Congresso Internacional Reescrever o século XVI: Questões de Gênero em Camões
Início: ⋅ Fim: ⋅ Data de abertura: ⋅ Data de encerramento: ⋅ Países: Brasil, Portugal
Congresso Internacional
Reescrever o século XVI: Questões de Gênero em Camões, do peito feminil ao homoerotismo
15 e 16 de Outubro de 2024
Universidade de São Paulo (formato híbrido)
Em 2024 comemoram-se os quinhentos anos do nascimento de Luís Vaz de Camões. Sem plena certeza de o poeta ter mesmo nascido em 1524, multiplicam-se as dúvidas sobre a sua vida e a sua obra, porém, permanece inquestionável o interesse renovado suscitado pela sua poesia, no que tange às questões de gênero, uma vez que é multifacetada a sua representação do “peito feminil”, também ilustre, assim como do tema homoerótico.
Na poesia lírica, Camões soube dialogar com a tradição petrarquista, explorando a combinação de atributos herdados dos modelos peninsulares e dos códigos classicizantes no âmbito da imitatio renascentista, mas conseguindo fugir tanto à deificação da mulher que implica a sua redutora desumanização quanto ao esquecimento da tópica bucólica do amor entre pastores e pastoras. É sobejamente conhecido o caráter pioneiro de cantar, ainda que de um ponto de vista colonialista, a beleza de uma mulher negra e escrava nas endechas a Bárbora. O amor entre homens e mulheres foi cantado pelo poeta mas também o amor entre iguais foi encenado no seu drama pastoril e satirizado no Convite que fez a certos fidalgos em Goa.
No teatro, Camões soube dar protagonismo a figuras femininas pertencentes a diversos estamentos da sociedade de corte. Na poesia de salão, ou de circunstância, damas da nobreza e realeza ibérica e portuguesa foram cantadas, como a Princesa de Portugal. Nas cartas em prosa, a prostituta de Lisboa ou das Índias é alvo da sátira camoniana. Na lírica, a mulher de muitos amantes é figurada como Circe, fera humana e loba. Mas importa também lembrar relevantes sinais de retratos não convencionais e até de empoderamento feminino n’ Os Lusíadas. Além da intervenção política da “fermosíssima Maria”, a ninfa Tétis rejeita o gigante Adamastor, que é transformado em rocha e condenado à tortura de a ver nadar livremente em seu redor. A deusa Tétis, por sua vez, não acompanha o Gama na viagem de retorno a Portugal. A Deusa Giganteia com uma centena de bocas difunde a gesta portuguesa pelo globo. Cumpre igualmente sublinhar o conteúdo das palavras dirigidas a Bóreas pela ninfa que o repreende, no episódio da Tempestade (Lus.VI, 89, 4-8). Deste modo, privilegia-se o enamoramento e os jogos de sedução a que assistimos na Ilha dos Amores, numa postura que condena o amor forçado, o assédio e a violação, aproximando-se da visão moderna sobre a vivência amorosa por meio da emulação de mitologemas, imagens e figuras antigas mas também por uma intervenção cívida em prol da mulher no século XVI.
Quais as individualidades femininas que se libertaram da “lei da morte”? Que memória persiste dessas figuras verdadeiramente excepcionais? Como conseguiram escapar à sentença tradicional que as destinava ao casamento ou ao convento, constituindo verdadeiras excepções a regras? Que testemunhos deixaram? Como desafiaram as convenções sociais com as suas ideias e os seus exemplos inspiradores? Como foram retratadas pelas artes e pelo registro historiográfico? Como pode a crítica literária fomentar o resgate das questões de gênero na obra de Camões para a história cultural do século XVI, fora da interpretação iluminista e romântica, incluindo a tópica sodomita e a amizade socrática entre preceptor e discípulo?
Este congresso se concentra nas questões de gênero presentes na obra camoniana e também convida ao estudo da mentalidade que embasou a fortuna crítica e/ou poética dessas temáticas, seja no momento atual, seja em outros períodos históricos nos quais foi interpretada de acordo aos valores e desejos dominantes em cada época. Lembremos a interpretação que fez escola no século passado, de José Maria Rodrigues: a corte de Camões à princesa D. Maria como a causa da sua desdita. Antes interessa mostrar a corte de mulheres letradas em torno da filha caçula de D. Manuel.
Convidamos as investigadoras e os investigadores a apresentarem propostas de comunicações neste âmbito, de modo a promover o diálogo interdisciplinar, com base na pluralidade de abordagens teóricas e áreas científicas (Literatura, História, Estudos Culturais, Sociologia, História da Arte, Estudos Feministas, Estudos Homoeróticos, Direito, História da Ciência, Música, Dança, Geografia etc.).
Submissão de propostas
Enviar título e resumo da intervenção (250-350 palavras), bem como breve nota curricular (máx. 150 palavras), através de correio eletrônico, para mmaf@usp.br com assunto “Questões de gênero em Camões”.
Data limite: 31 de Agosto de 2024
Comunicação de resultados: 10 de setembro de 2024
Serão aceites propostas em português e inglês. A participação não está sujeita ao pagamento de inscrição.
Temas sugeridos
Damas, princesas e rainhas na obra & vida de Camões
Imitação da pastorícia homoerótica renascentista na relação preceptor/pupilo
Cavaleiros, Clérigos, Navegadores e o homoerotismo na sociedade de corte
Alegorias femininas na mitologia de Os Lusíadas, das odes, éclogas e canções
Os erotismos da Ilha de Vênus – concepções do amor e do desejo
As amadas de Camões para comentaristas, editores, críticos e historiadores
Do bordel à servidão patriarcal: prostitutas, escravas, serranas e meninas de Camões
Releituras do peito feminil camoniano na literatura e pelas outras artes
Organização
Grupo de Pesquisa Reescrever o século XVI (Universidade de São Paulo/ CNPq)
Grupos de Trabalho Camões no Mundo e Camões, muda poesia e emblemática (CIEC/Universidade de Coimbra)
Oradores confirmados:
Cristina Costa Gomes (Universidade de Lisboa)
Filipa Araújo (CIEC/Universidade de Coimbra)
Luís Maffei (Universidade Federal Fluminense)
Manuel Ferro (Universidade de Coimbra)
Marcia Arruda Franco (Universidade de São Paulo)
Micaela Ramon (Universidade do Minho)
Paulo Braz (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Pedro Serra (Universidade de Salamanca)
Vanda Anastácio (Universidade de Lisboa)
A confirmar: Laurence Grove, Marcello Moreira, Saulo Neiva, Sérgio Sousa.
Pesquisadores convidados da Universidade de São Paulo
Ana Carolina Alvarenga
Gustavo Borghi
Paulo César Ribeiro Filho
Larissa Fonseca e Silva
Luciana Brandão
Maria Clara Crespo
Larissa Stocco Gomes
Sérgio Felisberto Junior
Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UIDP/00150/2020
Imagem: portraitindex.de