Sexta-feira, 29 de Março de 2024
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REBECA, dossiê sobre Cinemas e audiovisualidades queer/kuir/cuir no Brasil e na América Latina

Início: Fim: Data de abertura: Data de encerramento: Países: Brasil

Chamada para artigos, Cinema, Estudos Brasileiros, Estudos Latino-Americanos, Género

O número 16 de REBECA, Revista brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, tem como tema "Cinemas e audiovisualidades queer/kuir/cuir no Brasil e na América Latina". O prazo de envio de artigos está aberto até 15 de agosto de 2020.

Em New Queer Cinema: a critical reader (2004), Michele Aaron argumentou que o termo queer/kuir/cuir pode descrever produtos culturais, intervenções críticas e estratégias políticas. Afirmou, também, que o new queer cinema, movimento estadunidense impulsionado do boom do HIV/AIDS, pelo descaso do Estado para com a epidemia e pela fragmentação dos ativismos de tendência queer/kuir/cuir e assimilacionista, foi uma sobreposição dos três primeiros itens. Isto é, filmes queer/kuir/cuir seriam produtos culturais e artísticos que promovem intervenções críticas através de estratégias políticas e estéticas que vão de encontro às normatividades de sexo, gênero, raça e classe.

A argumentação de Aaron não se encontra tão distante do que já havia proposto Ruby Rich em seu ensaio precursor intitulado "New Queer Cinema", texto publicado pela primeira vez na revista Village Voice no dia 24 de março de 1992. Além disso, os comentários de Aaron se conectam a outras tantas reflexões que complexificaram a noção de imagens, audiovisualidades e cinemas queer/kuir/cuir, a exemplo dos trabalhos de Alexander Doty (1993), Richard Dyer (2002), Helen Hok-Sze Leung (2004), Sara Ahmed (2006), Harry Benshoff (2006), Sean Griffin (2006), Elena Del Rio (2008), Daniel Williford (2009) e Jack Halberstam (2020), entre outras.

No âmbito das pesquisas brasileiras, é possível nomear algumas publicações predecessoras como as de Antônio Nascimento Moreno (1995), Denilson Lopes (2002), Karla Bessa (2007), Wilton Garcia (2011), Lucas Murari e Mateus Nagime (2015). Tais publicações demonstram que as cinematografias brasileiras e latino-americanas lidaram com os cinemas queer/kuir/cuir antes e depois do movimento estadunidense, ainda que na região se perceba um boom recente, especialmente capitaneado por realizadoras trans, bichas, sapatonas, travas, monas, fanchonas, ocós, jaciras, viadas, maricas, machudas e lesbianas.

Se nos últimos 10 anos a América Latina, especialmente o Brasil, viu sua cinematografia kuir/queer/cuir ser protagonizada por uma multidão queer (PRECIADO, 2011), é possível inferir que também houve a construção de uma comunidade de pesquisas que se propuseram a entender esses fenômenos. Nesse ponto, é preciso considerar que tanto a produção acadêmica quanto a produção audiovisual cuir/kuir/queer se inserem em um espectro mais amplo da consolidação dos estudos de gênero no país e no continente, da profusão de novas ondas ativistas, da complexa visibilidade midiática de sujeitos LGBT e também de alguns avanços e retrocessos no âmbito das políticas institucionais e culturais (TOMAZETTI, 2019). 

Foi, então, especialmente a partir do ano de 2010 que passou a se intensificar a coexistência de uma comunidade de pesquisas que não apenas se dedicaram a pensar as imagens do cinema queer/cuir/kuir em sua complexidade transnacional, mas, também, o que poderíamos compreender especificamente por cinema queer/cuir/kuir brasileiro/latino-americano ou cinema kuir/cuir/queer realizado no Brasil e na América Latina. Também é importante dizer que, nesses últimos 10 anos, tais estudos foram construídos especialmente por pesquisadores e pesquisadoras queer/kuir/cuir em processos de formação, isto é, alunes de cursos de Graduação, Mestrado e Doutorado (MARCONI, 2020).

Mais especificamente nos últimos cinco anos, isto é, desde 2015, alguns marcos nos ajudam a visualizar a profusão desses trabalhos. Em 2015, além de ser o ano em que a filósofa Judith Butler vem pela primeira vez ao Brasil, a Caixa Econômica Federal patrocinou a estreia da Mostra New Queer Cinema: cinema, sexualidade e política. Junto à realização da mostra, os pesquisadores Mateus Nagime e Lucas Murari organizam a publicação New Queer cinema, com textos de Erly Vieira Junior, André Antônio Barbosa, Ramayana Lira, Louise Wallenberg, entre outras.

Já em 2016, a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS) concede, pela primeira vez, o prêmio de Melhor Dissertação de Mestrado a uma pesquisa sobre cinema queer/kuir/cuir brasileiro. O prêmio foi concedido a  Dieison Marconi pela dissertação "Documentário queer no Sul do Brasil (2000 a 2014): narrativas contrassexuais e contradisciplinares nas representações das personagens LGBT". No mesmo, ano uma menção honrosa foi estendida à pesquisa de Érica Sarmet, intitulada "Sin porno no hay posporno: Corpo, Excesso e Ambivalência na América Latina".

No biênio 2016-2017, a Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE) aprovou e realizou o Seminário de Cinema Queer e Feminista, coordenados por Ramayana Lira, Maurício Gonçalves e José Gatti. Em compasso semelhante, a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS) e a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação (INTERCOM) também construíram ou fortaleceram seus grupos de estudos e pesquisa abertos para a discussão das audiovisualidades queer/cuir/kuir.

Em seu espectro teórico e metodológico, muitas dessas pesquisas vêm se afastando, aos poucos, tanto do paradigma das políticas de representação como também tem inflexionado algumas teorias hegemônicas do campo do cinema e do audiovisual sedimentadas durante o século XX. Esse percurso tem sido necessário não apenas para conceber um campo de estudo dedicado às nossas paisagens cuir/queer/kuir, mas, também, para reconhecer a complexidade conceitual das audiovisualidades kuir/cuir/queer a partir do ponto de vista das relações entre estética e política, produção e circulação, consumo e recepção, autoria e espectatorialidade, história, historiografia e perspectivas decoloniais.

Diante de tal contexto, o presente dossiê busca reunir textos que contemplem essas múltiplas formas de se refletir sobre os cinemas queer/kuir/cuir brasileiros e latino americanos. Para além dos formatos tradicionais de artigos científicos, esses textos podem ser enviados em formatos autorais/experimentais que explorem uma submetodologia indisciplinada, (MOMBAÇA, 2016) ou uma desobediência epistêmica (MIGNOLO, 2010), que sobretudo também promovam rasgaduras em suas tessituras formais e estéticas.

 Assim, convidamos à submissão de textos que reflitam sobre os seguintes temas, ou tópicos relacionados: 

  1. Transexualidades, cinemas e audiovisualidades queer/cuir/kuir no Brasil e na América Latina

  2. Pornografia queer/kuir/cuir e pós-pornografia no Brasil e na América Latina

  3. Cinema queer/kuir/cuir negro no Brasil e na América Latina

  4. Cinema queer/kuir/cuir lésbico no Brasil e na América Latina

  5. Consumo e espectatorialidade queer/cuir/kuir no cinema brasileiro e latino-americano

  6. Autorias queer/cuir/kuir no cinema brasileiro e latino americano

  7. Estética e política no cinema queer/cuir/kuir brasileiro e latino-americano

  8. Produção e circulação de filmes queer/kuir/cuir no Brasil e na América Latina

  9. História e historiografia dos cinemas queer/kuir/cuir no Brasil e na América Latina

  10. Perspectivas decoloniais dos cinemas queer/kuir/cuir no Brasil e na América Latina

  11. Relações entre cinema queer/kuir/cuir brasileiro e cinema queerir latino americano.

O prazo para envio dos artigos para o dossiê "Cinemas e audiovisualidades queer/kuir/cuir no Brasil e na América Latina" foi prorrogado até o dia 15 de setembro de 2020. O dossiê será publicado no número 18, de jul-dez de 2020, da Rebeca - Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual.

Normas e submissão: https://rebeca.socine.org.br/1/about/submissions.

Editores do dossiê: Dieison Marconi, Alessandra Brandão

Mais informação sobre a chamada de artigos deste número.

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