Quinta-feira, 28 de Março de 2024
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Revista Compendium abre chamada n.º 3: Humanidades Digitais e Diversidade Cultural

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Chamada para artigos, Estudos Comparatistas, Humanidades Digitais

Chamada para Trabalhos N.º 3: Humanidades Digitais e Diversidade Cultural: Aproximações Críticas e Comparativas

Prazo para o envio dos artigos: 31 de Janeiro de 2023

 

Editores:
Santiago Pérez Isasi (Centro de Estudos Comparatistas, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)
Patricia Murrieta Flores (Digital Humanities Centre, Lancaster University)

A Compendium está a receber artigos para o terceiro número, dedicado ao tópico Humanidades Digitais e Diversidade Cultural: Aproximações Críticas e Comparativas. O objetivo deste número é reunir reflexões críticas sobre a configuração científica, cultural e geopolítica das Humanidades Digitais e os tratamentos dados neste campo à diferença e à diversidade cultural. São bem-vindas contribuições que tomem em consideração os fundamentos académicos, económicos ou ideológicos da área, bem como os seus efeitos na seleção de objectos, objectivos e metodologias; mas também, que apresentem e discutam criticamente experiências práticas de projectos com uma perspectiva transnacional, multilingue ou relacional.

Desde os seus primeiros passos como Humanities Computing, as Humanidades Digitais atravessaram diferentes etapas e transformações: após uma fase inicial de projectos individuais ou de pequena escala, e uma segunda marcada pela colaboração, a digitalização maciça, a estandardização e a aparição do conceito de big data, podemos estar neste momento a assistir ao que Andreas Fickers denomina “vaga reflexiva” das Humanidades Digitais. De facto, apesar de existir, desde os seus primeiros anos, uma corrente de pensamento crítico no seio das Humanidades Digitais (veja-se, por exemplo, a série de volumes Debates in the Digital Humanities), a reflexão sobre os alicerces epistemológicos, a configuração geopolítica ou as implicações ideológicas da disciplina tornaram-se particularmente visíveis nos últimos anos.

Um dos aspectos que ainda carecem de uma particular atenção crítica é a relação (e, muitas vezes, a ausência de relação) das Humanidades DIgitais com o Comparatismo, isto é, com uma conceptualização transnacional, diversa e relacional da cultura. Em primeiro lugar, porque as HD continuam a ser definidas e dominadas pelo Norte geopolítico, e particularmente pelo eixo académico anglo-cêntrico, o que limita e condiciona os seus objectos, interesses e metodologias. Procurando contrariar esta tendência, os últimos anos testemunharam o desenvolvimento das Humanidades Digitais do Sul (Fiormonte & Sordi 2019, del Río Riande & Fiormonte 2022), através da criação de redes alternativas (tais como DHARTI, REDHD, DHASA) ou de publicações como Las Humanidades Digitales en América Latina (no prelo) ou Mapping Digital Humanities in India (Sneha 2016). 

Em segundo lugar (e de forma paradoxal, dada a sua natureza transnacional e colaborativa), as HD adoptaram ou herdaram em muitos casos um marco de trabalho nacional ou monolingue, particularmente em relação aos seus objectos e aproximações. Esta tendência é visível tanto na configuração de muitas associações de HD que se definem por limites linguísticos ou geopolíticos (e.g. Humanidades Digitales Hispánicas, Canadian Society for Digital Humanities, European Association for Digital Humanities), quanto na conceptualização da maioria dos projectos de HD, localizados num único âmbito linguístico ou cultural. Isto poderia responder, pelo menos parcialmente, a condicionamentos técnicos (pois cada língua e cada cultura possuem os seus próprios dicionário, gramática, arquivo, etc.); mas poderia também derivar de inércias científicas herdadas pelas Humanidades Digitais das Humanidades em geral. Apesar de um conjunto de esforços importantes (veja-se, por exemplo, Horvarth 2021; Spence & Brandão 2021; Raynor 2021), há ainda uma clara falta de projectos que explorem as potencialidades comparativas, relacionais ou transnacionais das HD, ou que trabalhem com arquivos multilingues ou multiculturais.

Por último, a maioria dos desenvolvimentos tecnológicos reflecte uma visão ocidental/europeia do mundo, e as ferramentas e os métodos computacionais, especialmente aqueles relacionados com a Inteligência Artificial, foram tradicionalmente desenvolvidos e treinados com línguas e materiais europeus modernos. Cosmovisões subalternas foram, portanto, raramente integradas nos modelos ontológicos, nos marcos conceptuais digitais ou nos métodos e desenvolvimentos tecnológicos. De facto, propostas bottom-up que integrem as vozes e as visões dessas comunidades raramente estão presentes nas HD.

Neste número da revista Compendium, pretendemos reunir textos que reflictam criticamente sobre estes aspectos: as bases geopolíticas, ideológicas e económicas das HD e a sua relação com os objetos linguísticos e culturais que privilegiam ou ignoram; e, também, o potencial das HD para promover projectos transculturais, comparativos ou relacionais, focando, por exemplo, questões de tradução, mediação, influência ou imitação para além de fronteiras, através de, por exemplo, a criação e o estudo de corpora multilingues.

Alguns dos tópicos que desejamos explorar neste número incluem:

  • Reflexões críticas sobre as Humanidades Digitais e a diversidade cultural

  • As desigualdades no seio da disciplina das HD

  • Marcos conceptuais e tecnologias subalternas

  • As HD e o património cultural ameaçado

  • Linguística de corpus multilingues

  • Processamento de linguagem natural em línguas não ocidentais

  • Humanidades Digitais e Estudos de Tradução

  • Métodos digitais e Comparatismo

  • Humanidades espaciais multilingues e transnacionais

São especialmente bem-vindas propostas que incidam sobre tópicos que ultrapassem as fronteiras do mundo ocidental, bem como propostas de doutorandos e investigadores independentes ou em fase inicial de carreira. Os artigos apresentados podem ser escritos em português, inglês, espanhol ou francês, e devem ter entre 6.000 e 8.000 palavras, incluindo notas, referências, um resumo de 150 a 250 palavras e 4 a 6 palavras-chave. Os autores devem seguir as normas de formatação indicadas em Instruções para os Autores. Os artigos serão acompanhados de um segundo documento contendo uma breve nota biográfica do/a autor(a), até 150 palavras.

Qualquer questão ou mostras provisórias de interesse poderão ser enviados aos editores, Santiago Pérez Isasi (santiagoperez@campus.ul.pt) e Patricia Murrieta Flores (p.murrieta@lancaster.ac.uk)

Submissão em linha: para efectuar o registo e apresentar um artigo para avaliação, siga a hiperligação Nova Submissão, acessível na página de abertura da Compendium, até ao dia 31 de Janeiro de 2023.

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