Quinta-feira, 25 de Abril de 2024
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Chamada de artigos para o sexto número da revista Dobra: Palavra-problema: Animal

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Arte, Chamada para artigos, Literatura

DOBRA — 6
Palavra-problema: Animal

Até ao dia 20 de Março de 2020 encontra-se aberto o prazo para envio de resumos e/ou propostas para o nº 6 da revista Dobra, na forma de textos, imagens ou trabalhos multimédia, de acordo com os parâmetros definidos para as colaborações (vide COLABORAR − “Orientação aos Autores”).
   
A omnipresença do animal na cultura humana reconduz-nos às suas mais remotas origens, tendo homens e animais sido cúmplices, ao longo dos tempos, numa variedade surpreendente de relações mistas e interespecíficas, designadas por Dominique Lestel de comunidades híbridas (L’animal singulier, Paris, Seuil, 2004, p. 19). Desde as pinturas nas grutas de Chauvet, Lascaux, Altamira, nas rochas do Parque Nacional da Serra da Capivara e tantos outros lugares, atravessando a nossa relação com o mundo, tanto na nossa cotidianidade quanto na nossa história, chegando aos campos de concentração e calabouços totalitários da tortura, a ponto de deixar marcas decisivas em todas as áreas da vida, da criação e do pensamento, o animal tem-nos determinado, a nós e aos nossos projetos, atravessando tradições e áreas disciplinares, abrindo as nossas relações e os nossos modos de vê-lo e de nos ver.

O animal faz-se presente dos mitos à filosofia, da poesia à antropologia, da literatura à biologia e à zoologia, da música à ecologia, do sagrado às múltiplas ciências, das artes plásticas e intermediáticas à política, do cinema ao imaginário popular... Do tempo mítico ao nosso, os animais não deixaram de ser uma das intensidades mais assíduas pelas quais artistas, cientistas, pesquisadores e outros se depararam consigo, com eles e com a alteridade que lhes é constitutiva.

Essencialmente apreendido a partir da sua relação com o humano, o animal foi sendo, durante séculos e milénios, alvo de múltiplas representações e exegeses, surgindo sempre como uma alteridade radical para o homem.

A revalorização ético-científica do animal, a que se tem vindo a assistir nas últimas décadas, converteu o debate sobre a questão da animalidade numa espécie de mito contemporâneo, em torno do qual se tem congregado uma multiplicidade de vozes dissonantes, provenientes dos mais diversos quadrantes das ciências e das humanidades.

O crescente interesse teórico e crítico sobre a questão animal não pode dissociar-se da emergência de um novo campo de investigação que, designado como Animal Studies ou Estudos Animais, se tem vindo a afirmar como um espaço confluente de diálogo epistemológico (coligando literatura, filosofia, antropologia, etologia, ecocrítica, etc.) e cujo objecto de estudo elege “dois grandes eixos de discussão: o que concerne ao animal propriamente dito e à chamada animalidade e o que se volta para as complexas e controversas relações entre homens e animais não humanos” (Maria Esther Maciel, Pensar / escrever o animal. Ensaios de zoopoética e biopolítica, Florianópolis, editora da UFSC, 2011, p. 7).

Menos uma instância de representação do que uma captura de forças, o animal excede e elude toda a figuração estável – transformando-se no que, desde a corporalidade, protesta contra a figuração, forma, representação, reclamando modulações e registros que permitam captar e codificar o que resiste a toda a classificação e a todo o lugar predefinido. Trata-se, então, de pensar os diversos modos em que o animal transforma as lógicas da sua inscrição na arte, na cultura, no conhecimento, no pensamento e nas linguagens, interrogando, ao mesmo tempo, uma reordenação mais ampla da qual essa proximidade do animal dá testemunho. Pretende-se também pensar as relações entre o animal e o humano, que têm vindo a evoluir de acordo com um cada vez mais insistente apagamento dos limites que desde sempre os separaram, passando-se da clássica humanização do animal à bestialização do homem, um homem que cada vez mais tende a interrogar a sua própria animalidade.

Mais informações no site da revista Dobra.

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