Terça-feira, 16 de Abril de 2024
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Mobilidades contemporâneas na lusotopia: Questionar as fronteiras (pós)imperiais

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Chamada para artigos, Ciências Humanas e Sociais, Estudos Lusófonos

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Lusotopie, 2020-2


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Mobilidades contemporâneas na lusotopia: Questionar as fronteiras (pós)imperiais

Em Imperial Migrations. Colonial Communities and Diaspora in the Portuguese World (Morier-Genoud & Cahen ed, 2013), os autores interrogam o facto do império português poder ter gerado um espaço social de migração autónomo. Se bem que a resposta que dão se incline para o negativo, coloca-se a questão da existência de um espaço contemporâneo de mobilidades humanas fundadas a partir de heranças socioculturais e de imaginários associados à história do império colonial português.

Um número crescente de investigações tem surgido sobre os fluxos migratórios entre os países ditos “lusófonos” (International Migration 2009; Trovão & Rosales 2010; Abadia et al. 2016; Fusco et al. 2018), fluxos apreendidos, nalguns casos, enquanto “sistema migratório” (Baganha 2009); sendo este último caracterizado por diversos centros que o ligam ao sistema migratório global (Gois & Marques 2009). Frequentemente ainda, a própria categoria de “lusófono” e as fronteiras, tanto territoriais como identitárias da “lusofonia” parecem valer por si, embora não deixem de refletir a persistência de uma ideologia colonial (Margarido 2000; Santos 2001; Vale de Almeida 2002; Cahen 2013 ; Ribeiro 2018 ; Cahen & Ferraz de Matos 2018…). Vários trabalhos que analisam as relações de classe, etno-raciais ou ainda de género, revelam a interiorização das relações de poder da colonização nas interações sociais entre populações migrantes/em mobilidade e sociedades de instalação, mas também situações de superação do “encontro colonial” (Feldman-Bianco 2001 ; Batalha 2004 ; Vala, Lopes, Lima 2008 ; Marques, Dias, Mapril 2005 ; Marques 2012 ; Alves 2015 ; Dos Santos 2016 ; Akesson 2018).

Para além da problemática migratória, em que medida os discursos institucionais da lusofonia e dos mundos lusófonos, veiculados nomeadamente pelos média (Ferreira 2016 ; Rosales 2018), orientam as práticas sociais da mobilidade: migrações/expatriações, mobilidades estudantis (Côrtes 2015), artísticas (Vanspauwen 2012), ativismos políticos mas igualmente o turismo associado à patrimonialização do passado imperial (Cardeira da Silva 2013 ; Peralta 2017) ou ao “dark tourism” (Asquith & Forsdick 2017)? Remete o estudo destas temáticas para uma “écumene” (Pina-Cabral 2010), no sentido de um espaço global contemporâneo produto de uma história, a da (des)colonização portuguesa, e caracterizado por uma densidade de circulações humanas e culturais? Que continuidades e que rupturas sócio-históricas das fronteiras territoriais do império (Bastos 2009; Hespanha 2019) ou ainda dos seus imaginários (Domingos 2016), essas mobilidades permitem interrogar? Que recursos sociais, culturais, políticos e económicos, que laços transnacionais, que memórias individuais e colectivas e que imaginários motivam as escolhas de indivíduos e grupos que migram e/ou que circulam entre esses lugares, entre esses países e para além deles? Como é que esses recursos, objectivos e subjectivos, se imbricam e são reapropriados em contextos de mobilidade?

Este número pretende interrogar a influência ou insignificância das diversas heranças do império colonial português e as suas reapropriações, a diferentes escalas de análise, pelas mobilidades contemporâneas. Ele tem por ambição reunir pesquisas recentes elaboradas a partir de dados empíricos recolhidos na área das ciências sociais, centrados sobre uma diversidade de mobilidades espaciais contemporâneas observadas nas suas historicidades (pós)imperiais. Visa a análise de trajectórias biográficas e sociais, de relações amorosas e de casais mistos formados em contexto de mobilidade, de relações laborais, de produções artísticas, de práticas de consumo e de relações estabelecidas entre indivíduos e grupos sociais com o universo do político e com um passado partilhado, para questionar as fronteiras territoriais, culturais, etno-raciais e as relações de dominação – e a sua superação – nos mundos ditos “lusófonos”. São igualmente esperados estudos de caso que se inscrevam numa perspectiva comparativa entre espaços  globais pós-imperiais e que se interessem sobre mobilidades entre antigos impérios concorrentes, (Bastos 2016-2021) ou ainda sobre indivíduos oriundos de comunidades “portuguesas” existentes fora das fronteiras do império (Hespanha 2019).

 

Temas esperados para as contribuições:

  • mobilidades profissionais, à escala de multinacionais de países de língua portuguesa, mobilidades estudantis e relações sociais – casamentos, relações amorosas e sexualidade – resultantes das interações entre esses indivíduos e as sociedades de instalação analisadas;
  • numa perspectiva sócio-antropológica, a análise dos recursos sociais, económicos, políticos e culturais herdados e mobilizados nessas deslocações e as suas reapropriações, tais como a de uma “língua comum”;
  • as representações de lugares associados a essas mobilidades, as categorias para os designar (lugares de origem, lugares de passagem, lugares de retorno ...) e o tipo de sentimentos que despertam (nostalgias, rejeição, ...);
  • a mobilidade como modo de subjectivação de categorias identitárias e de relações com um passado comum doloroso: nomeadamente no âmbito do turismo e das práticas memoriais e de patrimonialização ligadas aos exílios políticos (lutas anticoloniais);
  • a construção de discursos sobre esses processos de mobilidade, a circulação de objectos e de imagens (média, cinema, obras literárias) na medida em que a análise das produções culturais e artísticas cruza tanto a subjectivação como a institucionalização cultural dos mundos “lusófonos”;
  • a relação entre migrações/mobilidade e acção colectiva: como e em nome de quem elas acompanham a criação de organizações políticas, de práticas de contestação ou de apoio “à distância” de governos;
  • as políticas migratórias entre países de língua oficial portuguesa e as levadas a cabo/pensadas no seio da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP);
  • as relações inter-étnicas entre populações migrantes/em mobilidade pós-coloniais em contextos ditos “lusófonos” e entre essas populações em contextos considerados como não-“lusófonos”;
  • reflexões de ordem epistemológica e metodológica que interroguem o contributo do estudo das mobilidades (mobility turn) para questionar a existência de um espaço global contemporâneo da lusotopia, efectivo ou discursivo.

As propostas de artigos (500 palavras) deverão ser enviadas até 15 de outubro de 2019 para os seguintes endereços: irene.dossantos@cnrs.fr ; sonia.ferreira@fcsh.unl.pt.

Se o resumo for selecionado, os artigos completos são esperados para o 31 de janeiro de 2020.

A revista aceita artigos em três línguas: francês, português e inglês.


Bibliografia citada

Abadia, L., Cabecinhas, R., Macedo, I. & Cunha, L. 2016, “Interwoven migration narratives: identity and social representations in the Lusophone world”, Identities: Global Studies in Culture and Power (online 17 oct. 2016)
Åkesson, L. 2018, Postcolonial migration to Angola. Migrants or Masters?, Basingstocke, Palgrave Macmillan.
Alves, M. F. 2015, “Memórias, Identidades e Representações Sociais dos Cabo-Verdianos no Rio de Janeiro”, in C. Natário, C. Bezerra, E. Carlos, R. Epifânio (eds), Errâncias de Um Imaginário, entre Brasil, Cabo-Verde e Portugal, Porto, Universidade do Porto: 321-336.
Asquith, W. & Forsdick, C., 2017, “The Dark Tourism. The Emergence of a Field”, Memoires en jeu/Memories at Stake, n°3 (en ligne: https://www.memoires-en-jeu.com/dossier/tourisme-memoriel/.
Baganha, M. I. 2009, “The Lusophone Migratory System: Patterns and Trends”, International Migration, 47 (3): 5-20.
Bastos, C. 2009, “Maria Índia, ou a fronteira da colonização: trabalho, migração e política no planalto sul de Angola”, Horizontes Antropológicos XV (31): 51-74.
Bastos, C. (coord.) 2016-2021, “The Colour of Labour: The racialized Lives of Migrants”, ERC Advanced Grant.
Batalha, L. 2004, “A elite portuguesa-cabo-verdiana : ascenso e queda de um grupo colonial intermediário”, in C. Carvalho, J. de Pina-Cabral (eds), A Persistência da História. Passado e Contemporaneidade em África, Lisbonne, Imprensa de Ciências Sociais : 191-225.
Cardeira da Silva, M. (ed.), 2013, Castelos a Bombordo. Etnografias de patrimónios africanos e memórias portuguesas, Lisbonne, Centro em Rede de Investigação em Antropologia.
Cahen, M. & Ferraz de Matos, P. 2018, “ Introdução. Novas perspetivas sobre o luso-tropicalism”, Portuguese Studies Review, 26 (1) : 1-6.
Cahen, M. 2013, “‘Portugal is in the Sky’: Conceptual Considerations on Communities, Lusitanity and Lusophony”, in E. Morier-Genoud & M. Cahen (eds), Imperial Migrations: Colonial Communities and Diaspora in the Portuguese World, Basingstoke-New York, Palgrave Macmillan: 297-315.
Côrtes, F. da Costa, 2015, “Estudantes leste-timorenses no Brasil : notas sobre trajetórias sociais e reprodução de elites / East Timor students in Brazil: notes about social trajectories and elite propagation”, Vivência: Revista de Antropologia, 46 (1).
Domingos, N., 2016, “Les reconfigurations de la mémoire du colonialisme portugais: récit et esthétisation de l’histoire”, dans Histoire@Politique, 2 (29): 41-59 en ligne: www.histoire-politique.fr, consulté le 6 juillet 2017 http://www.cairn.info/revue-histoire-politique-2016-2-page-41.htm.
Dos Santos, I. 2016, “L’Angola, un Eldorado pour la jeunesse portugaise ? Mondes imaginés et expériences de la mobilité dans l’espace lusophone”, Cahiers d’études africaines LVI (221-222) : 29-52.  
Feldman-Bianco, B. 2001, “Brazilians in Portugal, Portuguese in Brazil: Cultural Constructions of Sameness and Difference”,Identities: Global Studies in Culture and Power, 4 (8): 607-650.
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Fusco, W., Moreira, M. de Mello, Ojima, R., Malheiros, J. & Peixoto, J. 2018, Dossier Thématique : “Migrações em Países Lusófonos”, Cadernos de Estudos Sociais, 33 (2).
Goís, P. & Marques, J. C. 2009, “Portugal as a Semi-peripheral Country in the Global Migration System”, International Migration, 47 (3).
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Trovão, S. & Rosales, M. (eds) 2010, Das Índias : gentes, movimentos e pertenças transnacionais, Lisbonne, Colibri.
Vala, J., Lopes, D. & Lima, M. 2008, “Black Immigrants in Portugal: Luso-Tropicalism and Prejudice, Journal of Social Issues 64 : 87-302.
Vale de Almeida, M. 2002, “O Atlântico Pardo. Antropologia, pós-colonialismo e o caso ‘lusófono’”, in C. Basto, M. Vale de Almeida & B. Feldman-Bianco (eds), Trânsitos coloniais: diálogos crítico luso-brasileiros : 23-37.
Vanspauwen, B. 2013, “Cultural Struggles in the lusofonia arena: Portuguesa-speaking migrant musicians in Lisbon”, Afrika Focus, 26 (1): 67-88.

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