Quarta-feira, 18 de Setembro de 2024
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Convite à apresentação de artigos para o n.º 7, 3.ª série, de Biblos. Revista da FLUC

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Chamada para artigos, Literatura

Convite à apresentação de artigos para o n.º 7, 3.ª série, de Biblos. Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Dissidências

A dissidência compreende um largo espectro de atitudes, opiniões e comportamentos, vinculado a um desacordo de ordem conceptual, emocional ou de desempenho, relativamente a uma norma estabelecida. Os confrontos e os conflitos que dela decorrem propulsionam uma dinâmica que é tão instigante, pela acuidade das questões colocadas, como complexa, pela pluralidade dialética dos fatores envolvidos.

Já os antigos pensadores gregos sublinhavam o papel desempenhado pelas dissidências como sustentáculo da causa pública, reconhecendo na liberdade de debate a força da cidadania. A própria investigação, levada a cabo no domínio das ciências físicas e da natureza, se processa por entre um sistema de oposições não só de matriz conceptual e especulativa, mas também de ordem empírica, vinculado à diversidade de resultados experimentais inerentes à complexidade e à não linearidade do objeto de estudo. No campo da arte, uma ficcionalidade construída a partir de constelações dotadas de uma lógica alternativa plasma o atrito ou o choque entre a normatividade clássica e a sua contestação, entre cultura e contracultura, entre ortonímia e heteronímia. Também para a pedagogia, a publicidade ou, de um modo mais geral, para a comunicação, as dissidências se mostram tão apelativas que se erigem em elemento pragmático determinante. Por sua vez, é crescente, hoje em dia, a atração despertada por rotas turísticas diferenciais, que recusam caminhos já batidos, contrapondo-lhes quer a exploração do mundo selvagem e de culturas recônditas, quer a fruição de espaços exclusivos nelas mesmas recortados.

As formas através das quais a dissidência se manifesta vão do simples desapego até clivagens de tal modo profundas que levam à cisão. A crítica interna tem um eficaz valor estratégico quando dispõe de um espaço aberto ao diálogo e à coexistência judicativa de opostos que viabiliza a transformação. Diversamente, a ausência de condições para a criação de consensos catapulta a resistência, podendo forçar a exclusão, bem como a deserção. Nesse âmbito, o radicalismo perfila-se como consequência extrema da dissidência que renega o epifenómeno, por o considerar reducionista, centrando-se no combate ao sistema que o sustém. Desta feita, o conflito é afrontado nas suas raízes, com o objetivo de combater e erradicar o epifenómeno a partir dos seus fundamentos.

Em âmbito disciplinar, a dissidência infiltra o estrato epistemológico de todo o conhecimento, na diversidade das suas localizações. As descobertas científicas ou a história das religiões e dos movimentos religiosos, dos grupos ideológicos e das fações político-partidárias, das ideias literárias e dos movimentos sociais de libertação têm-se vindo a desenvolver, ao longo dos séculos, através de sucessivos confrontos e cisões. Na verdade, a dissidência é condição daquela alteração de perspetiva, de referência ou de paradigma, requerida pela inovação. A indagação do desconhecido germina no âmago da avaliação crítica do consenso, através do seu questionamento numa dimensão projectual.

A exposição da dissidência à esfera da pluralidade corre em paralelo com a sua vinculação à temporalidade, confluindo, nessa medida, com a ambivalência do carnavalesco e com as problemáticas que suscita. O desacordo crítico, por um lado, fragiliza o poder mas, por outro lado, o seu cariz efémero presta-se a reforçar a ordem pré-existente. Aliás, a instigação da dissidência e das suas bandeiras desde sempre foi terreno fértil para a reafirmação do constituído. A apropriação aparente ou abusiva de pólos dissidentes é uma das encenações mais eficazes da manipulação hegemónica.

Na era digital, a rede proporciona o debate alargado através de grupos de discussão que podem opinar sobre tudo e contrariar tudo, inclusive os discursos dominantes, numa troca de informação ao nível global. Contudo, o confronto ou a aproximação de opostos através do diálogo e a organização de formas de resistência transnacionais convivem com um imediatismo controlador da discórdia, no qual se infiltram a demagogia, o populismo e até programas de cooptação criminosa. A própria rede se inscreve numa clivagem silenciosa e submersa, a exclusão de quem a ela não tem acesso.

É aí que a interrogação acerca do como, do porquê e do onde mostra claramente o modo como as dissidências se podem elevar a sinal insigne das possibilidades do humano.

O próximo número da revista Biblos, o n.º 7 da 3.ª série, será dedicado ao tema Dissidências, a ser abordado à luz de diversas perspetivas disciplinares, no âmbito de várias temporalidades históricas.

Até 30 de setembro de 2020, a Direção de Biblos. Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra receberá artigos sobre esse tema, através da plataforma Open Journal Systems (http://impactum-journals.uc.pt/biblos/login).

Todos os artigos devem seguir as normas redatoriais da revista (Normas para autores http://www.uc.pt/fluc/investigacao/biblos/normas_autores/index) e serão submetidos à arbitragem científica de uma comissão formada por especialistas.

A atividade editorial da revista segue o Código de ética. Guia de boas práticas para editores de revistas da Universidade de Coimbra (Políticas editoriais http://www.uc.pt/fluc/investigacao/biblos/politicas_editoriais/index).

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