Sexta-feira, 26 de Abril de 2024
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Chamada para publicação da Cadernos CESPUC de pesquisa: "Saramago: amor e engajamento"

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Chamada para artigos, Literatura

Tema -  Saramago: amor e engajamento

Em 16 de novembro de 2022, demarca-se o centenário de José Saramago. A história literária e cidadã deste grande escritor  fundamenta o exercício de sua homenagem. Trata-se de momento propício para que se comemore sua longa vida, muito além dos seus 88 anos fisicamente ao nosso lado, bem como para que pensemos no amplo leque de temas que emanam de sua bela obra.  Consagrado internacionalmente, tendo recebido o Prêmio Nobel de Literatura em 1998, o autor português é uma personalidade ímpar, haja vista sua expressão ultrapassar a linha da produção literária e adentrar ao comportamento político, compromissado com a vida, segundo suas próprias palavras: “Temos de começar a uivar, comecemos a uivar.”(1). Esse compromisso com a vida tem lastro no comunismo, nas idéias de Karl Marx, o que ele assume fielmente: “Não sou um escritor comunista, o que sou é um comunista escritor, o que é diferente”, e ainda: “Existe uma coisa que eu chamaria de comunismo hormonal. É como se os hormônios determinassem que a pessoa tem de ser aquilo que ela é, que mantenha uma relação estreita com os fatos, com a vida, com o mundo, com a sociedade. É como um estado de espírito ou seus hormônios assim a definiriam para sempre. acho que é isso que acontece comigo em relação ao comunismo”(2).

Em suas obras, é expressiva essa manifestação marxista, qualquer que seja o assunto e o tema tratados, emanados de uma visão sempre ideológica. Pilar Del Rio, refletindo sobre o encontro leitor-autor das obras saramaguianas e tomando como objeto o percurso de suas criações, por ele denominado “Da estátua à pedra”, aconselha : “Pense que é o mapa da vida literária de José Saramago que você irá percorrer, e em sua companhia. Não importa: ocorre sempre nos momentos de amor...”(3).

O conselho não restringe seu recorte no processo autor-leitor, mas na própria ação-palavra saramaguiana. Em suas obras, encontramos  o amor em vários compartimentos. Por exemplo, ao homem trabalhador: “Nenhuma empresa do mundo pode estar por cima das pessoas que lá trabalham. É utópico, é idealista, mas é a única maneira humana de ver as coisas”(4); ao cão: “Perdido, o nome assenta-lhe bem, Há outro que lhe assentaria melhor, Qual, Achado, (...) Estava perdido e foi achado”(5);  à mulher: “As histórias de amor dos meus romances, no fundo, são histórias de mulheres, o homem está ali  como um ser necessário, às vezes importante, é uma figura simpática, mas a forma é da mulher”(6); à literatura: “A literatura é o que faz inevitavelmente pensar. É a palavra escrita, a que está no livro, a que faz pensar. E neste momento é a última na escala de valorees”(7); a Portugal: “Não sei até que ponto este país [Portugal] precisa de mim, mas sei até que ponto eu preciso dele. Este país agrada-me até aquilo que tem de menos bom. Há uma relação muito mais importante do que isso que se chama patriotismo; é uma relação carnal, de raízes”(8); entre casais: “Aprendi que o sentimento do amor não é mais nem menos forte conforme as idades, o amor é uma possibilidade de uma vida inteira, e se acontece, há que recebê-lo” (9); e tantos outros que pautam esse sentimento.

Tomando como sugestão o conselho da fiel escudeira de Saramago, a proposta do dossiê em pauta é reunir artigos e ensaios que investiguem os modos de tratar o amor na obra de José Saramago, sentimento tomado sempre em posição ideológica quer no que se refere aos comportamentos entre casais, quer em relação à pátria, à humanidade, à história, etc.

 

Notas

  • Saramago: “La CE, um eufemismo”, El Independente, Madri, 29 de agosto de 1987 [Reportagem a AntonioPuent]. In: Aguilera, Fernando Gómez (org.). As palavras de Saramago, São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p.353.
  • La Jornada, Cidade do México, 3/12/1998 [Entrevista a Juan Manuel Villalobos]. In Aguilera, Fernando Gómez (org.). As palavras de Saramago, São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p.364.
  • Saramago, José. Da estátua à pedra e discursos de Estocolmo. Belém: Ed.UFPA; Lisboa: Fundação Saramago, 2013, 14.
  • Uma certa idéia de Europa, Expresso, Lisboa, 7/08/1993 [Entrevisrta a Clara Ferreira Alves] In: Aguilera, Fernando Gómez (org) As palavras de Saramago, São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p.145
  • Saramago, José. A caverna, São Paulo: Cia das Letras, 2000, p.53
  • Juan Arias, Jose Saramago: el amor possibile, Barcelona, Planeta, 1998) In Aguilera, Fernando Gómez (org) As palavras de Saramago, São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p.266
  • (Gárzon Hizolo que debía”, Público, Madri, 20/11/2008 [Entrevista a Peio H. Riano]. In: Aguilera, Fernando Gómez (org.). As palavras de Saramago, São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p.185.
  • “José Saramago: El deber de ser português, El País (Suplemento El País Semanal, Madri, 23/04/1989 [Entrevista a Sol Alameda] In: Aguilera, Fernando Gómez (org.). As palavras de Saramago, São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p.99
  • Revista Máxima, 10/1990 In https://www.citador.pt/textos/o-amor-nao-tem-nada-que-ver-com-a-idade-jose-de-sousa-saramago

 
Organização:

Prof. Dr. Carlos Nogueira (Cátedra José Saramago, Universidade de Vigo)

Profa. Dra. Vera Lopes da Silva (PUC  Minas, coordenadora do grupo: Saramago, leitor de Marx)
 

Outras informações importantes:
1) Para acessar a revista: http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoscespuc/

2) Normas para submissão: http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoscespuc/about/submissions

3) Período de submissão:  01/12/2021 a 30/04/2022, pelo sistema eletrônico de
editoração de periódicos: http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoscespuc/

 

 4)  Idiomas: português e  inglês.
 5)  Previsão de publicação: julho de 2022

Referências:

BASTOS, Hermenegildo. A obra literária como leitura/interpretação do mundo. In: BASTOS, Hermenegildo; ARAÚJO, Adriana de F.B. (org.). Teoria e prática da crítica literária dialética. Brasília: Editora UNB,2011

REIS, Carlos. Diálogos com Saramago. Belém. Ed.UFPA.  2018.

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