Chamada para o volume 26 da revista Estação Literária
Início: ⋅ Fim: ⋅ Data de abertura: ⋅ Data de encerramento: ⋅ Países: Brasil
Chamada para o volume 26 da revista Estação Literária
Submissões: de 19 de fevereiro a 19 de março de 2021
Nos grupos de chamadas para publicação de periódicos da área de Letras, uma pergunta se repete exaustivamente: “qual é o Qualis?”. Subjaz a essa pergunta uma hierarquização sobre o periódico em que o pesquisador gostaria de ver seu artigo publicado – afinal, the medium is the message. Contudo, tendo em mente o desmonte por que passam as universidades públicas no Brasil – com cortes sistemáticos do orçamento das agências de fomento, atingindo sobretudo as Humanidades e, mais ainda, a área de Letras –, essa pergunta se revela um tanto supérflua. Mais que isso: reencena sub-repticiamente a mesma hierarquização sobre quais saberes realmente importam e quais áreas merecem verbas, seguindo a lógica do investimento e do lucro. Outra maneira de interpretar essa questão do Qualis (aliás, o Qualis da Estação Literária é B2) é ver nela a lógica predatória do produtivismo, do publish or perish etc. No entanto, a crítica do produtivismo, da mcdonaldização da educação e dos índices quantitativos de avaliação converteu-se ironicamente em uma espécie de subgênero acadêmico, mostrando a falência da crítica diante da razão cínica. Tal impasse, por vezes, nos paralisa.
Terry Eagleton, em Literary Theory, debruça-se sobre as diversas abordagens do objeto literário – hermenêutica, teoria da recepção, estruturalismo, semiótica, pós-estruturalismo, psicanálise –, apontando os limites de cada uma, bem como a fragilidade dos argumentos que definem aquilo que chamamos de literatura. Não se trata, no entanto, de concluir categoricamente que a teoria literária é sempre política ou enxergar a literatura como uma “prática discursiva” entre outras (EAGLETON, 2006), como se ela fosse subordinada às boas causas. Em vez disso, é preciso reconhecer que “[o] romance na estante é uma potencialidade; apenas ao me confrontar com ele converte-se naquilo que é” (DURÃO, 2015, p. 379). Isso não significa, porém, um retorno à crítica do tipo impressionista ou uma aversão à Teoria: na verdade, significa tomar o objeto literário como ponto de partida e ponto de chegada dos estudos literários. É dele que surgem as questões, e não o contrário... Todavia, não haveria o risco de recair num essencialismo sobre o que seja a literatura? Eis-nos novamente diante de um impasse.
Em “The Crack-Up”, Scott Fitzgerald (2007, p. 72) escreve: “o teste de uma inteligência superior é a capacidade de manter duas ideias opostas na mente ao mesmo tempo e ainda conservar a capacidade de funcionar”. Enfim, trata-se de reconhecer os impasses permeiam os estudos literários e, ao mesmo tempo, estar determinado a ultrapassá-los; de entender os limites da Teoria, mas não se render à postura anticientífica; de saber que não há uma definição sobre a literatura e, ainda assim, buscar estudá-la e compreendê-la.
Dr. Gustavo Ramos de Souza (UEL)
Rerefências
DURÃO, Fábio A. Reflexões sobre a metodologia de pesquisa nos estudos literários. D.E.L.T.A, n. 31, p. 377-390, ago. 2015.
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes,
2006.
FIZTGERALD, F. Scott. Crack-Up. Porto Alegre: L&PM, 2007.