Chamada de comunicações para colóquio internacional – Mulher(es) e Poder(es)
Início: ⋅ Fim: ⋅ Data de abertura: ⋅ Data de encerramento: ⋅ Países: Portugal, Suíça
Chamada para trabalhos, Ciências Humanas e Sociais, Estudos Lusófonos, Mulheres
Chamada de comunicações
Colóquio Internacinal
Mulher(es) e Poder(es) / Femme(s) et Pouvoir(s)
Organização: CEL (centre d’études lusophones) e CHAM (centro de humanidades)
Línguas do colóquio: português, francês
Duração: 23, 24 e 25 de abril de 2020
Duração das comunicações: 20 minutos, seguidas de 10 minutos de discussão
Por favor, enviar as propostas de comunicação com um título, resumo entre 200 e 350 palavras, nota biográfica, até 17 de janeiro 2020, para Nazaré Torrão, Ana Maria Martinho e João Paulo Costa.
Nazaré Torrão – Nazare.Torrao(a)unige.ch
Ana Maria Martinho – ana.martinho(a)fcsh.unl.pt
João Paulo Costa – jpcosta(a)fcsh.unl.pt
Apresentação
Passámos de uma história que silenciava completamente o papel das mulheres para conseguir estabelecer um ramo da história que se ocupa da mulher e, atualmente, num âmbito mais vasto, de género. Ao longo desse caminho colocou-se a questão da existência de uma história das mulheres e, num segundo passo, esta foi integrada na história das marginalidades e das minorias: dos pobres e dominados, dos colonizados, dos negros, dos homossexuais… É todavia uma margem muito numerosa: metade da população mundial! Desde os anos 1970 as pesquisas sobre o tema trouxeram-no para a vida académica, ainda que lutando contra a relutância que a conquista de um lugar igual para as mulheres sempre causou e continua a causar. A luta teve três vertentes: fazer aceitá-las como atoras da história, como tema de pesquisa e como pesquisadoras.
Consequência do apagamento de que foram vítimas durante muito tempo pouco se soube do seu papel na história e, fruto da descriminação que sofreram e sofrem em muitas sociedades do mundo, a sua condição social sempre foi pior do que a do homem, não tendo sequer muitas vezes o poder de decisão sobre as suas próprias vidas, submetidas a pais, maridos e irmãos. Por conseguinte, o poder político, económico e religioso, foi-lhes vedado quase sempre e em quase todos os lugares ou, quando exercido, não teve o mesmo reconhecimento institucional que o dos homens. O tema continua a ser de atualidade, pois tanto na política, como na economia, na magistratura ou na religião, as mulheres continuam a ser minoritárias, em todos os países (ou mesmo excluídas), mesmo nos mais progressistas na sua legislação sobre a igualdade dos géneros. Isso porque Simone de Beauvoir continua a ter razão e a mulher continua a ser vista como alteridade em relação à norma – o homem: « La femme se détermine et se différencie par rapport à l’homme et non celui-ci par rapport à elle; elle est l’inessentiel en face de l’essentiel. Il est le sujet, il est l’Absolu : elle est l’Autre. »
A situação social da mulher melhorou muito ao longo do século XX, no entanto a luta social das mulheres continua, pois ainda não se conseguiu obter satisfação à mais emblemática e simples das reivindicações: “Salário igual para trabalho igual”. Com efeito, se se podem justificar os salários superiores dos homens pelo seu maior número com qualificações superiores e em postos de chefia, continua a haver uma média salarial inferior para as mulheres com uma diferença de ganhos importante inexplicada, tanto no setor privado como também no público. Assim, o acesso das mulheres ao poder tornou-se, pelo menos em aparência, uma meta social a atingir, símbolo de mudança progressista e esperança de uma mudança maior no sentido da igualdade.
Contudo a que nos referimos quando falamos de poder? Já referimos o poder político, económico e religioso, mas, ainda que importantes, estes não esgotam a noção de poder. A presença da mulher na sociedade e a influência que nela exerce revestem outras formas: exprimir-se publicamente, a expressão literária e artística, o poder de influência em variadíssimos domínios e ainda na única esfera a que o poder feminino é frequentemente associado ao longo da história e na maioria das culturas – a família e a casa.
A questão do poder é, pois, ambígua. Para se ter poder, tem que se poder imaginar tê-lo, como diz Virgílio “Eles podem porque pensam que podem” e à mulher esse pensamento esteve-lhe vedado durante muito tempo. Que ficou dessa negação ancestral do poder feminino? Soube adaptar-se e escolher outros caminhos, tortuosos, para o exercer? O poder exercido no feminino tem a mesma natureza que o poder exercido pelos homens? As mulheres desejam o poder? Para quê? Muitos dos estudos de sociologia sobre o tema revelam que a maioria das mulheres tem uma imagem negativa do poder, associando-o a solidão e a tramas e intrigas pouco dignificantes. Por outro lado, a mulher com poder ou desejo de poder é frequentemente malvista pela sociedade, contrariamente ao homem, e com necessidade de se justificar pela posição que ocupa. A sua vida privada é dissecada, a sua aparência é sobrevalorizada em relação às suas ações e as suas motivações não são vistas como nobres nem legítimas a não ser que se norteiem pelo sacrifício pela comunidade ou família.
Apesar de tudo, a história regista várias mulheres que, aproveitando de circunstâncias diversas e por força de vontade própria, conseguiram contrariar o destino e atingir o poder político, económico ou outro.
Neste colóquio internacional pretendemos tratar numa perspetiva transdisciplinar a questão da(s) mulher(es) e do(s) poder(es), ao longo da história e no presente, nos países de língua portuguesa.
Eixos a abordar:
- A mulher face ao poder (de estado, religioso, económico, masculino)
- Mulheres de poder
- A escrita (de mulher) como contestação ao poder
- A arte (realizada por mulheres) e o poder
- Empoderamento feminino e luta social de classes
- Vida privada e vida pública – o poder escondido
- O poder de influência
Comissão científica:
- João Paulo Costa (CHAM, Universidade Nova de Lisboa)
- Ana Maria Martinho (CHAM, Universidade Nova de Lisboa)
- Nazaré Torrão (CEL – Centre d’Études Lusophones e Unité de Portugais, Université de Genève)
- Alexander Keese (Département d’Histoire Générale, Université de Genève)
- Isabel Araújo Branco (CHAM, Universidade Nova de Lisboa)
- Maria Dávila (CHAM, Universidade Nova de Lisboa)