais, a referida proposta surge como uma das primeiras ações do Grupo de Pesquisa Corpus Possíveis - Educação, Cultura e Diferenças (esta mesma ação foi aprovada e teve seu mérito reconhecido em um edital de 2014 da PROEC/UFOB, mas que oportunamente é lançada agora haja vista o recente cadastro e certificação do grupo no CNPQ), ao passo que dialoga diretamente com a linha "Espaços Educativos e a produção das diferenças", que enseja discutir escola (e outros espaço educativos), currículo e as imbricações necessárias desse campo para a formulação de ações que visem o combate às desigualdades sociais e a valorização da diversidade e das diferenças; também se conecta com a linha "Cultura, Gênero e Sexualidade", pois a mesma propõe reflexões e ações nos âmbitos da cultura e sociedade para o enfrentamento às violências de gênero e sexualidade; enfatiza-se também o premente diálogo com a linha "Políticas para o respeito às diferenças", haja vista que a proposta deste seminário é também propositiva, no caminho da reflexão e formulação de políticas públicas no campo das políticas sociais de enfrentamento às desigualdades sociais e valorização às diferenças. A proposta interdisciplinar do grupo de pesquisa provoca um diálogo interdisciplinar entre todas as linhas, já que se alicerça em estudos sobre "Educação, Cultura e Diferenças", o que por consequência torna este evento intrinsecamente afinado com as outras linhas, a citar: "Raça, gênero e linguagem", "Linguagens, cultura e a produção das diferenças" e "Teorias Feministas Contemporâneas".
O I Seminário Corpus Possíveis: Educação, Cultura e Diferenças conta com a parceria da Prograf-AAFIM no tocante à infraestrutura do evento (pastas, blocos de papel, material didático, espaço físico para as atividades, diárias e passagens para palestrantes, translado para palestrantes, serviço de assistência administrativa (agendamentos, reservas de hotéis, etc.), divulgação externa, carro oficial, cerimonial, espaço físico (salas) de apoio para a equipe de trabalho, intervalo para o café). Denota-se que o referido projeto pretende firmar parcerias com universidades privadas (como a FASB, em que um dos componentes do grupo de pesquisa Corpus Possíveis é docente), escolas de nível básico e outras instituições de ensino, além de empresas socialmente responsáveis e com projetos conectados aos campos da cultura e da educação.
Confira as normas e envie já o seu trabalho: http://senacorpus.com.br/normas-trabalho.php.
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