Chamada da Revista Caletroscópio "Texto, templo e tempo de Minas: a literatura mineira em questão"
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Chamada da Revista Caletroscópio (UFOP)
Dossiê: "Texto, templo e tempo de Minas: a literatura mineira em questão"
Editores do Dossiê: Prof. Dr. Alexandre Agnolon e Prof. Dr. Emílio Carlos Roscoe Maciel
Convidamos os pesquisadores a refletir sobre uma (im)possível literatura mineira, sobre escritores e críticos de passagem por Minas, sobre as inflexões dessa paisagem em outros territórios, cartografias, regiões de pensamentos. Afinal, em 2020 completam-se 300 anos do Estado, e a literatura, aqui desenvolvida desde o período colonial, com sua história de riquezas e de exploração, remontam à fundação do que entendemos, tragicamente ou não, como nação.
“É importante viver a experiência da nossa própria circulação pelo mundo, não como uma metáfora, mas como fricção, poder contar uns com os outros”. A frase é de Ailton Krenak, autor indígena que pede, em outro momento, para atentarmos para a complexidade de Minas Gerais, convidando-nos a sermos mais Gerais e menos Minas.
O pedido diz respeito ao cuidado ambiental e à percepção dos diferentes modos de vida dessa ampla região e mostra a importância de viver nossa presença no mundo como atrito, fissura, dissenso, e também como variação, transformação. Guimarães Rosa, escritor da errância, colocando a língua em rotação, mostrou que o morro e as grutas falam e nos fazem lembrar “do que nunca soube”. Poetas que por aqui passaram, escutando e observando os ecos do barroco – essa língua excessiva e tortuosa – , fizeram circular os modernismos: a caravana de 1924, liderada por Mário de Andrade e Oswald de Andrade, decididos a assistir a Semana Santa em Minas, seguiram os passos de Aleijadinho até Congonhas, e acabaram por conhecer o movimento modernista de Drummond. Na poesia deste itabirano, inclusive, o sujeito, constantemente interpelado por tudo aquilo que lhe escapa, circula imaginariamente pelo mundo sem que sua Itabira deixe seu campo de visão. Comparável àqueles escritores estrangeiros como Georges Bernanos e Elizabeth Bishop, que, mesmo tendo o mundo à frente, escolheram viver em cidades pequenas de Minas Gerais, misturando o tropical aos seus respectivos estilos.
Mas, afinal, como este estado tão rural quanto moderno, intimista e propulsor, se inscreve na literatura daqueles que o escrevem, à medida que o criavam, dando unidade à diversidade? De fato, é possível olhar de diferentes ângulos esta paisagem angulosa, a confundir observador e observado, conterrâneo e estrangeiro, sujeito e minério: de maneira submersa, como faz a poeta contemporânea Ana Martins Marques, ou no corpo presente que entoa os cantos de Congado, interrompendo-se na drummondiana pedra ou seguido vertiginosamente nas veredas rosianas. É esta história que se deseja escrever e questionar neste dossiê temático: a literatura que se ancora em Minas Gerais (feita sobre ou em ou contra ou por) e as produções que atravessam essa espacialidade, incluindo aí a crítica e a teoria literária, tão potentes e desafiadoras quanto o melhor das literaturas gerais.
A revista receberá artigos para o Dossiê, assim como artigos de temática livre, resenhas e traduções até o dia 25 de janeiro de 2021. Os textos – que aprovados em parecer duplo-cego – serão publicados em julho de 2021.
Mais informações: https://periodicos.ufop.br/pp/index.php/caletroscopioE-mail: revistacaletroscopio@gmail.com