Domingo, 01 de Setembro de 2024
Congressos

Colóquio internacional “Apreender o fim (Mundos românicos, sécs. XIII-XXI)”

Início: Fim: Data de abertura: Data de encerramento: Países: França

Chamada para trabalhos, Ciências Humanas, Estudos Românicos

Chamada para trabalhos

Colóquio internacional
Apreender o fim (Mundos românicos, sécs. XIII-XXI)”
21, 22 e 23 de Maio de 2025

Universidade de Lille – CECILLE - GERiiCO
Maison de la Recherche (Campus Pont-de-Bois)


Esta manifestação científica internacional, que decorrerá na Universidade de Lille, de 21 a 23 de Maio de 2025, não se inscreve numa ótica de fim dos tempos ou de apocalipse. O seu objetivo é questionar o tempo do fim, “o tempo que resta” antes do final derradeiro, ou seja, antes do “fim” propriamente dito.

Antes de mais, convém lembrar que as línguas românicas não exprimem o fim de maneira idêntica, mesmo se, atendendo à sua origem diacrónica comum, todas elas herdaram um breve significante que poderíamos considerar destinado a cobrir exatamente o mesmo conceito (francês: la fin, espanhol: el fin, português: o fim; italiano: la fine; catalão: la fi...). Com efeito, o lugar atribuído a estes substantivos no léxico de cada uma destas línguas é diferente e pode entrar em oposição com um outro derivado (espanhol: fin vs. Final), formando assim um par que joga com a espessura atribuída ou não ao momento em questão e ao ângulo de observação adotado. Daí a escolha de verbos alternativos para exprimir a ideia de fim (espanhol e português: terminar, acabar). Nas locuções adverbiais, o fim é pensado de diferentes maneiras: como o que “vem depois”, o que está “no termo” de um processo (catalão: al cap i a la fi, português: ao fim e ao cabo, espanhol: al fin y al cabo), o fim, de finis, estando etimologicamente associado às estacas cravadas no solo para delimitar um território… Por outras palavras, o léxico e a fraseologia do fim revelam os diferentes prismas através dos quais esse mesmo fim é apreendido nas línguas românicas.

Nas áreas (Itália, Espanha, Portugal, América Latina, França, etc.) de especialidade em que trabalhamos (linguística, comunicação, literatura, história, artes), “o fim” não designa necessariamente um momento preciso, o da morte e do silêncio. Este tempo do “fim” - que encerra uma era, uma época, um ciclo, uma existência, um domínio de atividade... - possui uma duração mais ou menos longa, repleta de contradições, tendendo para uma conclusão expectável ou esperada, temível ou terrível, à qual não o indivíduo não se resigna.

Este colóquio organiza-se em torno de três eixos:

1. Um fim que não acaba?

Da Idade Média, com os seus contos e narrativas que suspendem provisoriamente a angústia das epidemias e da morte, ao nosso século, fascinado pelas ficções do “fim de...”, o nosso objetivo será de, evitando o esquema arcaico e habitual do declínio ou o topos retrógrado da decadência, estudar as questões relacionadas com o “fim” e com o “tempo que resta” nas narrativas históricas e nas obras literárias ou artísticas que o relatam.

O discurso sobre o fim da informação merecerá uma especial atenção. Quer se trate do fim dos jornais de informação geral (Bernard Poulet, 2011) ou do fim do jornalismo científico, estes dois grandes domínios que são o jornalismo e a edição científica estarão no centro do debate no que toca à sua função, transformação e futuro. A “morte da informação” (Albert du Roy, 2007), o fim da edição científica (Savage 1992, Chérifa Boukacem Zeghmouri, 2021) são temas discutidos, há mais de trinta anos, tanto por profissionais do jornalismo como por investigadores. Trata-se, portanto, de um fim “que não acaba de findar”, de uma resistência de velhos modelos e da emergência de novas formas que a revolução digital não consegue suplantar.

Que formas híbridas é que se estão a desenvolver? O que é que desaparece e o que é que permanece? Quais são as consequências desta “crónica de uma morte anunciada” da informação, para retomar o título do famoso livro de Gabriel García Márquez Márquez?

2. Representar os fins de vida

Se é verdade que a perceção da morte tem variado ao longo do tempo (Philippe Ariès, 1977), até se tornar tabu nas nossas sociedades contemporâneas, ela conheceu, sobretudo a partir dos anos 2000, segundo Michel Vovelle, “mudanças profundas e decisivas, nomeadamente no que toca aos dispositivos de fim de vida das mulheres e dos homens, questão que se tornou primordial”. Tal realidade deve-se em grande parte ao envelhecimento acelerado das nossas sociedades, com o aumento das doenças degenerativas, por exemplo Alzheimer, que substituíram o medo incarnado outrora pela peste, a cólera, a sífilis, mais tarde pela tuberculose e hoje em dia pelo cancro.

O homem procurou desde sempre agir sobre o desastre que constitui a morte. Recordem-se, a propósito, os manuais da boa morte (ars moriendi), cuja publicação se estendeu do século XV ao início do século XVIII, descrevendo as várias tentações que espreitam o moribundo e oferecendo soluções para garantir uma saída “bem sucedida” da vida e consequente entrada no Paraíso.

Hoje em dia, o medo é outro: o receio de um declínio incontrolado e a recusa da manutenção em vida a todo o custo são invocados para reivindicar o direito à morte com assistência médica, uma questão ainda polémica em vários países das áreas românicas.

Se não há dúvida de que o fim de vida se integra atualmente num “movimento de valorização da dignidade do paciente em fase terminal, enquanto ser que sofre, no decurso da sua derradeira travessia” (Michel Vovelle), os desafios levantados pela gestão desta fase final da vida não são apenas de natureza médica, económica ou social. A forma como encaramos o nosso fim acarreta questões antropológicas, filosóficas, políticas, éticas, sobre o próprio significado que atribuímos à vida.

3. Apreender o fim do vivente

Atualmente, um dos fins mais debatidos e receados é nada mais nada menos do que o fim do vivente, ou seja, o fim de todas as espécies, vegetais e animais, incluindo a espécie humana.

Embora haja quem não queira reconhecer as alterações climáticas, causadas pelo “papel nefasto da nossa civilização na destruição de uma série de equilíbrios fundamentais, quer através das emissões de CO2, quer através da manipulação genética dos recursos agrícolas” (M. Vovelle), podemos constatar em toda a nossa volta que a natureza está a definhar e a morrer. Fala-se cada vez mais de “ecocídio”, como o resultado extremo do impacto humano sobre o meio ambiente - um impacto tão grande e de tal forma inédito que foi mesmo cunhado um termo - “Antropoceno” - para designar a era em que os seres humanos se tornaram no principal fator de mudança da própria geologia da Terra.

O ser humano passou a ser também vítima: a sexta grande extinção atualmente em curso e a destruição acelerada dos ecossistemas têm consequências reais, ameaçando o nosso bem-estar, a nossa alimentação e, em última análise, a nossa própria sobrevivência enquanto espécie. A eco-ansiedade, o medo crónico da catástrofe ambiental, tem consequências psicológicas, sobretudo ao nível das novas gerações.

Pensar a noção de “fim” a partir destes diferentes ângulos pressupõe, antes de mais, efetuar uma análise crítica acerca das categorias da filosofia da história, da bioética, do direito ambiental... Assim sendo, serão privilegiadas as comunicações que proponham uma visão panorâmica e cruzada destas diversas áreas de investigação e que mobilizem um corpus efetivamente ligado aos debates em torno dos diferentes “fins” acima referidos, dando a ver o modo como estes são representados nas obras literárias e artísticas do mundo românico.


As comunicações podem ser apresentadas em espanhol, italiano, francês ou português.

Os oradores deverão fornecer um resumo em francês para ser distribuído ao público presente.

Calendário :

  • 15 de outubro de 2024: data limite para envio das propostas de comunicação (Apprlafin@gmail.com): título, resumo de 300 palavras no máximo, nota biográfica de 100 palavras no máximo.
  • 15 de novembro de 2024: comunicação das decisões de aceitação das propostas aos autores.
  • 21, 22, 23 de maio de 2025: colóquio internacional na Universidade de Lille.
  • 15 de outubro de 2025: anúncio da avaliação aos autores.
  • Início de 2026: envio do ficheiro geral ao editor para publicação dum volume coletivo.

Comissão científica:

  • Graça Dos Santos, Université Paris Nanterre, CRILUS
  • Ruth Fine, Estudios Ibéricos y Latinoamericanos del Departamento de Estudios Románicos y Latinoamericanos, Université Hébraïque de Jérusalem
  • Céline Frigau Manning, Université Jean Moulin, Lyon 3, UMR IHRIM
  • Christophe Mileschi, Université Paris Nanterre, CRIX
  • Michel Riaudel, Sorbonne Université, CRIMIC
  • Juan Diego Vila, Universidad de Buenos Aires

Consulte a chamada completa em anexo.

Imagem: Ars moriendi (Wikimedia, detalhe)

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