Sexta-feira, 19 de Abril de 2024
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CFP #7 revista TRANSLOCAL - Paisagens Vulneráveis/Paisagens Resilientes

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Chamada para artigos, Ciências Humanas, Estudos Culturais, Paisagem

Convite à Publicação da Revista TRANSLOCAL

# 7 Paisagens Vulneráveis / Paisagens Resilientes

Data limite para envio de propostas:  31 dez. 2022

 

Se a paisagem suscita tão grande  interesse por parte das ciências humanas, é porque não apenas dá a ver, mas também a pensar: “A paisagem tem ideias e faz pensar”, escreveu Balzac. Essas “ideias” constituem o objeto de diversas construções sociais e expressões culturais [...]. De facto, a noção de paisagem envolve pelo menos três componentes, unidos numa relação complexa: um local, um olhar e uma imagem. As teorias da paisagem deram ênfase ora ao primeiro, ora ao último desses componentes, em detrimento do segundo [...] o local foi considerado como o modelo que a arte devia imitar [...]. Os modernos tenderam a inverter essa hierarquia, insistindo no papel das representações artísticas [...] [Hoje entende-se] a paisagem como um fenômeno, que nem é pura representação, nem uma simples presença, mas o produto do encontro entre o mundo e um ponto de vista.

Michel Collot, Poética e Filosofia da Paisagem, pp.17-18 
 

Nature is no longer outside us but under our feet, and it shakes the ground [...]. Climate mutation means that the question of the land on which we all stand has come back into focus.

Bruno Latour, “‘We don’t seem to live on the same planet’ - a fictional planetarium”, p. 193.

 

 

Seguindo o repto entrevisto nas palavras de Michel Collot citadas em epígrafe, o n.º 7 online da revista TRANSLOCAL. Culturas Contemporâneas Locais e Urbanas, subordinado ao tema “Paisagens Vulneráveis / Paisagens Resilientes”, convida a repensar as paisagens, mais concretamente aquilo que nelas pode existir e ser construído como vulnerabilidade e/ou resiliência. 

Paisagem é um conceito plurissignificativo, cujos sentidos assumem variações consoante as áreas de conhecimento em que é utilizado e de acordo com os valores dominantes em cada cultura e ideologia, os quais nunca são alheios às transformações e ruturas que, ao longo do tempo, se vão operando nos sistemas ecossocioculturais. Transformações que, nas últimas décadas, como nos lembra Álvaro Domingues (2021: 12), foram particularmente modeladas pelos ímpetos da urbanização e da desruralização, do capitalismo globalizado, da modernização tecnológica e das alterações climáticas. 

Neste sentido, a paisagem, hoje, já  não pode ser entendida como objeto fixo (e idealizado), exterior aos sujeitos que não só a observam, mas também a produzem e com ela se redefinem. Tem antes de ser assumida nessa sua pluralidade instável: como conceito e como representação em permanente reconfiguração, mas também como territórios em metamorfose contínua, experienciados por sujeitos e comunidades que os imaginam, os observam, deles se apropriam física e afetivamente, neles atuando, também, de acordo com os seus pontos de vista; perceções que, como notou Anne Cauquelin (2014), para além de serem determinadas por fatores fisiológicos e topográficos (o sistema ocular humano e o local físico de onde esses territórios se observam), são também manipuladas por fatores de ordem conceptual, estética, afetiva e ideológico-política, decorrendo de aprendizagens mais ou menos conscientes, mais ou menos orgânicas ou formais. 

Assumir que a paisagem ou, talvez com maior rigor, a produção da paisagem, “envolve pelo menos três componentes, unidos numa relação complexa: o local, um olhar e uma imagem”, exige também a redefinição do que, por vezes de forma apressada e pouco rigorosa, se apelida de “desastre natural”, equacionando, a partir dessa tríade (local/território; olhar/perceção humana; e imagens), o que determina a construção de vulnerabilidades e/ou de fenómenos de resiliência. Na verdade, entender as dinâmicas e os processos que produzem a paisagem (dinâmicas sociais e culturais, processos geofísicos, etc.) é fundamental na prevenção de desastres e na redução de vulnerabilidades locais, mesmo quando estas são intensificadas por fatores de ordem mais global ou translocal. Um problema que, em tempos de crise ambiental e de alterações climáticas, se tornou mais do que premente.

Para definir as paisagens de risco, é preciso considerar alguns conceitos-chave: vulnerabilidade e resiliência, por um lado; risco objetivo e percepção de risco, por outro. 

Neste sentido, paisagens vulneráveis são aquelas em que há um desequilíbrio entre os elementos que as constituem e as fragilidades que mais as expõem ao risco, destacando-se os aspectos de vulnerabilidade (tanto geofísicos, quanto socioculturais) que estão por trás dessa sua formação e dessa exposição; ou seja, são paisagens onde dicotomias e conflitos entre os elementos que as constroem acabam por produzir o risco ou até o desastre.

Pelo contrário, paisagens resilientes são aquelas paisagens em que se manifesta a procura de equilíbrios entre esses vários elementos, assim como a promoção de práticas de redução de riscos e de fomento da sustentabilidade, com consequente efeito na mitigação da vulnerabilidade do território.

Assim, acolher-se-ão com interesse propostas de ensaios, artigos, trabalhos artísticos em formato de ensaios visuais/audiovisuais e notas de leitura/recensões de livros que abordem (não exclusivamente) os tópicos que abaixo indicamos:

  • reflexão teórica e/ou crítica sobre os conceitos de paisagem vulnerável e paisagem resiliente;
  • paisagens vulneráveis e paisagens resilientes: casos de estudo;
  • propostas alternativas e criativas de fomento da resiliência ao risco de desastres;
  • o conflito social e a negociação/participação comunitária como factores de construção de vulnerabilidades e/ou resiliência;
  • imaginários e representações culturais como fatores de produção de vulnerabilidades e/ou de resiliência;
  • literacia da paisagem e mitigação do risco de desastre;
  • crise ambiental, alterações climáticas e respostas translocais ao risco de desastre: partilha internacional de saberes, de experiências e de exemplos de boas práticas na mitigação do risco de desastre.

Aceitar-se-ão trabalhos inéditos que respeitem as normas de edição (disponíveis aqui) e que usem como línguas de trabalho: o Castelhano, o Francês, o Inglês, o Italiano ou o Português.

Os trabalhos propostos deverão ser enviados até 31 de dezembro de 2022 na sua versão completa, para a coordenação do n.º 7 (translocal.revista@mail.uma.pt e sara.bonati@gmail.com), incluindo também os seguintes elementos: 

  • um resumo da proposta submetida, na língua adotada no trabalho e em inglês (até 200 palavras); 
  • breve nota curricular do(s) autor(es) (até 100 palavras). 

Todos os trabalhos propostos serão sujeitos a uma avaliação segundo o modelo de avaliação cega por pares. 
Até 28 de fevereiro de 2023, a coordenação do n.º 7 da revista informará os autores dos textos que foram aceites, procedendo-se depois à sua revisão, paginação e publicação online.

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