A terceira edição da escola Internacional Ces Summer Schools terá como tema Epistemologias do Sul: lutas, saberes e ideias de futuro e acontece de 22 a 30 de junho, em Curia, Portugal. As inscrições estão abertas a estudantes, artistas, académicos, profissionais e ativistas interessados em participar de "um espaço desafiador de aprendizagens mútuas para a descolonização do pensamento e a luta contra o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado¨. O prazo máximo de inscrição é o 1º de Fevereiro de 2017.

Eixo temático

Esta edição do Ces Summer Schools contará com a presença de Boaventura de Sousa Santos, autor da proposta epistemológica que dá seu nome ao curso além de pesquisadores do projeto Alice e outros oradores convidados que dialogam com os temas e perspetivas em discussão. Entre estes últimos está o renomado filósofo, pensador político e músico Lewis Gordon, juntamente com artistas e ativistas que desafiarão e ampliarão a maneira como pensamos e sentimos o mundo. Semelhante ao que aconteceu durante as edições anteriores, os participantes formarão um grupo com diversas origens em termos de geografia, experiências e conhecimentos.

Como afirma Boaventura, vivemos numa época em que a agressividade do capitalismo global neoliberal tem sido especialmente evidente, um tempo de crescente polarização entre o mundo do medo sem esperança e o mundo da esperança sem medo. Cada vez mais impressionante em todo o mundo é o confronto com todo um tipo de violências e indignidades resultantes da extrema pobreza; desemprego; desastres ambientais e extração de recursos predatórios; Violência em nome da raça, género, orientação sexual ou deficiência; Dos fundamentalismos religiosos, a imposição de estados de emergência, políticas anti-imigração, etc. Ao mesmo tempo, grupos sociais cada vez mais confinados acumulam poder económico, social e político. Se a polarização vem de longe, é agora mais evidente. A incerteza entre o medo e a esperança.

Durante a primeira década deste milénio, o Sul global foi um espaço de esperança. Nos últimos tempos, em muitos lugares, as lutas ofensivas pelo desenvolvimento da democracia, a expansão dos direitos e da participação, deram lugar a lutas defensivas, que visam impedir a perda dos direitos alcançados. Os problemas modernos (liberdade, igualdade, fraternidade) estão cada vez mais longe de serem resolvidos por soluções modernas (revolução e reformismo). O Norte global está numa encruzilhada, sem soluções para os problemas do mundo, sem soluções para seus próprios problemas. Precisamos de outra ética, outra política e uma imaginação epistemológica considerável para enfrentar esses desafios.

Nesse contexto, as epistemologias do Sul surgem para pôr em causa a centralidade hegemónica do projeto da matriz eurocêntrica moderna e apostar na implementação de uma perspetiva radical que promova a justiça cognitiva e a justiça social. A partir de um diálogo Sul-Sul e Sul-Norte, denuncia a dominação epistemológica colonial que leva sistematicamente à supressão de saberes inconsistentes com o cânone científico definido pela modernidade ocidental e promove o reconhecimento de saberes nascidos de lutas sociais contra a opressão e a discriminação causadas por Capitalismo, pelo colonialismo e patriarcado para o estabelecimento de relações horizontais e o enriquecimento mútuo entre vários conhecimentos.

 Epistemologias do Sul baseiam-se em quatro suposições:

1. Que a compreensão do mundo é muito mais ampla do que a compreensão ocidental do mundo;
2. Que não faltam alternativas no mundo. O que realmente falta é um pensamento alternativo de alternativas;
3. Que a diversidade epistémica do mundo é infinita e nenhuma teoria geral pode esperar compreendê-la;
4. Que a alternativa a uma teoria geral é a promoção de uma ecologia dos saberes combinada com a tradução intercultural.

Mais informações através do e-mail alicesummerschool@ces.uc.pt e na página do Ces Summer School 2017.