Domingo, 27 de Abril de 2025
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[RELIN] - número temático sobre "Narrativas de teor testemunhal como discursos de resistência"

Data de abertura: Data de encerramento: Países: Brasil

Análise do discurso, Chamada para artigos, Linguística

Está aberta a submissão de artigos à Revista de Estudos da Linguagem para número temático (vol. 2, 2025) sobre Narrativas de teor testemunhal como discursos de resistência.

Entendendo resistência, em sentido amplo, como a capacidade de questionar, desafiar ou opor-se a determinados gestos ou discursos percebidos como opressivos ou injustos, este dossiê tem por objetivo reunir pesquisadores cujos trabalhos versem sobre textos narrativos  – em diferentes domínios (literário, midiático, político, jurídico etc.), em variados gêneros (depoimentos, relatos de vida, outros gêneros (auto)biográficos, romances, quadrinhos etc.) e suportes (textos orais e escritos, icônicos, audiovisuais etc.) – que funcionem como (contra)discursos de resistência. Nesse sentido, a narração, como modo de organização do discurso, mantém uma relação privilegiada com a dimensão temporal e com o agir humano, ao mesmo tempo em que implica uma tensão entre (efeitos de) realidade e (efeitos de) ficção (Delory-Momberger 2016; Charaudeau 2019). Assume-se, na presente proposta, que tais textos podem ser atravessados, em maior ou menor grau, por um viés testemunhal, implicando, pois, um sujeito que recupera, no presente da enunciação, marcas de um episódio passado que ele viveu ou presenciou, colocando-se como fiador do que é dito. Esses dizeres, na medida em que atuam como “memórias subterrâneas” (Pollak, 1989), contribuem para desestabilizar, questionar a memória oficial, podendo contrapor-se ao negacionismo (esquecer/apagar o passado), ao silenciamento, à invisibilização social e aos estereótipos atribuídos a certos grupos em situação de vulnerabilidade.

Aceitam-se, pois, para esta publicação, artigos em português, inglês, francês ou espanhol que desenvolvam, com base em abordagens teórico-metodológicas de natureza discursiva, reflexões e/ou análises sobre narrativas de teor testemunhal, pensadas como uma possibilidade de escape do  “sítio da outridade” (Seligmann-Silva, 2023), a partir de uma “desorganização da fala” (Orlandi, 2004), na qual, a contrapelo, os sujeitos resistem aos “enquadramentos” (Pollak, 1989) que lhes são impostos pelo discurso hegemônico vigente. Três eixos, entre outros, são possíveis e não excludentes:

  • análise de textos verbais, não verbais ou sincréticos (multimodais), encenados por sujeitos, em contextos diversos, como os sobreviventes da Shoah e de outros genocídios; as vítimas dos porões das ditaduras latino-americanas; as populações em situação de rua, migrantes, povos originários, membros da comunidade LGBTQIAP+, entre outros;
  • reflexão sobre aspectos linguísticos, semióticos, ideológicos, sociais e/ou psicanalíticos que permitam identificar e descrever a(s) forma(s) de resistência empreendida(s) por esses (contra)discursos, bem como seus efeitos de sentido;
  • apreensão do éthos do enunciador/narrador resistente, considerando-se seu papel fundamental de “fiador do discurso” (Amossy, 2004).

Organizadores:  Glaucia Muniz Proença Lara (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG/CNPq), Luciano Magnoni Tocaia (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG) e Alejandra Vitale (Universidad de Buenos Aires - UBA)

Artigos podem ser submetidos online através do link abaixo, que também traz diretrizes aos autores:
http://periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/index

Os textos para esta chamada devem ser submetidos de 1º de abril a 1º de maio.

Mais informações: https://periodicos.ufmg.br/index.php/relin/announcement

Referências/Bibliografia sugerida

AMOSSY, Ruth. L’espèce humaine de Robert Antelme ou les modalités argumentatives du discours testimonial. Semen, Besançon, n. 17, 2004. Disponível em: https://journals.openedition.org/semen/2362. Acesso em: 31 maio 2024. DOI https://doi.org/10.4000/semen.2362.

CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso. Modos de organização. Trad. Aparecida L. Pauliukonis e Ida Lucia Machado. São Paulo: Contexto, 2019

Delory-Momberger, Christine. La recherche biographique ou la construction partagée d’un savoir du singulier. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica, v.1, n. 1, p. 133-147, 2016.

EMEDIATO, Wander (org.). Interações polêmicas e violência verbal em temas sociais sensíveis. Campinas : Pontes, 2023.

LARA, Glaucia M. P. Entre experiências e memórias : narrativas de vida de brasileiros na Europa. Campinas : Pontes, 2023.

LIMA, Helcira; ABREU-Aoki, Raquel, MAZZOLA, Renan (orgs). Retórica, argumentação e emoções: itinerários convergentes. Campinas: Pontes, 2023.

MACHADO, Ida Lucia. MACHADO, I. L. Narrativas de vida: saga familiar & sujeitos transclasses. Coimbra: Grácio Editor, 2020.

MAGNONI TOCAIA, L. Testemunhos de pessoas em situação de rua: quais são suas histórias de resistência? Letrônica, v.17, n.1, p. 1-18, 2024.

MAINGUENEAU, Dominique. Variações sobre o ethos. Trad. Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2020.

MARIANI, Bethania. Testemunhos de resistência e revolta. Um estudo em análise do discurso. Campinas, Pontes: 2021.

ORLANDI, Eni. Cidades dos sentidos. Campinas, SP: Pontes Editores, 2004.

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. A virada testemunhal e decolonial do saber histórico. Campinas: Editora da Unicamp, 2022.

VITALE, M. A. El Archivo Oral de la Memoria en Argentina. Negociaciones y taxemas en el testimonio de una víctima de la represión, Metáfora. Revista de Literatura y Análisis del Discurso, v. 13, p364-378, 2024.

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