Sexta-feira, 29 de Março de 2024
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Colóquio « Frontières dans les Amériques » / «Fronteiras nas Américas»

Início: Fim: Data de abertura: Data de encerramento: Países: França

Chamada para trabalhos, Ciências Humanas e Sociais, Estudos Latino-Americanos

Fronteiras nas Américas
Frontières dans les Amériques
Borders in the Americas
Fronteras en las Américas

11-13 de Junho de 2019
Grenoble – França


A Universidade de Grenoble-Alpes, na França, sedia nos dias 11 a 13 de junho de 2019 o Simpósio Fronteiras nas Américas, um evento que propõe refletir sobre diferentes dinâmicas que animam as fronteiras e as mudanças que elas experimentaram na última década de acordo com vários eixos. A data limite para submissão de propostas é dia 31 de outubro de 2018.


Apresentação

Na esteira do colapso da URSS, muitos analistas previram que o mundo havia atingido o "fim da história" (FUKUYAMA, 1992) e que as organizações regionais, bem como os acordos de livre comércio - entre os quais a União Europeia era um modelo a ser seguido, um exemplo da integração mais bem sucedida -, era o sinal do advento de um mundo sem fronteiras. Entretanto, percebemos que, mais de trinta anos depois, a realidade está longe de tais comentários. Ao contrário, assistimos a um "retorno das fronteiras" (AMILHAT-SZARY, 2006; FOUCHER, 2016; FERGUSON, 2017). Um dos sinais mais reveladores é a proliferação de "muros fronteiriços" cujo número aumentou de 15 em 1989 para mais de 60 em 2016 (VALLET, 2016). Sinal de um fenômeno de "remarcar limites" (VAN HOUTOUM, 2004, PODESCU, 2011), esses muros são a manifestação de uma "transformação qualitativa" das fronteiras, [Ibid, p. 3]. No entanto, seu retorno está assumindo várias formas, seja pelo seu reforço real ou pelo reforço das atividades de controle e vigilância, ou mesmo pela contestação de movimentos separatistas, incluindo aí os referendos da Catalunha e do Curdistão, exemplos mais recentes. Uma novidade é que esses processos atribuem as fronteiras uma função de "triagem de fluxos" que leva a um "tratamento diferenciado" (AMILHAT-SZARY, 2015).

Sejam contestadas, transgredidas, transcendidas, reforçadas ou integradas, as fronteiras estão no centro do debate político. Este colóquio - o primeiro de uma série intitulada "Fronteiras, Espaços e Poderes" - enfocará fronteiras em uma era geográfica particular: o continente americano. Por terem sido colonizadas por potências europeias, as Américas têm em comum fronteiras que foram criadas para "ordenar" o Novo Mundo (POPESCU, 2011, p. 8). Mais exatamente, elas combinam de forma original duas formas de apropriação territorial, uma lógica de colonização da conquista zonal (frontier) e um desejo de moldar o mundo em uma perspectiva do espaço ocidental (boundary) (PERRIER BRUSLÉ, 2007). Elas veiculam, portanto, uma dimensão exógena que pode ter implicações para os espaços e comunidades que elas atravessam em termos de legitimidade e identidade. Além de seu passado colonial, as Américas têm, desde os anos 1990, outro ponto em comum: abraçando as forças da globalização, estabeleceram acordos comerciais, seja através do NAFTA para o América do Norte ou MERCOSUL para a América do Sul a fim de promover a integração regional. E esses acordos propuseram uma visão particular de fronteira, em muitos aspectos, a fronteira surge mais como um "recurso" do que como um "estigma" (AMILHAT-SZARY, 2015, p. 85). Na escala local, os atores às vezes têm um ponto de vista diferente sobre o desenvolvimento de territórios "periféricos", onde vivem e desenvolvem iniciativas para-diplomáticas inovadoras. Sobre um continente, onde algumas regiões foram marcadas por conflitos fronteiriços recorrentes desde o século XIX, e onde algumas das fronteiras ainda hoje são contestadas, particularmente na América Central, (MEDINA, 2009, p. 36-37). A integração tem sido um "fator estabilizador" (MEDINA, 2009, p. 41) sem apagar as tensões da geopolítica interna que às vezes transbordam através da fronteira, pondo em perigo a estabilidade continental.

Contudo, os ataques de 11 de Setembro de 2001 - e de um modo mais geral, o surgimento de uma ameaça terrorista internacional, presente na América Latina desde os atentados em Buenos Aires, na década de 1880 - o papel das fronteiras mudou, contribuindo para a sua "refuncionalização". O ressurgimento de uma América Fortaleza (ALDEN, 2008; ANDREAS, 2003; NOBLE, 2004) foi amplamente documentado nos Estados Unidos, mas o fenômeno de remarcar limites (rebordering) concerne também as fronteiras latino-americanas de uma forma mais ambivalente, uma vez que, as fronteiras são tomadas dentro de um processo contraditório de "desmantelamento e construção" (MACHADO DE OLIVERA, 2009, p. 19). Enquanto algumas fronteiras parecem estar se fechando, cujo fechamento é justificado por alguns países como resposta ao terrorismo, outros, ao contrário, seguem um caminho inverso, o da abertura, notadamente na América Central (MEDINA, 2009, p. 138). Visualiza-se nesse continente uma política de reinterpretação original das grandes tendências de gestão das fronteiras em escala mundial, como, por exemplo, a implantação de um dispositivo para proteger as fronteiras brasileiras numa amplitude sem precedentes, sem questionamento do real crescimento dos fluxos de comércio internacional, tanto legal quanto ilegal (contrabando, narcotráfico, etc). (DORFMAN et al, 2014; DORFMAN et al, 2017).

É difícil definir uma dinâmica comum nas fronteiras do continente americano já que seu papel varia de um país para outro, mesmo de uma região para outra (MACHADO de OLIVEIRA, 2009, p. 20): as fronteiras são marcadas, ao contrário, por uma "enorme variedade", especialmente na América Latina onde elas são mais numerosos. Entre as "fronteiras distantes" que separam as regiões cujos territórios "dão as costas à fronteira" (Argentina/Chile, Brasil/Paraguay...), as “fronteiras capricórnicas”, marcadas por ligações transfronteiriças ilegais, particularmente em áreas recentemente urbanizadas (Costa Rica/Nicarágua, México/Guatemala), ou ainda as “fronteiras vibrantes”, que tiram seu dinamismo de uma densa população e de numerosas vantagens comparativas (Brasil/Uruguai, Peru/Equador, México/Estados Unidos), sem esquecer as “fronteiras protocolos”, que são regiões instrumentalizadas pelo governo central para promover seu "dinamismo" ou para lutar contra o tráfico ilegal de acordo com uma abordagem de cima para baixo (Chile/Argentina, Haiti/República Dominicana), vemos que os tipos de fronteiras são numerosos (MACHADO DE OLIVEIRA, 2009, p. 28-30). Diferentes graus de cooperação transfronteiriça se desenvolvem através delas e este colóquio pode ser uma oportunidade para refinar essa tipologia. Em um contexto mais global da teoria dos estudos de fronteira, pode ser interessante questionar em que medida um aporte continental permite avaliar as especificidades regionais, mas igualmente de contribuir, de maneira original a este esforço epistemológico (MEZZADRA, 2013; NAIL, 2016; PARKER et al, 2012; WASTL-WALTER, 2012).

Sessões temáticas

Este simpósio propõe, portanto, refletir sobre essas diferentes dinâmicas que animam as fronteiras e as mudanças que elas experimentaram na última década de acordo com vários eixos.

  • As comunicações podem abordar as diferentes políticas postas em curso desde o início dos anos 2000, particularmente em relação a este fenômeno de remarcação de limites (constução de muros) que está em jogo em escala global. Como os países gerenciam suas fronteiras neste novo contexto? As propostas podem se concentrar tanto nos próprios dispositivos de segurança quanto suas implicações para as relações transfronteiriças. Estudos de caso ou abordagens comparativas são bem-vindas, especialmente aquelas que vão além das sínteses já estabelecida, para ligar as duas metades das Américas... (BRUNET-JAILLY, 2007; KONRAD et al, 2008).

  • As proposições poderão igualmente analisar o modo como evoluem as fronteiras americanas, entre abertura e fechamento, "funcionalização e descapitalização" (FOUCHER, 1991; PRADEAU, 1994, p. 16-17), a fim de estudar essas dinâmicas em pequena escala, ao nível da díade que forma alguns países, ou em maior escala - regional ou continental. Particular atenção será dada aos aspectos materiais de tal dinâmica, e à maneira pela qual este processo se teritorializa. Abordagens históricas que renovem a questão do conflito fronteiriço territorializado e multiplicam as escalas de leitura, propondo esforços para mudar narrativas nacionais e nacionalistas contraditórias, serão igualmente pesquisadas (PARODI REVOREDO et al, 2014).

  • As comunicações também podem explorar a questão da integração continental dentro do NAFTA e do MERCOSUL, mas também em todas as Américas (UNASUL). Onde estão esses conjuntos regionais que se apresentaram como modelos nos anos 90? Como os diferentes países membros encaram suas relações fronteiriças nesses marcos? Como os dois fenômenos de integração e reordenação coexistem? Quais são os movimentos de resistência a esses processos, como eles se expressam politicamente e em que escala (s)?

  • Mais amplamente, as proposições poderão abordar as relações fronteiriças para ver quais questões de cooperação transfronteiriça estão sendo criadas entre os países, que tipo de complementaridades podem ser estabelecidas em ambos os lados de uma linha internacional. Em pequena escala, como isso pode dar origem a pares urbanos e regiões transfronteiriças? Haverá lugar para contra-iniciativas políticas, pois há muitos exemplos nas Américas de movimentos sociais transfronteiriços que denunciam e abraçam fronteiras ao mesmo tempo. Abordagens comparativas serão bem

  • As comunicações poderão abordar, também, a fronteira "de baixo para cima" (RUNFORD, 2014): como as pessoas que vivem em áreas de fronteira interagem com as normas internacionais que as costeiam? Sendo a fronteira um "marcador de identidade" (PIERMAY, 2005, p. 206), um questionamento sobre a ligação entre identidade, território e fronteira é bem- vindo. Quais interações e quais identidades emergem dessas interações transfronteirças? Como os individuos se constroem em relação a fronteira? Outras "terceiras nações" (DEAR, 2013, p. 71), como o que acontece ao longo da fronteira México/EUA, emergiram? A questão é ainda mais importante em certas áreas da América Central, onde "o Estado precedeu a nação" (MEDINA, 2009, p.38). A partir daí, que papel as fronteiras desempenham na "coesão nacional" [Ibid]? Quais representações que as comunidades fronteiriças põem em evidência? Uma das dimensões da construção de identidades fronteiriças está ligada a história pré- colombiana do continente, assim, o colóquio terá espaço importante para refletir sobre a interpretação que os povos indígenas fazem da construção de fronteiras (NATES CRUZ, 2013).

  • As travessias de fronteiras e seus custos humanos crescentes serão igualmente objeto de atenção dobrada (DE LEON et al, 2015). Trata-se de entender os fluxos intracontinentais, especialmente aqueles relacionados às mobilidades de trabalho, mas também a maneira como as Américas fazem parte de estratégias migratórias de grande escala, com pessoas que tentam cada vez mais, por exemplo, chegar na América do Norte depois da África, cruzando o Atlântico por antigas rotas de escravos e depois tentando a sorte em longas e perigosas rotas rumo ao norte. O foco será em questões de vulnerabilidade, com abordagens de gênero sendo bem-vindas (TAPIA LADINO, 2014).

  • Os fenômenos ilegais que se desenvolveram nas Américas também podem ser temáticas interessantes: seja narcotráfico, imigração ilegal ou cartéis, etc. Suas causas, suas ramificações, suas implicações para as populações locais e as políticas postas em prática para combatê-los são ângulos que os comunicadores estão convidados a

  • A questão das fronteiras marítimas também pode ser abordada, pois sua delimitação é repleta de tensão, particularmente na América Central (MEDINA, 2009, 40). Também levanta a questão das fronteiras externas do continente, especialmente o front Ártico (NICOL et al, 2009). Ela abre-se mais genericamente sobre a dimensão ambiental das questões fronteiriças (WADEWITZ 2012), que assume uma dimensão singular nas Américas, onde, para a maioria, as fronteiras internacionais atravessam áreas de baixa densidade de ocupação humana.

  • Propostas que abordem questões realtivas as fronteiras urbanas também são bem-vindas (CHEVALIER et al, 2004). Por compartilharem a mesma experiência de desenvolvimento ligada ao neoliberalismo econômico, as cidades das Américas se tornaram regiões fronteiriças com fronteiras formais e informais estabelecidas e monitoradas em nome de categorias socioeconômicas e outros atores da "gentrificação". O resultado é um fenômeno de "desapropriação" (HARVEY, 2008) que afeta todas as cidades dos EUA, de São Francisco a São Paulo, onde seus tradicionais habitantes são vítimas. As comunicações poderão abordar esse fenômeno e suas modalidades. Como essas fronteiras urbanas foram impostas pelos governos e municípios? Como elas são organizados e manifestadas? Como os habitantes tradicionais se mobilizam e que formas de resistência política, social e cultural tem emergido?

  • Finalmente, as áreas de fronteira são lugares em perpétua evolução, cuja expressão estética e imaginários são rapidamente recompostos (RODNEY, 2017; AMILHAT-SZARY, 2014), vamos refletir sobre intervenções e performances que acontecem lá, em todo o continente, não apenas nas fronteiras mais divulgadas ou

  • Embora focado na geografia e geopolítica, este colóquio se quer antes de tudo transdisciplinar, portanto, todas as abordagens serão bem-vindas, quer se relacionam com a geografia, história, ciência política, relações internacionais, sociologia ou antropologia. Os comunicadores também são encorajados a adotar metodologias multidisciplinares.

As propostas (em inglês, francês ou espanhol) incluirão um resumo de aproximadamente 300 palavras e uma pequena nota biográfica de 100 palavras, a ser enviadas para bordersinamericas.2019@gmail.com.

Mais informações na chamada em anexo.

« Fronteiras nas Américas », Chamadas de trabalhos, Calenda, Publicado quarta, 24 de outubro de 2018, https://calenda.org/498810

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