Terça-feira, 19 de Março de 2024
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Chamada para publicação da Revista RITA: As Américas, territórios do livro

Início: Fim: Data de abertura: Data de encerramento: Países: França

Chamada para artigos, Estudos Latino-Americanos

A Revista Interdisciplinar de Trabalhos sobre as Américas (RITA) (ISSN 2102-6424) lança uma chamada de artigos para o seu número 15:

As Américas, territórios do livro

Em 2020, no Brasil, um projeto do Ministério da Economia que visava à implementação de uma taxa sobre os livros (um setor até então isento), foi contestado pelas editoras do país e acabou sendo descartado. Em um país onde a Bíblia segue sendo um dos livros mais vendidos e onde recordes de venda são alcançados por editoras religiosas, essa taxa virou um objeto de conflito entre o Estado e grupos evangélicos, que se mobilizaram contra o projeto, apesar de comporem um setor que geralmente apoia as decisões do governo Bolsonaro. Para além da anedota, esse caso questiona o papel do livro na sociedade, que por mais insignificante e cotidiano que pareça, não deixa de ser estratégico. Esse objeto pode ser analisado em sua materialidade, na perspectiva de Roger Chartier – observando sua circulação, seu armazenamento, suas vendas e compras, oficiais ou clandestinas –, mas também em seu conteúdo.

As Américas se revelam então como relevantes territórios de livros, sejam eles considerados como objeto que circulam ou vetores de pensamentos, ideias, aprendizagens, métodos, práticas e até mesmo histórias ou meios de evasão. Com os grandes viajantes europeus, as Américas se tornam objeto de descrição e assunto de diversos escritos; podemos citar, nessa ótica, tanto Cristóvão Colombo quanto Américo Vespúcio ou Jean de Léry. Os pensadores europeus, de Montaigne aos filósofos iluministas, alimentam suas reflexões sobre a sociedade a partir da experiência radical da alteridade (Mello Franco, 1937; Lestringant, 1994) que eles descobrem nos relatos sobre as Américas. Ao longo da colonização, a circulação e a produção local de livros não foram apenas uma grande preocupação em termos de gestão (no caso do Brasil, por exemplo, os livros vinham de Portugal após passar por umacensura e, na colônia, eram proibidas a impressão e a publicação até 1808) (Hallewell, 2005), mas também um fator de circulação das ideias para o desenvolvimento desses territórios ultramarinos. A influência dos escritos do filósofo de Neuchâtel Emer de Vattel no processo constitucional norte-americano (Richardson, 2012) é emblemática dessas problemáticas ligadas à circulação entre metrópole e colônia. Observar a história do objeto livro nas (e em relação às) Américas – da época colonial até hoje, da destruição dos códigos astecas à comercialização internacional dos e-books –, equivale, pois, a debruçar-se sobre as histórias imbricadas da escrita, da edição e da leitura, assim como sobre as evoluções dessas práticas socioculturais (Amory e Hall, 2007).

As contribuições poderão seguir várias pistas de reflexão. Um questionamento poderá ser realizado em torno da constituição das bibliotecas particulares e públicas nas Américas (Midori Daecto, 2011; Martins, 2015), sem esquecer as questões de sociologia e de história da leitura. Mais recentemente, as novas modalidades de leitura e de recepção do livro na era digital suscitaram muitos debates, levando a uma interrogação sobre as relações que os indivíduos estabelecem com esse objeto. As GAFAM, gigantes da web, são atores-chaves desse debate e a presença das Américas também se vê nesse âmbito.

Seria também interessante interrogar-se sobre a emergência e as transformações de editoras locais, sobre a vida e o posicionamento dos autores, editores, donos de livraria, bibliotecários, leitores, comentadores: um conjunto de atores que são responsáveis pela produção, pela circulação e pelos discursos relativos ao livro em direção a, dentro de e a partir das Américas (Para uma análise do impacto da revolução numérica sobre a indústria do livro em escala mundial, Thompson, 2021). Assim, é possível interessar-se tanto pela constituição de campos literários e editoriais nacionais ou regionais, nas perspectivas de estudos oferecidas por Pierre Bourdieu (1998) ou Franco Moretti (2000), quanto pela circulação do livro em uma lógica bilateral.

Entre os diferentes questionamentos levantados por este assunto, encontramos também a formação das identidades das sociedades americanas através do livro, os mercados editoriais, o espaço ocupado pelos gigantes internacionais como Amazon, as iniciativas populares como o movimento dos “cartoneros”, que tentam fazer circular a poesia na contracorrente das lógicas comerciais. No âmbito literário, as inovações na escrita inspiradas pelo desenvolvimento das redes sociais ou dos meios digitais são perspectivas abertas por este assunto que nos parecem questões centrais para o futuro das sociedades, das economias e das práticas artísticas nas Américas.

Da mesma forma, seria necessário pensar o livro tanto em seus usos escolares quanto em seus usos técnicos, e apreendê-lo como um comércio a serviço de uma clientela específica de alunos e estudantes, mas também como um suporte de saberes técnicos e científicos em diversos setores (industriais, agrícolas, mineiros, etc.)

Para concluir, é necessário observar que o livro é ao mesmo tempo um conteúdo e um objeto que materializa este conteúdo por sua circulação. Assim, aceitaremos trabalhos vindo de todas as disciplinas humanas e sociais, capazes de delimitar melhor o espaço do livro nas Américas.

Assim, em seu décimo e quinto número, a RITA, propõe a exploração das Américas como territórios do livro, através dos diferentes enfoques mencionados em essa chamada.

Para sua parte Théma, os textos devem respeitar os seguintes critérios:

  • 50 000 signos no máximo (notas, bibliografia e espaços incluídos)
  • Os artigos podem ser redigidos em francês, inglês, espanhol ou português
  • Devem ser acompanhados de um resumo (cerca de 1 000 signos) e de 3 a 5 palavras-chaves.

Por outra parte, como sempre, além de sua parte temática, o próximo número de RITA incluirá uma secção não-temática, Champ Libre [Campo livre] para a qual toda contribuição é também bem-vinda. Essa secção é dividida em cinco rubricas:

  • As Notes de recherche [Notas de pesquisa] são artigos apresentando uma pesquisa em curso ou já concluída, cujo assunto não corresponde com a temática do número. Devem comportar uma problemática, apresentar uma metodologia clara e detalhada, assim como adotar a forma de uma reflexão científica (40 000 signos no máximo, notas, bibliografia e espaços incluídos).
  • Fabrique de la recherche [Fábrica da pesquisa] tem como objetivo levantar questões de ordem metodológica ou que tratem especificamente de ferramentas teóricas (15 000 signos no máximo, notas, bibliografia e espaços incluídos).
  • Os Résumés de mémoire ou de thèse [Resumos de Dissertação ou Tese] permitem dar visibilidade às pesquisas mais recentes, em uma versão mais concisa (25 000 signos no máximo, notas incluídas, mas com a bibliografia e os espaços não incluídos).
  • As Synthèses de recherche [Sínteses de pesquisa] propõem resenhas de livros publicados recentemente e centrados em temáticas americanas (35 000 signos no máximo, notas, bibliografia e espaços incluídos).
  • A rubrica Regards sur les Amériques [Olhares sobre as Américas] oferece a oportunidade de publicar textos em que a expressão e a forma são mais livres, tais como relatos de experiência de uma pesquisa de campo, reflexões pessoais sobre uma determinada temática ou um objeto de estudo singular, ou ainda textos mais literários (30 000 signos no máximo, notas, bibliografia e espaços incluídos)

Os artigos completos e respeitando as normas da rubrica escolhida (para mais detalhes, consultar: http://www.revue-rita.com/note-aux-auteurs/normes-de-presentation.html) são esperados até o 27 de outubro de 2021, no seguinte endereço:

revue.rita@gmail.com

Lembramos que os artigos podem ser escritos em inglês, espanhol, francês ou português.

Uma primeira seleção dos textos será efetuada pelo Comité de Redação que, durante o mês de novembro de 2021, informará os autores sobre a aceitação ou a recusa dos artigos.

Logo, os textos selecionados para as secções Théma e Champ libre serão avaliados por pareceristas anônimos. Os artigos poderão ser recusados, ou então aceitos com ou sem modificações.

O número 15 de RITA será publicado no início do segundo semestre de 2022.

Aviso importante: os artigos devem ser inéditos e não ser submetidos simultaneamente para a aprovação de outras revistas.


Referencias bibliográficas
Amory Hugh et Hall David D. (dir.) (2007). A History of the Book in America. Vol. 1: The Colonial Book in the Atlantic World. Chapel Hill: University of North Carolina Press.
Bourdieu Pierre (1998). Les règles de l’art, Genèse et structure du champ littéraire. Paris: Points Seuil.
Hallewell Laurence (2005). Historia do livro no Brasil. Sáo Paulo: EDUSP.
Lestringant Franck (1994). Le Cannibale : Grandeur et décadence. Ed. Perrin.
Martins Ana Luiza (2015). Gabinete de leitura. São Paulo: EDUSP.
Midori Daecto Marisa (2011). O Imperio dos Livros. São Paulo, EDUSP / FAPESP.
Mello Franco Affonso (de) (1937). O índio brasileiro e a Revolução Francesa; as origens brasileiras da teoria da bondade natural. Rio de Janeiro: José Olympio.
Moretti Franco (2000). Atlas du roman européen (1800-1900). Paris: Seuil.
Richardson Brian (2012). “The use of Vattel in the American Law of Nations”. The American Journal of International Law, Vol. 106, n°33: 547-57.
Thompson John B. (2021). Book Wars : The Digital Revolution in Publishing. Londres: Polity Press.

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