Quinta-feira, 28 de Março de 2024
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Chamada da Revista Abusões: Bicentenário de morte de E. T. A. Hoffmann (1822 – 2022)

Início: Fim: Data de abertura: Data de encerramento: Países: Brasil

Chamada para artigos, Letras, Literatura

Chamada para publicação da Revista Abusões (2022)

Dossiê: Bicentenário de morte de E. T. A. Hoffmann (1822 – 2022)

Organizadores:
André de Sena Wanderley (UFPE)
Carina Zanelato Silva (IFSP-Hortolândia)
Karin Volobuef (UNESP-Araraquara)

Em 2022 comemoramos o bicentenário da morte do autor romântico E. T. A. Hoffmann (1776-1822), cujo nome sempre é lembrado em conexão com o fantástico e macabro. Sua obra e seu legado, contudo, vão muito além. Versátil e irrequieto, Hoffmann criou uma palheta que vai do gótico ao maravilhoso, do insólito à ficção científica. Sua obra foi seminal em diversos sentidos e teve múltiplos desdobramentos, pois logo cruzou fronteiras e épocas, ecoando junto a escritores do quilate de Heine e Kafka, Gogol e Dostoievski, Gautier e Maupassant, Hawthorne e Poe, Álvares de Azevedo e Machado de Assis. No âmbito da música, seu rastro é explícito em Offenbach, Schumann, Tchaikovsky. Sua marca se imprimiu, igualmente, no cinema expressionista, em filmes como O gabinete do Dr. Caligari e Nosferatu. E como não mencionar Freud, que desenvolveu seu conceito de unheimlich (horripilante) a partir, principalmente, de “O homem-areia”? Lançando mão de gêneros e recursos estéticos dos mais variados, Hoffmann explorou o tema do duplo, ou “Doppelgänger”, em diversos contos e romances, e também deu vida a seres artificiais (bonecas e autômatos), discutindo, assim, possibilidades da ciência e questões como a perda da individualidade humana, marcantes na literatura posterior (Mary Shelley, por exemplo). Por outro lado, a veia “realista” é ressaltada na arguta descrição do homem simples que trabalha em meio à multidão na praça do mercado (A janela do primo). Sua narrativa histórica A senhorita de Scudéry traz o ourives Cardillac, ao mesmo tempo artista genial e criminoso – uma combinação a ser retomada na Pós-modernidade (O perfume, de Süskind). O maestro Kreisler, excêntrico ao extremo, cuja genialidade chega às raias da loucura, pois sua incessante busca pela perfeição artística vai paulatinamente cortando sua capacidade para lidar com os aspectos práticos da vida, é apenas um dos personagens hoffmannianos que corporificam o ideal romântico de “vida na arte” ao mesmo tempo em que servem de advertência contra as armadilhas contidas na exacerbação dos românticos que se perdem em seu mundo interior. Oposto a Kreisler está o felino bonachão que redige suas memórias em Reflexões do gato Murr, livro de cabeceira de Thomas Mann à época em que concebia seu Doutor Fausto. As memórias do gato Murr são exemplo da inclinação satírica e irônica de Hoffmann, que não perdoou a rigidez dos convencionalismos sociais e a futilidade dos modismos. E muitos de seus protagonistas são jovens com talento e sensibilidade artísticos, os quais são vítimas da chacota dos ajustados socialmente. Esses protagonistas podem ser seduzidos por criaturas diabólicas (“O reflexo perdido” e Os elixires do diabo) ou podem receber auxílio de fadas e magos (O pequeno Zacarias, “O vaso de ouro”), e seus desfechos podem ser trágicos ou risonhos, a depender da obra. Para Hoffmann, no entanto, fundamental é o leitor perceber que a realidade (ou verdade) não é uma só: a “realidade” é uma construção de sentidos e, por isso, depende do olhar de quem contempla o mundo. A obra de Hoffmann, assim, abre horizontes, contrapõe perspectivas, questiona as certezas – nos planos social, psicológico, estético, etc. Hoffmann nos convida a renovar nosso olhar, a ouvir nossa intuição mais profunda e a nos entregar à fruição da arte em todas as suas possibilidades e variações. Este dossiê visa à publicação de artigos que tratem da obra de Hoffmann: seu contexto histórico-social, suas interações e intertextualidades, e sua recepção (leitura, tradução, reverberações, etc., sob abordagens comparativistas, estudos genológicos ou intersemióticos, olhares pós-coloniais etc).

Submissões até 05 de setembro de 2021

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