Quinta-feira, 28 de Março de 2024
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Lusoecologias: complexidade, agência e resistência mais-que-humanas no Antropoceno lusófono

Início: Fim: Data de abertura: Data de encerramento: Países: Reino Unido

Ambiente, Chamada para trabalhos, Ecocrítica, Estudos Lusófonos

Chamada de comunicações (até 30-11-2022) para o simpósio:

‘Lusoecologias: complexidade, agência e resistência mais-que-humanas no Antropoceno lusófono’ 

Data do simpósio: 30-31 março 2023 

Convidam-se expressões de interesse para participação num simpósio de dois dias, previsto para março de 2023 na Universidade de Oxford, com vista à publicação de uma coleção editada sobre ‘Ecologias Lusófonas’. Pretende-se que este seja o primeiro passo decisivo de um projeto colaborativo de pesquisa que situará os Estudos Ambientais e a Ecocrítica dentro do âmbito dos Estudos Lusófonos e da literatura em geral. 

As crises antropogênicas da mudança climática, do colapso ambiental e da perda de biodiversidade tornam este o momento ideal para uma consideração aprofundada das contribuições únicas oferecidas pelas culturas lusófonas quanto ao enfrentamento de questões ecológicas.  

Nosso objetivo é fomentar discussões sobre como obras em língua portuguesa (textos literários e filosóficos, filmes e televisão, artes visuais, projetos ativistas, entre outros) podem ilustrar complexidades, agências, resistências e materialidades animais, vegetais e mais-que-humanas. Em particular, desejamos promover discussões que incluam todo o mundo lusófono, conectando o Brasil, a África Lusófona, Portugal e os variados espaços lusófonos na Ásia. Também incentivamos perspetivas comparatistas que conectem e contrastem textos, artefatos e espetáculos lusófonos com outras línguas e espaços geográficos. 

O mundo lusófono é rico em conhecimentos sobre o mundo mais-que-humano que merecem a nossa atenção: acompreensão de Fernando Pessoa, na voz de Alberto Caeiro, de que “a natureza é partes sem um todo”; a comunhão com a barata na obra de Clarice Lispector; as encarnações felinas de esperança e memória nos quadros de Tamikuã Txihi; o olhar aviário no cinema de João Pedro Rodrigues; as espectrais presenças caninas na prosa de Pepetela. Inspirando-nos na noção feminista de “re-visão”, elaborada por Adrienne Rich, que concebe o ato de “entrar num texto antigo a partir de uma nova direção crítica” como nada menos do que “um ato de sobrevivência” (2001:11 [tradução nossa]), o nosso simpósio aspira à criação de um método ecológicoequivalente, que permita re-ler textos canônicos do mundo lusófono. 

Este novo foco sobre o mais-que-humano pode nos ajudar a desaprender as presunções antropocêntricas em que estamos mergulhados e a desvendar lições esquecidas sobre ecologia. Ao mesmo tempo, esperamos que os participantes do nosso simpósio possam contribuir com novos textos, projetos e recursos criativos de vertenteecológica que  dialoguem com o mundo lusófono.

Entre outros eixos temáticos, o simpósio ‘Ecologias Lusófonas’ abordará as consequências do imperialismo português e da escravidão – em particular, a repressão e a resistência de cosmovisões animistas de povos originários do Brasil e da África Lusófona, e como esses processos geraram representações, reflexões e narrativas sobre elementos mais-do-que-humanos no mundo lusófono.  Valendo-se de sua conveniente posição geográfica  para legitimar suas ambições imperialistas, Portugal desempenhou um papel decisivo no advento global do plantationoceno. Começando pelas ilhas próximas às costas europeia e africana, os portugueses foram pioneiros no estabelecimento de sistemas de plantações sustentados pelo trabalho forçado, um modelo de crescimento capitalista que seria posteriormente exportado ao ‘Novo Mundo’, e que inspiraria outras potências coloniais, tais como a Espanha, os Países Baixos, a Grã-Bretanha e a França. Recentemente as conexões entre escravidão, colonialismo e degradação ambiental passaram a ser estudadas em profundidade por acadêmicos de países do norte, embora vozes de países do sul venham denunciando o ecocídio como um dos aspectos mais destrutivos da escravidão e do colonialismo há muito tempo. A destruição ambiental predatória foi ativamente impulsionada pela cosmovisão ocidental, que sempre foi e continua sendo extrativista. Malcom Ferdinand descreve esse modelo como uma “ocupação colonial da Terra” (2019: 298 [tradução nossa]),  em que elementos mais-que-humanos são vistos como produtos disponíveis para uso e objetos inanimados, passíveis de serem destruídos, explorados e dominados para satisfazer interesses coloniais e imperiais. 

@s participantes do nosso simpósio poderão considerar como as culturas lusófonas abordam quaisquer imperativos ecológicos, incluindo (entre outros):

  • Re-conceitualização da relação que os seres humanos estabelecem com o mundo mais-que-humano;
  • Desconstrução das jaulas conceituais em que todos os animais, incluindo os humanos, estão confinados; 
  • Rotura das divisões humano/animal, humano/planta e humano/não-humano;
  • Resistência contra a homogeneização, por meio da representação das complexidades mais-que-humanas;
  • Pensamento e sentimento des-antropocêntricos;
  • Investigação da polivocalidade do mundo (por ex. o modo como artistas, pensadores e ativistas escutam a expressividade do mais-que-humano como agente ativo autônomo); 
  • Abordagem dos impactos ecológicos causados pelo imperialismo português;
  • Resgate e compartilhamento das epistemologias, cosmovisões e saberes de povos originários, que oferecem visões e ontologias alternativas da vida. 

Estamos particularmente interessados em receber propostas de pesquisadores e estudantes de pós-graduação. Graças ao financiamento da ABIL (Associação de Lusitanistas Britânicos e Irlandeses) e do Leverhulme Trust, dispomo-nos a custear os valores de transporte e hospedagem em Oxford para palestrantes que morem no Reino Unido. O simpósio será totalmente híbrido e encorajamos a participação online de palestrantes que morem fora do Reino Unido, expandindo assim a nossa acessibilidade a acadêmicos de diferentes partes do mundo, ao mesmo tempo em que minimizamos a pegada de carbono do evento. Pelo mesmo motivo, e também como gesto ético, as refeições para participantes presenciais serão veganas.

As propostas de comunicação, que deverão incluir título e resumo de 250-500 palavras, bem como uma biografia breve de aproximadamente 100 palavras, devem ser encaminhadas para lusoecologies@gmail.com até dia 30 de novembro de 2022. (Também ficamos à disposição para responder a quaisquer dúvidas neste endereço de e-mail). Espera-se que @s participantes do simpósio façam comunicações de 15-20 minutos, em inglês ou português, que poderão ser transformadas em capítulos da coleção editada Lusoecologias. Pedimos o favor de indicar no e-mail se preferem participar online ou de forma presencial.

NB. Para aumentar as possibilidades de um engajamento construtivo por parte dos organizadores e dos outros participantes, @s palestrantes selecionad@s deverão produzir resumos mais longos (de cerca de 1000 palavras), que serão distribuídos em fevereiro de 2023, um mês antes do simpósio.

 

Organizadores:

Dorothée Boulanger, Leverhulme Early Career Fellow and Junior Research Fellow at Jesus College, University of Oxford (https://www.mod-langs.ox.ac.uk/people/dorothee-boulanger)

Andrzej Stuart-Thompson, DPhil Student at Jesus College, University of Oxford (https://www.mod-langs.ox.ac.uk/people/andrzej-stuart-thompson)

 

Bibliografia sugerida:

Stacey Alaimo, Undomesticated Ground: Recasting Nature as a Feminist Space (London: Cornell University Press, 2000). 

Karen Barad, 'Nature's Queer Performativity', Qui parle, 19 (2011), 121-58.

Rosi Braidotti, The Posthuman (Cambridge: Polity Press, 2013). 

Eric C. Brown (ed), Insect Poetics (Minneapolis: University of Minnesota Press, 2006).

Leigh Brownhill et al. (eds), The Routledge Handbook on Ecosocialism (Abingdon, Oxon; New York, NY: Routledge, 2021).

Lawrence Buell, 'Ecocriticism: Some Emerging Trends', Qui parle, 19 (2011), 87-115.

Marisol de la Cadena and Mario Blaser (eds), A World of Many Worlds (Durham: Duke University Press, 2018). 

Matthew Calarco, Thinking Through Animals: Identity, Difference, Indistinction (Stanford: Stanford University Press, 2015).

——  (ed.), Animal Studies: The Key Concepts (Abingdon, Oxon: Routledge, 2021).

Mel Y Chen and Dana Luciano (eds), ‘Queer Inhumanisms’, GLQ: A Journal of Lesbian and Gay Studies, 21. 2-3 (2015).

Josephine Donovan, The Aesthetics of Care: On the Literary Treatment of Animals (New York: Bloomsbury Academic, 2016). 

Monica Gagliano, John C. Ryan, and Patrícia Vieira, The Language of Plants: Science, Philosophy, Literature (Minneapolis: University of Minnesota Press, 2017).

Malcom Ferdinand, Une Écologie Décoloniale : Penser L’écologie Depuis Le Monde Caribéen (Paris: Éditions du Seuil, 2019).

Malcom Ferdinand, A Decolonial Ecology: Thinking from the Caribbean WorldCritical South (Cambridge: Polity Press, 2021).

Amitav Ghosh, The Great Derangement: Climate Change and the Unthinkable (Chicago: The University of Chicago Press, 2017).

Amitav Ghosh, The Nutmeg’s Curse: Parables for a Planet in Crisis (London: John Murray Publishers, 2022).

Lori Gruen (ed.), Critical Terms for Animal Studies (Chicago; London: The University of Chicago Press, 2018). 

Donna Haraway, When Species Meet (Minneapolis: University of Minnesota Press, 2008).

Isabel Hofmeyr, Sarah Nuttall, and Charne Lavery, 'Reading for Water', Interventions. International Journal of Postcolonial Studies, 24 (2022), 303-22.

Graham Huggan, and Helen Tiffin, Postcolonial Ecocriticism: Literature, Animals, Environment. Second edn (London: Routledge, 2015).

Cajetan Iheka, Naturalizing Africa: Ecological Violence, Agency, and Postcolonial Resistance in African Literature (Cambridge: Cambridge University Press, 2019), p. 211.

Luce Irigaray and Michael Marder, Through Vegetal Being: Two Philosophical Perspectives (New York: Columbia University Press, 2016). 

Zakiyyah Iman Jackson, Becoming Human: Matter and Meaning in an Antiblack World (New York: New York University Press, 2020).

Inge Konik, 'Ubuntu and Ecofeminism: Value-Building with African and Womanist Voices', Environmental Values, 27 (2018), 269-88.

Ailton Krenak, Ideias para adiar o fim do mundo (São Paulo: Companhia das Letras, 2019).

——, A vida não é útil: ideias para salvar a humanidade (São Paulo: Companhia das Letras, 2020).

Eduardo Leão, 'Suicidal Cows and Fields of Worms: Apocalyptic Agribusiness in Brazil and Argentina', Journal of Lusophone Studies, 7 (2022), 144-67.

Michael Löwy, Ecosocialism: A Radical Alternative to Capitalist Catastrophe (Chicago, IL: Haymarket Books, 2015).

Patricia MacCormack, Posthuman Ethics: Embodiment and Cultural Theory (London: Routledge, 2016). 

Michael Marder, Plant-Thinking: A Philosophy of Vegetal Life (New York: Columbia University Press, 2013).

——, The Philosopher’s Plant: An Intellectual Herbarium (New York: Columbia University Press, 2014). 

Mary Midgley, Animals and Why They Matter (Harmondsworth: Penguin, 1983).

Victor K. Mendes, and Patricia I. Vieira, Portuguese Literature and the Environment (Lanham: Lexington Books, 2019).

Catriona Mortimer Sandilands and Bruce Erikson (eds). Queer Ecologies: Sex, Nature, Politics, Desire (Bloomington: Indiana University Press, 2010).

Evan Mwangi, The Postcolonial Animal: African Literature and Posthuman Ethics (Ann Arbor: University of Michigan Press, 2019).

Anat Pick, Creaturely Poetics: Animality and Vulnerability in Literature and Film (New York: Columbia University Press, 2011). 

Luis Prádanos, and Mark Anderson, 'Transatlantic Iberian, Latin American, and Lusophone African Ecocriticism: An Introduction // Ecocrítica Transatlántica Ibérica, Latinoamericana Y Lusófono-Africana: Una Introducción', Ecozon@, 8 (2017), 1-21.

Adrienne Rich, ‘“When We Dead Awaken”: Writing as Re-Vision’, in Arts of the Possible: Essays and Conversations (New York; London: W.W.Norton & Company, 2001), 10-29.

Nicole Seymour, Strange Natures: Futurity, Empathy, and the Queer Ecological Imagination (Baltimore: University of Illinois Press, 2013).

Farhana Sultana, 'The Unbearable Heaviness of Climate Coloniality', Political Geography (2022).

Louise du Toit, 'The African Animal Other: Decolonizing Nature', Angelaki, 24 (2019), 130-42.

Plumwood Val, 'Nature in the Active Voice', Australian humanities review (2009), 111-27.

Patrícia Vieira, 'Rainforest Sublime in Cinema: A Post-Anthropocentric Amazonian Aesthetics', Hispania, 103 (2020), 533-44.

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