Quarta-feira, 17 de Dezembro de 2025
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Chamada de Trabalhos: América Latina entre Modernidades e Colonialidades

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Chamada para artigos, Estudos Comparatistas, Literatura

Chamada em aberto para o primeiro número de "Frontería", Revista do Programa de Pós-Graduação em Literatura Comparada (PPGLC) da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA).

https://revistas.unila.edu.br/litcomparada

Narrativas de Tempos e Espaços: América Latina entre Modernidades e Colonialidades

Organizadores:
Alfredo Nava Sánchez (UFSJ)
Leo Name (UNILA)
Tereza Spyer (UNILA)

O chamado giro decolonial apresenta vasta literatura (LANDER, 2000; WALSH, 2005; CASTRO-GÓMEZ e GROSFOGUEL, 2007; MIGNOLO e ESCOBAR, 2010) que assinala que a modernidade é um projeto eurocêntrico, militar, político, social, cultural e pedagógico – iniciado com a invasão, em 1492, do que atualmente é o subcontinente latino-americano. Seus escritos, por isso, dão centralidade analítica à América Latina – em si mesma um conjunto de representações conflitivas (MIGNOLO, [2005] 2007) – e dizem não ser possível referir-se tão somente à “modernidade”: há uma “modernidade-colonialidade” impositiva de um pensamento único a respeito da superioridade europeia (BALLESTRIN, 2013). Principal conceito da abordagem decolonial, a “colonialidade do poder” (QUIJANO, 2000) refere-se às várias dimensões constitutivas do colonialismo e de seus legados e, mais especificamente, a uma classificação social associada à ideia de “raça”. A branquitude heterossexual e burguesa apresentou-se como universal e inventou seus Outros (MIGNOLO, [2007] 2008; ECHEVERRÍA, 2010): antes da invasão da América, não existia o negro nem o indígena escravos – identidades racializadas, geo-historicamente determinadas, as quais se associaram questões de gênero e classe (LUGONES, 2008). Nesse processo, povos e culturas foram considerados não só inferiores como anteriores: pertenciam a espaços não modernos e não civilizados e a outro tempo, o passado e do atraso.

A Literatura Comparada tem no comprometimento com o Outro o seu impulso primeiro, sua razão de ser e sua metodologia. Além disso, a diferença é sua grande categoria analítica (SCHIMDT, 2005, 2007). Contemporaneamente, o comparatismo vem tentando romper com as relações hierárquicas que impunha à produção de textos e à relação entre textos, além de promover diálogos com outras áreas do conhecimento e com outras artes (ALÓS, 2012) – arquitetura, audiovisual, fotografia, música, quadrinhos. Também vem tentando deixar para trás as marcas de dominação e subordinação de suas análises pregressas a respeito dos diferentes territórios, povos e culturas que produzem literaturas e artes. Nesse sentido, o olhar sobre a América Latina deve se aderir a um comparativismo contrastivo (PALERMO, 2017), percebendo a totalidade a partir de suas inúmeras diferenças, que potencialmente pode dialogar com os escritos mais recentes que se perguntam sobre o que seriam estéticas decoloniais (MIGNOLO, 2010), em oposição a artes e literaturas tão canônicas quanto moderno-coloniais e eurocêntricas.

Para compor o primeiro dossiê temático da revista Frontería, convidamos pesquisadoras e pesquisadores das mais variadas áreas do conhecimento a pensarem a produção literária em sentido amplo e como parte das geopolíticas do conhecimento (MIGNOLO e WALSH, 2003). Interessam-nos tanto as narrativas literárias e artísticas que ao descreverem o subcontinente latino-americano apontavam a superioridade da Europa e/ou do Ocidente quanto aquelas dos subalternizados latino-americanos que respondiam a esses ataques, defendiam seus territórios ou narravam os tempos e os espaços de existência e resistência.

Desta feita, sugerimos alguns dentre os inúmeros temas possíveis para os trabalhos a serem submetidos ao dossiê temático:

  • Tempos e espaços nas narrativas da modernidade-colonialidade na América Latina;
  • Tempos, espaços e as literaturas e as artes diaspóricas da América Latina;
  • Literaturas, artes e a invenção do Outro latino-americano: narrativas sobre povos inferiores e lugares sem história; sobre desenvolvimento, progresso e civilização etc.; 
  • Estéticas decoloniais e América Latina;
  • América Latina, narrativas de viagem e abordagem decolonial;
  • Literaturas, artes e seus cânones: o papel da América Latina na produção de centros e periferias artísticas;
  • Literaturas e artes de resistência da América Latina: cosmovisões não modernas, concepções outras de tempos e espaços, narrativas de resistência e insurreição.
  • Narrativas e memórias desde a ferida colonial na América Latina.
  • América Latina e o lugar de fala e o lugar epistemológico nas literaturas e nas artes.
  • Literaturas e artes na América Latina e narrativas das colonialidades do poder, do saber, do ser, do ver etc.
  • Literaturas, artes e geopolítica do conhecimento;
  • Narrativas sobre raça, gênero e classe na América Latina em abordagem decolonial.
  • Feminismos decoloniais: as lutas de mulheres na América Latina nas literaturas e outras artes
  • Transições e futuros decoloniais: literaturas, artes e transmodernidade.

REFERÊNCIAS

ALÓS, A.P. Literatura comparada ontem e hoje: campo epistemológico de ansiedades e incertezas. Organon, v. 27, n. 52, p. 17-42, 2012.
BALLESTRIN, L. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, v. 11, p. 89-117, 2013.
CASTRO-GÓMEZ, S. e GROSFOGUEL, R. (Orgs.). El giro decolonial. Bogotá: Siglo del Hombre Editores, 2007.
ECHEVERRÍA, B. Modernidad y blanquitud. México D.F.: Ediciones Era, 2010.
LANDER, E. (Org.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Buenos Aires: CLACSO, 2000.
LUGONES, M. Colonialidad y género. Tabula Rasa, n. 9, p. 73-101, 2008.
MIGNOLO, W.D. e ESCOBAR, A. (Orgs). Globalization and the decolonial option. Londres: Routledge, 2010.
MIGNOLO, W.D. La idea de América Latina. Barcelona: Geodisa Editorial, (2005) 2007.
MIGNOLO, W.D. Aiesthesis decolonial. Calle 14, v. 4, n. 4, p. 10-25, 2010.
MIGNOLO, W. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF, n. 34, p. 287-324, (2007) 2008.
MIGNOLO, W. e WALSH, C. Las geopolíticas del conocimiento y colonialidad del poder. Polis, n. 4, 2003.
PALERMO, Z. Diferencia epistémica y diferencia colonial. El rol del comparatismo contrastivo y de las hermenéuticas pluritópicas. Cuadernos del Hipogrifo, n. 8, p. 7-25, 2017.
QUIJANO, A. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: LANDER, E. (Org.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Buenos Aires: CLACSO, 2000.
SCHMIDT, R. T. Alteridade planetária: a reinvenção da literatura comparada. Revista Brasileira de Literatura Comparada, v. 7, p. 113-130, 2005.
SCHMIDT, R. T. A literatura comparada nesse admirável mundo novo. Revista Brasileira de Literatura Comparada, v. 11, p. 11-33, 2007.
WALSH, C. (Org.). Pensamiento crítico y matriz (de)colonial. Quito, UASB-Abya Yala, 2005.

 

Submissões: até 15 de dezembro de 2019.

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