Terça-feira, 30 de Abril de 2024
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Chamada da revista Jangada: "Tecendo fios entre a literatura e a canção popular brasileira"

Data de abertura: Data de encerramento: Países: Brasil

Chamada para artigos, Literatura, Música

As  relações entre música e literatura, mais especificamente entre canção e literatura, têm sido amplamente investigadas no âmbito da crítica literária. Indaga-se, nesse sentido, se a forma “canção” poderia ser analisada por meio das mesmas ferramentas teórico- metodológicas mobilizadas no estudo da palavra literária. Assim, existiria literariedade na canção? A palavra literária poderia ser musicada, cantada? Quais as consonâncias e dissonâncias entre ambas? Como a música atravessa a construção de sentidos da palavra cantada? José Miguel Wisnik, um dos mais destacados pesquisadores dos cruzamentos entre canção e literatura, não tem se esquivado de responder essas e outras questões que dizem respeito às intersecções entre elas. Em seu emblemático livro Sem receitas (2004) o autor afirma que a canção popular é uma maneira singular de pensar sobre o Brasil. Gestada nas fronteiras entre o popular e o erudito, entre a cultura oral e a letrada, a canção brasileira no século XX é marcada pelo hibridismo, ressalta o crítico.

Considerando as múltiplas faces do hibridismo que compõem a canção popular brasileira, a literatura brasileira e, de modo amplo, a chamada cultura brasileira, o objetivo desta convocatória é elucidar as imbricações entre a palavra cantada e a palavra escrita, entre os versos musicados e os versos do poema. São bem-vindas, nessa esteira, propostas que se abram à reflexão acerca das teias que aproximam e distanciam canção e literatura na obra de compositores que têm promovido o trânsito por elas, tais como: Antonio Cicero, Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Vinicius de Moraes, entre outros. Oferecemos, nesse sentido, destaque à obra de Chico Buarque de Hollanda, simplesmente “Chico” no universo cultural da música popular brasileira. Chico, desde sua pouco conhecida novela de estreia, Fazenda modelo (1974), tem descortinado outra faceta de sua verve artística: a de narrador. De lá para cá, tem feito jus à figura do artista multifacetado, polígrafo, que, sendo compositor de genuínos monumentos do cancioneiro brasileiro, entregou-se também à tarefa de “narrar o Brasil”. Suas narrativas, como bem tem pontuado a crítica (Massi, 2009, Moraes, 2009, Schwarz, 2009), numa espécie de atualização do espírito machadiano, têm desnudado, veementemente, a desfaçatez de classe das camadas dominantes do país. Seus textos, singulares em sua especificidade de obra, colocam em primeiro plano os conflitos constitutivos da formação social brasileira. Não obstante, elaborar as tensões e contradições que atravessam as relações sociorraciais não é sinônimo na pena buarquiana de sociologização da literatura, mas da formalização das questões prementes que dão corpo à nossa vida social. O realismo pueril comum nessa modalidade de literatura cede espaço aqui à abertura para uma linguagem que, ao interrogar o mundo, interpela antes a si mesma. Sendo assim, deparamo-nos com universos narrativos nos quais a fragmentação do texto, a intersecção entre o dito e o não dito, as lacunas da memória, as complexidades discursivas etc. são apenas algumas das marcas dessa poética.

Diante do exposto, convidamo-los a submeterem textos que abordem as relações entre a esfera da canção e a da literatura nos compositores sugeridos e em outros que transitem entre esses dois universos, bem como na multifacetada produção literária e musical de Chico Buarque. Desse modo, serão aceitos trabalhos que iluminem os seguintes eixos:

  • A elaboração do racismo na canção popular brasileira;

  • A literariedade da canção popular brasileira;

  • Reflexões sobre as contradições sociais na canção popular brasileira;

  • As intersecções entre a literatura e a canção;

  • Marcas do feminino na canção popular brasileira;

  • O autoritarismo no Brasil em perspectiva histórica e na contemporaneidade na canção popular brasileira;

  • A literariedade do rap - protesto ritmado, canção ou literatura?;

  • A canção política no cancioneiro buarquiano;

  • A desfaçatez de classe da burguesia brasileira na obra buarquiana;

  • A construção da memória na narrativa buarquiana;

  • A dicção feminina no cancioneiro buarquiano;

  • Os conflitos sociais do Brasil contemporâneo (“normalização” do discurso de ódio, exclusão social etc.) na obra buarquiana;

  • A construção do narrador em distintos gêneros (conto, novela, romance etc.) na obra buarquiana;

  • A narrativa breve de Chico Buarque e o Brasil de hoje, desvelado em Anos de chumbo e outros contos.

Serão aceitos artigos redigidos em português, espanhol, francês e inglês. Os textos deverão ser submetidos até 30 de março de 2024 pelo sistema da Revista Jangada: https://www.revistajangada.ufv.br/Jangada/index

Todos os artigos deverão seguir as diretrizes de formatação e extensão da revista disponíveis no endereço:

https://www.revistajangada.ufv.br/Jangada/about/submissions

Qualquer dúvida, não hesite em escrever para: revistajangada@ufv.br

Prof. Dr. Jader Muniz – (UFAC)

Prof. Dra. Rafaela C. Procknov - (IFSP)

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