Terça-feira, 23 de Abril de 2024
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Chamada da Revista Esclavages & Post~esclavages para dossiê: Imaginar o «memorial musical»

Início: Fim: Data de abertura: Data de encerramento: Países: França

Chamada para artigos, Ciências Humanas e Sociais, História, Memória , Música

Chamada para publicação da Revista

Esclavages & Post~esclavages / Slaveries & Post~Slaveries

Número temático “Imaginar o «memorial musical». Músicas e (re)transmissões das memórias dos tratos e das escravidões” (no 7, novembro 2022)

Prazo para o envio dos resumos: 31 de outubro de 2021
Prazo para a submissão dos artigos: 1 de março de 2022

Editores científicos

  • Elina Djebbari, professora associada da Universidade Paris Nanterre

  • Charlotte Grabli, pós-doutoranda Marie Skłodowska-Curie no Departamento de História da UCLA e no CIRESC (CNRS)

Argumentação

O objetivo deste número é continuar a reflexão iniciada pela revista Esclavages & post~esclavages / Slaveries & Post~Slaveries sobre o trabalho dos artistas e sua atualização por formas sensíveis da história e da memória dos tratos e das escravidões, enfocando principalmente a questão musical. Este dossiê pretende dar conta da maneira complexa como a música se tornou fonte e recurso de memória desde a época dos tratos e das escravidões até hoje.

Muitos estudos têm mostrado como a música e a dança, em particular, podem veicular e incorporar formas memoriais e se tornar arquivos vivos re-atualizados pela performance ou a escuta (ver por exemplo Aterianus-Owanga & Santiago 2016 ; Taylor 2003). Depois das abolições ocidentais, no Atlântico negro (Paul Gilroy), mas também nas sociedades pós-escravistas do Oceano Índico (Desroches & Samson 2008), do Magreb e do Golfo Pérsico, a música nunca deixou de ser invocada para enfrentar a « herança espectral da escravidão » (Rice & Kardux 2012). No Magreb e na península Arábica, algumas comunidades relacionaram de modo explícito (como os gnawas em Marrocos; ver Becker 2020) ou não (como os ritos stambali na Tunísia; ver Jankowsky 2006) suas práticas musicais com o passado escravista. Nos Estados-Unidos, a autora africana americana Toni Morrison considerou mais especificamente o jazz, o blues e os spirituals como « memoriais musicais » indispensáveis para a construção de um espaço literário de recolhimento, enquanto não existia ainda « memorial conveniente » (World magazine, 1989).

Ao questionar a memória dos tratos e das escravidões através da música, este número pretende afastar-se dos memoriais tradicionais, já muito estudados, para considerar a diversidade das formas de « memorial musical » que se incorporaram, foram imaginadas e exploradas através de práticas performativas e literárias nas sociedades pós-escravistas. Muitos estilos musicais, danças, carnavais e outras práticas performativas envolvendo a música, tornaram-se « memoriais musicais » em contextos marcados pela ausência ou as faltas dos projetos de institucionalização da memória, como as procissões religiosas na América do Sul e os carnavais de África e do Caribe. Assim, no Benim, músicos e bailarinos investiram a salsa como um espaço memorial afro-atlântico (Kabir 2018) nas margens do programa da Rota do escravo promovido pela Unesco desde os anos 1990.

No período recente, a música aparece crucial nas respostas dos artistas aos silêncios persistentes nas instituições e na esfera familiar. O hip-hop foi, por exemplo, central no percurso do artista de Guadalupe Jay Ramier (2021), ensinando-o a ser mais atento às reivindicações veiculadas por outras músicas. Sua pesquisa de fotografias dos zouks dos anos 1970, essas festas onde pais e estudantes da diáspora antilhana conversavam, tocavam música e dançavam em Paris, também revela a centralidade da música na sua « viagem genealógica ». No contexto do surgimento da questão das reparações pela escravidão e das lutas contra as discriminações e as servidões contemporâneas, os usos dos arquivos contendo memórias dissidentes em diferentes formas artísticas constituem uma pista de investigação privilegiada.

Investigando os processos de constituição do « memorial musical » em espaços marcados por diferentes sistemas de tráfico e de escravidão no Atlântico e no Oceano Índico, em África e no Golfo Pérsico, este número pretende igualmente realçar a porosidade das práticas musicais e dos conflitos ligados à memória. Nas sociedades pós-escravistas, os « memoriais musicais » podem assim entrelaçar as referências aos tratos e às escravidões com outras formas de dominação e de deslocamentos forçados como o engagisme, revelando por vezes dinâmicas memoriais concorrentes (Desroches & Samson 2008). Por outro lado, podemos observar conflitos ao nível nacional, como na Arábia oriental onde as políticas memoriais dos Estados-nações tendem a dissociar os ritos de possessão do leiwah dos descendentes de escravos oriundos da costa leste da África que os criaram (Sebiane 2015). A especificidade do material formando o « memorial musical », ao mesmo tempo compósito e potencialmente disputado, convida a pensar as associações e as disjunções entre depositários « legítimos », praticantes e receptores, em diferentes escalas e no seio de diferentes circuitos culturais, midiáticos e artísticos.

Este número de Esclavages & post~esclavages / Slaveries & Post~Slaveries convida o/as investigadores/as do conjunto das ciências humanas e sociais a refletir sobre as relações entre memória e música centradas na contestação, o recolhimento, a transmissão, ou ainda a pesquisa artística visando restituir genealogias durante muito tempo esquecidas ou imaginá-las em épocas diferentes, no Atlântico e no Oceano Índico, em África e no Golfo Pérsico.

Não sendo restritivo, as contribuições poderão abordar os temas seguintes:

  • os processos entrelaçados de (re)atualização, performance e (re)transmissão das concepções do « memorial musical » num contexto histórico determinado, desde as abolições até hoje;

  • a performatividade desses processos memoriais em escala individual e coletiva, e suas implicações afetivas e emocionais;

  • as relações entre o « memorial musical » e o silêncio das instituições ou, pelo contrário, a proliferação das iniciativas (inter)nacionais dedicadas a história dos tratos e das escravidões;

  • as obras, as práticas e a imaginação dos artistas que, ao longo dos séculos, têm contribuído para moldar e transmitir os elos unindo a música e a memória;

  • o papel das novas tecnologias como o disco, na virada do século XX, e mais tarde dos formatos numéricos e da internet, nesses processos ;

  • os processos de intermedialidade e de intertextualidade no cerne da constituição dos memoriais musicais ;

  • os processos memoriais alternativos e as manifestações dos diálogos e dos conflitos entre diferentes tipos de atores em torno do « memorial musical ».

Modalidades de submissão

Os resumos de artigos (entre 500 e 800 palavras) devem ser enviados

antes de 31 de outubro de 2021

para slaveries-musiques@groupes.renater.fr. As propostas de artigos (45 000 caracteres no máximo, espaços incluídos, com a bibliografia) deverão ser submetidas em francês, em inglês, em espanhol ou em português, antes de 1 de março de 2022 sem falta. Devem ser acompanhadas de uma síntese de 3 600 caracteres no máximo. A lista completa das recomendações ás/aos autores encontra-se disponível aqui.

A decisão do comitê editorial será comunicada dia 4 de abril de 2022. Os artigos escolhidos serão publicados na revista Esclavages & post~esclavages em novembro de 2022.

Referências

Aterianus-Owanga Alice & Santiago Jorge P. (ed.), 2016. Aux sons des mémoires. Musiques, archives et terrain. Lyon, Presses universitaires de Lyon.

Becker Cynthia J., 2020. Blackness in Morocco: Gnawa Identity Through Music and Visual Culture, University of Minnesota Press.

Desroches, Monique & Guillaume Samson, 2008. « Le maloya comme espace de reconstruction mémorielle », in Anthropologies de La Réunion, GHASARIAN, Christian (dir.), Paris, Édition Archives contemporaines.

Jankowsky Richard C., 2006. « Black Spirits, White Saints: Music, Spirit Possession, and Sub- Saharans in Tunisia », Ethnomusicology, Vol. 50, No. 3, pp. 373-410.

Kabir, Ananya Jahanara, 2018. “Afro-Latin-Africa: Movement and Memory in Benin », in May Hawas (ed.), The Routledge Companion to World Literature and World History: Circulation, Movement, Encounters, New York, Routledge, pp. 234245.

Ramier, Jay & Elvan Zabunyan, 2021. « L’art contemporain pour penser la mémoire antillaise post-esclavagiste et coloniale », Esclavages & Post-esclavages, No. 4. Disponível em linha : http://journals.openedition.org/slaveries/4219.

Rice Alan & Johanna C. Kardux, 2012. « Confronting the ghostly legacies of slavery: the politics of black bodies, embodied memories and memorial landscapes », Atlantic Studies.

Sebiane, Maho, 2015. L’invisible : Esclavage, swahili et possession dans le complexe rituel leiwah d’Arabie orientale (Sultanat d’Oman – Emirats Arabes Unis), thèse de doctorat en ethnologie spécialité ethnomusicologie, université Paris Ouest Nanterre.

Taylor, Diana, 2003. The Archive and the Repertoire: Performing Cultural Memory in the Americas, Durham, Duke University Press.

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