Domingo, 14 de Dezembro de 2025
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Comunicação e Literatura: Narrativas e Experiência Estética

Data de abertura: Data de encerramento: Países: Brasil

Chamada para artigos, Ciências da Comunicação, Literatura

As narrativas literárias configuram-se como potentes fontes de criatividade para a constituição de diversos produtos midiáticos contemporâneos. A partir da literatura, surgem roteiros cinematográficos, séries audiovisuais, adaptações para histórias em quadrinhos, livros de arte, produções musicais e uma ampla gama de expressões estéticas que transitam entre diferentes linguagens e suportes. Nesse contexto, esta chamada para a Revista Esferas propõe reunir reflexões, análises e investigações que se situem na interseção entre Literatura, Comunicação e Artes, em diálogo com as práticas culturais contemporâneas.

Ao considerar os encontros entre gêneros, linguagens, mídias e suportes, destaca-se a importância de compreender a Comunicação como instância mediadora das experiências humanas, das questões sociais e de gênero, bem como das dimensões políticas e históricas evocadas por obras literárias clássicas e contemporâneas. Assim, os deslocamentos e ressignificações de textos literários para outras linguagens — como o cinema, as artes visuais, a música e os ambientes digitais — tornam-se objetos relevantes para o debate acadêmico no campo da Comunicação e das Artes.

Essa perspectiva dialoga com a formulação de Jacques Rancière (2000), que afirma, em A partilha do sensível, que, no regime estético das artes, “[...] as coisas da arte são identifica­das por pertencerem a um regime específico do sensível. Esse sensível, subtraído a suas conexões ordinárias, é ha­bitado por uma potência heterogênea [...] O regi­me estético das artes é aquele que propriamente identi­fica a arte no singular e desobriga essa arte de toda e qualquer regra específica, de toda hierarquia de temas, gêne­ros e artes. Mas, ao fazê-lo, ele implode a barreira mimé­tica que distinguia as maneiras de fazer arte das outras maneiras de fazer e separava suas regras da ordem das ocupações sociais.” (Rancière, 2000, p. 32-33).

Assim, a retomada de narrativas clássicas — muitas vezes compreendidas como um enigma que atravessa gerações — reafirma o caráter dinâmico e mutável dos textos literários. Com base no que Barthes (2015) fala sobre o desejo criador que uma obra pode desencadear, pode-se dizer que, em cada texto literário, reside a potência para a criação artística ao infinito. Como bem observou Italo Calvino (2007), ao se referir à versão cinematográfica de A Cartuxa de Parma, de Stendhal, um romance pode, décadas depois, retornar para fascinar e seduzir novos públicos, de modos diversos. Autores como Dante Alighieri, Miguel de Cervantes, Franz Kafka, Clarice Lispector e João Guimarães Rosa têm suas obras constantemente revisitadas e transformadas em objetos de produções audiovisuais, exposições, filmes, espetáculos e diversas outras formas artísticas — uma multiplicação de imagens em direção ao que Rancière (2012) denomina “entrelaçamento lógico e paradoxal entre as operações da arte”.

Do ponto de vista teórico, a interseção entre literatura e comunicação torna-se central  na elaboração de pensamentos como o de Ciro Marcondes Filho, que, em seu conjunto de obras denominado Nova Teoria da Comunicação (publicadas entre 2000 e 2020), dedicou-se aos aspectos tanto ontológicos quanto contingentes dessa relação. Da mesma forma, Friedrich Kittler apresenta um dos pensamentos mais originais sobre a interface comunicação-literatura. Ao investigar a literatura germanófona dos séculos XVII e XVIII, Kittler localiza na figura materna a mídia corporal (a mãe é calor e é voz) que transmite as narrativas fundamentais para a formação humana no Ocidente. Além disso, cabe citar Vilém Flusser, leitor profícuo de Kafka e Guimarães Rosa, que afirmava que a língua cria realidade; por isso, via a literatura como parte privilegiada de um processo histórico (e também pós-histórico) no qual a narrativa tradicional se enreda em uma complexa rede de sinais, ritos, programas, materialidade, imaterialidade, sacralidade, códigos e aparelhos.

Da mesma maneira, a literatura mobiliza discussões que extrapolam as páginas dos livros, constituindo fundamentos epistemológicos centrais no campo comunicacional, bem como em formulações estéticas, como em questões sobre materialidade, modos de circulação e novas (ou revisitadas/reformuladas) poéticas, as produções literárias recentes muitas vezes não apenas levantam discussões e inspiram debates, mas também mobilizam diferentes linguagens artísticas já desde o desenvolvimento e nascimento da obra ou do produto comunicacional. Nesse contexto, o “caos das materialidades” é evidenciado pela dissolução dos limiares entre os fazeres artísticos.

Isso posto, o dossiê Comunicação e Literatura: Narrativas e Experiência Estética convida pesquisadoras e pesquisadores das áreas de Comunicação, Literatura, Artes e campos afins a submeterem artigos, ensaios e relatos de pesquisa que reflitam sobre os múltiplos diálogos entre os campos da literatura e da comunicação, investigando como os discursos literários e midiáticos se entrecruzam, se tensionam e se transformam no contexto da cultura contemporânea. Valorizam-se abordagens inter e transdisciplinares que explorem tanto os modos de circulação da literatura na mídia quanto os usos literários nas práticas comunicacionais.

Eixos temáticos sugeridos:
•⁠  ⁠Literatura nas mídias digitais e redes sociais
•⁠  ⁠Jornalismo literário e narrativas de não ficção
•⁠  ⁠Adaptações literárias no cinema, rádio, televisão e streaming
•⁠  ⁠Questões epistemológicas da interface comunicação-literatura
•⁠  ⁠Escrita de si e autobiografias em contextos midiáticos
•⁠  ⁠Estudos biográficos, documentais e autobiográficos
•⁠  ⁠Poéticas da oralidade e comunicações não-hegemônicas
•⁠  ⁠Intermidialidade e narrativas transmídia
•⁠  ⁠Literatura como forma de resistência comunicacional
•⁠  ⁠Estética da literatura e da comunicação
•⁠  ⁠Estudos pós-literários e narrativas audiovisuais seriadas

Editores responsáveis: 
Prof. Dr. Leandro Bessa (UCB)
Profa. Dra. Pamela Zacharias (USP)
Profa. Dra. Danielle Naves de Oliveira (UnB)
Prof. Ms. Rhaysa Novakoski (UnB)

Data limite para submissão: 15 de agosto de 2026. 
Período de avaliação: 16 de agosto a 15 de novembro de 2026. 
Previsão de publicação da edição: dezembro de 2026.

Link: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/esf/index

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