Terça-feira, 23 de Abril de 2024
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Chamada de artigos: Dossiê Moda, Do-It-Yourself e Culturas Globais Digitais - revista dObra[s]

Início: Fim: Data de abertura: Data de encerramento: Países: Brasil

Chamada para artigos, Moda

Está aberta até 30 de julho de 2021 a chamada de artigos para o dossiê Moda, Do-It-Yourself e Culturas Globais Digitais a ser publicado na dObra[s]: revista da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda. 

Organização:

  • Maria Claudia Bonadio (Universidade Federal Juiz de Fora, Brasil)
  • Paula Guerra (Universidade do Porto, Portugal)

 

A partir de meados da década de 1970, a noção de cultura do-it-yourself (DIY) progrediu de um ethos de resistência à indústria da música mainstream, centrado no punk, para uma estética mais amplamente endossada que sustenta uma ampla esfera de produção cultural alternativa (Bennett, 2018; Guerra, 2017). Embora não evitando preocupações contra-hegemónicas, esta transformação do DIY no que razoavelmente se poderia chamar uma “cultura alternativa” global também o viu evoluir para um nível de profissionalismo que visa assegurar a sustentabilidade cultural e, sempre que possível, económica. A neste ensejo, a moda prefigura-se como um domínio artístico crucial de abordagem da cultura contemporânea.

Vejamos a história: o contacto inicial com o punk efetuava-se, grosso modo, através das bandas e dos média musicais. Com isto emergiu uma indumentária, que dependia de um saber-fazer DIY, bem como de compras nas poucas lojas de roupa disponíveis e de encomendas por correio. Assim, em locais de pequena dimensão, o fluxo de informações sobre moda dependia de um conjunto de espaços, como bares e discotecas. Os jovens iam ver bandas punk e isso fornecia-lhes um padrão que podiam imitar. Outra fonte de informação eram revistas, em que era possível, primeiro, encontrar fotos de punks e retirar daí ideias e influências; segundo, nestas revistas existia publicidade a roupa e acessórios punk (Cartledge, 1999). Tudo isto fazia com que a moda punk local crescesse e se modificasse. Mas sempre ligada com um sistema cultural mais amplo. Cartledge (1999) postulou cinco fases da moda punk: em 1975, experimentava-se um estilo pré-punk, influenciado por David Bowie e Roxy Music, e por experimentações DIY; entre 1975-1978, o foco orientou-se para um estilo exclusivo de Londres e de lojas como a Sex e Seditionaries; entre 1976-1979, emergiu um estilo dark urbano que coexistiu com o anterior, baseado em experimentações e alterações DIY, como sandálias de plástico, t-shirts feitas em casa com slogans ou nomes de bandas, roupa militar, etc.; de 1979 em diante, na indumentária punk mais conhecida, em parte derivada da indumentária rock, assume proeminência o casaco de cabedal, Dr Martens e calças bondage, entre outras coisas; de 1980 em diante, praticamente a mesma coisa que o ponto anterior, apenas com moicanos cada vez mais exagerados, piercings e modificações corporais mais extremas, bem como um estilo mais marcado por doutrinas políticas.

Durante precisamente os anos 1980, a desindustrialização no Norte Global contribuiu ainda mais para a prevalência de discursos DIY na música, nas práticas culturais e estilísticas associadas num sentido global mais amplo. Da mesma forma, a facilidade com que os jovens, e na verdade as gerações posteriores, podem ver a moda e outras práticas criativas como ocupações viáveis também evoluiu globalmente, muitas vezes em conjunto com um código de política e prática cultural DIY fortemente articulado. Esta evolução da cultura DIY num sentido global mais amplo é extremamente significativa, sobretudo devido à demonstração do DIY como uma linguagem de ação e intenção mais comummente adotada por um conjunto cada vez mais amplo de produtores culturais e seus públicos (Bennett & Guerra, 2019).

Outrora utilizado como meio de denotar bolsas de resistência às formas tradicionais de música e à produção cultural, o DIY tornou-se agora sinónimo de um ethos mais amplo de política de estilo de vida que une as pessoas em redes de produção cultural alternativa e translocal. No mesmo período, a rápida emergência da tecnologia digital criativa, embora não democratizando o processo de produção cultural num sentido universal, dadas as implicações de custo envolvidas na aquisição dessa tecnologia para uso pessoal, tornou mais fácil para um número crescente de pessoas – incluindo jovens – obter os meios para criar e divulgar os seus próprios produtos culturais, nomeadamente moda. Como isto sugere, o efeito combinado de tais mudanças socioeconómicas e tecnológicas tem ramificações significativas na posição e estatuto do DIY como discurso cultural e prática cultural na era pós-industrial. Artigos, entrevistas e resenhas que tratem das temáticas acima mencionadas serão bem-vindos. Estão todos/as convidados/as a participar.

Prazo para envio de artigos: 30 de julho de 2021

Previsão de publicação: abril de 2022.

Mais detalhes: https://dobras.emnuvens.com.br/dobras/announcement/view/1


A dObra[s] é uma revista científica publicada desde 2007 pela Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda (Abepem). Veicula artigos científicos, resenhas, entrevistas e traduções que tratem de assuntos relacionados a moda, design, consumo, arte e suas interfaces com múltiplas áreas do conhecimento, como a Antropologia, a Comunicação, a História, o Marketing, a Sociologia, a Linguística e a Literatura. Além de trabalhos direcionados aos dossiês, a revista também recebe textos em fluxo contínuo.

Para mais informações sobre a revista, para conhecer as chamadas de trabalho vigentes e para leitura das edições já publicadas, acesse https://dobras.emnuvens.com.br/dobras.

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