Quinta-feira, 28 de Março de 2024
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Chamada Revista Garrafa - Edição: Trançando o porvir

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Chamada para artigos, Literatura

Revista Garrafa | Edição Trançando o Porvir

 

A escritora estadunidense Ursula K. Le Guin, em seu ensaio “A ficção como cesta”1, declara que deseja contar histórias que não dramatizam a figura do herói. Em consonância com essa visão, a edição Trançando o Porvir da Revista Garrafa busca recolher as batatas e guardar as sementes, incubando nos espaços propícios para a continuidade das narrativas, a conservação e perpetuação das histórias que imaginam outras possibilidades ao projeto civilizatório que, violentamente, se impõe em direção a um único regime de organização social e política.

 

O título para esta edição nasce de um diálogo com a disciplina Escrever o Futuro, ministrada pelo professor Luiz Eduardo Soares, professor visitante no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGCL/UFRJ) no período letivo de 2020.2. As aulas do professor Luiz, que ocorreram durante a pandemia de Covid-19, foram marcadas pelo debate em torno das questões primordiais de leitura e recepção das obras de ficção científica, criando uma teia multidisciplinar que se beneficiou da diversidade do corpo discente.

A referência inicial à Teoria da Cesta [Carrier Bag Theory], elaborada no livro Women’s Creation (McGraw-Hill, 1975) de Elizabeth Fisher, encena o ponto de partida para o pensamento sobre a ficção, conforme enunciado por Le Guin. Essa teoria defende uma mudança nas rotas de orientação, tornando inoperante as armas discursivas da dominação para coligir as narrativas em uma cesta de culturas. Em outras palavras, um acervo de cura no lugar da disposição de objetos de combate linguístico. Recontar a história requer outros modos de enunciação e a incorporação de diversos objetos que circundam o espaço literário. “O herói não fica bem nessa cesta”, sentencia Le Guin. Deslocado dos holofotes da representação para dividir a cena com outros seres significantes, o herói parece “um coelho, uma batata”. Resta a indagação: o que qualificaríamos como “humano” se nosso imaginário fosse nutrido pelos frutos menores da história? Caminhando ao largo das hecatombes que oferecem as alteridades em sacrifício, a voz em volta do fogo narra agora o cuidado e a coleta, assim como outras formas de manutenção e expansão da vida.

A hospitalidade teórica reconhece a abundância de gêneros poéticos que dão forma ao tema da ficção científica: romances, quadrinhos, filmes, séries televisivas, entre outros objetos-significantes que reivindicam uma voz na Cultura. São indissociáveis dessa questão central as escritas que tratam do tópos e suas variantes conceituais, como as distopias, utopias ou atopias. A escatologia dos diferentes e, às vezes simultâneos, fins dos mundos possuem inúmeras narrativas, assim como as perpetuações e reconstruções que imaginam outros lugares e formas de vida.

Atualmente, a guerra pelo domínio da narrativa e pela gestão totalitária das subjetividades se desdobra em torno do fascismo, que nunca foi totalmente enterrado, e que se manifesta de maneira contundente para solapar a multiplicidade das causas identitárias, que só são possíveis graças aos levantes que trazem para arena política os debates em torno da raça, da etnia, da classe, da sexualidade e do gênero, assim como das cosmovisões não-cristãs.

A constatação da fragilidade do modo de vida capitalista coloca à espreita um conjunto de reproduções distópicas, determinando outras maneiras de codificação da existência. Em recente entrevista ao jornal El País2, a escritora Margaret Atwood afirmou que podemos estar diante de uma volta das utopias, e declama: “precisamos imaginar como salvar o mundo”. Partindo dos estudos em torno dos conceitos de utopia, distopia e suas variações, busca-se coletar as rotas que nos permitam vislumbrar o porvir. Em conjunto com aqueles que escrevem na companhia daquilo que está à margem da história, essa edição especial da Revista Garrafa lança o convite aos pesquisadores que cursam ou que já concluíram a pós-graduação para a submissão de artigos, ensaios, traduções, entrevistas e resenhas capazes de refletir, a partir das artes e resistir e disseminar uma mensagem lançada ao não-acabado, na expectativa de futuros leitores.

 

E-mail para a submissão dos textos:

revistagarrafaporvir@gmail.com

Prazo de envio:

1 de julho de 2021 a 1 de outubro de 2021

Ilustração:

Marcos Pavão | @pavaoxyz

Comissão organizadora:

Adriana Madeira

Felipe Lima

Paula Amparo

Priscila Dantas

Samantha Gifalli

Tábata Silva
 

Notas:

O texto “A ficção como cesta: uma teoria da ficção” foi consultado em uma tradução informal feita por Priscilla Mello e revisado por Ellen Araújo e Marcio Goldman. Texto original: LE GUIN, U. K. Dancing in the Edge of the World – Thoughts on Words, Women, Places (1989). New York: Ed Grove Press, 1997.

2 Entrevista por Laura Fernández e publicada em 29 de maio de 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/cultura/2021-05-29/margaret-atwood-as-utopias-voltarao-porque-precisamos-imaginar-como-salvar-o-mundo.html

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