Quinta-feira, 28 de Março de 2024
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Vozes do Além: Protagonismo e poética de figuras mortas na literatura e no cinema brasileiros

Início: Fim: Data de abertura: Data de encerramento: Países: Dinamarca, Reino Unido

Chamada para artigos, Cinema, Estudos Brasileiros, Literatura

A revista Brasiliana - Journal for Brazilian Studies (ISSN: 2245-4373) seleciona artigos para o seu vol. 7 nº 1 (2018), que terá como tema “Vozes do Além: Protagonismo e poética de figuras mortas na literatura e no cinema brasileiros”. Os artigos para a revista, que é editada pelo King's College London, podem ser escritos em português, inglês, dinamarquês e espanhol. O prazo máximo para o envio é o 1º de setembro de 2018.

Ementa:

A morte é sem dúvida um tema clássico da literatura e das letras. Partindo da dança medieval dos mortos, passando pela morte personificada como a alegoria vanitas, típica do barroco, até chegarmos ao desejo da morte mística do “Eu” lírico do Romantismo – sem falar na literatura fantástica que é povoada de fantasmas, mortos e ressuscitados. Na mídia, no cinema, a representação da morte e dos mortos ressuscitados não passa despercebida. O fascínio pela morte liga as mais diversas épocas, mídias, gêneros e culturas. A morte como experiência fronteiriça extrema oferece igualmente o impulso para colocar a pergunta sobre o sentido metafísico, como também sobre as transgressões literárias no limiar entre ficção e realidade.

O dossiê “Vozes do além” da Revista Brasiliana se dedica às figuras mortas na literatura brasileira e coloca a pergunta a respeito do protagonismo e da poética dessas figuras particulares no âmbito fronteiriço dos gêneros do realismo e do fantástico: Quais são as implicações específicas dos personagens mortos para a economia da ação dos textos ficcionais? Quais são as perspectivas narratológicas do protagonismo paradoxal das figuras mortas e do relato dos narradores mortos e como se poderia formular uma poética das ressurreições ficcionais dessas figuras?

Ao contemplar os mortos que regressam e os narradores mortos, constata-se, que eles não são nenhuma raridade na literatura brasileira ou na literatura lusófona. Aparecem nos romances de Machado de Assis, Murilo Rubião ou Jorge Amado, para só mencionar alguns autores. Eles se apresentam também nas adaptações literárias para o cinema, como Dona Flor e seus dois maridos (1977), de Bruno Barreto, e, mais recentemente, de Pedro Vasconcelos (2017), e A morte e a morte de Quincas Berro d’Água (2010), de Sérgio Machado. São filmes nos quais os mortos participam da ação. A adaptação literária de Júlio Bressane (1985) e de André Klotzel (2001) das Memórias Póstumas de Brás Cubas devem ser destacadas. O personagem principal falecido conta a sua vida em retrospectiva. No filme de Klotzel o personagem principal comenta „do além“ pela narrativa em off a relação estreita e normal dos mortos com os vivos e como eles entram em diálogo uns com os outros.

Também os vivos procuram o diálogo com os mortos, esperam pelas mensagens do além ou buscam uma resposta oriunda do futuro. Assim, existem múltiplos textos na literatura brasileira, nos quais os protagonistas procuram apoio, explicações ou instruções para suas visitas a uma cartomante. A comunicação com os mortos e a leitura do futuro como um ato de recepção sustenta a ação. No entanto, essa comunicação e a leitura do futuro normalmente não resultam na melhoria almejada das circunstâncias da vida, mas, muito pelo contrário, na morte dos protagonistas. Que a morte dos protagonistas estimula a narração de uma forma particular, torna-se visível através de vários gêneros. Assim, Fábio Moon e Gabriel Bá narram na novela gráfica Daytripper a repetida morte do protagonista Brás, que alcança em cada capítulo uma idade diferente. Desta forma, os autores criam efeito de série estruturado pela imagem da morte.

Discutiremos até que ponto a morte expressa uma (auto)compreensão modificada das personagens, do narrador, como também do autor, e o que acontece narratologicamente depois da “morte do narrador” e como as figuras e narradores mortos, aparentemente mortos e não-mortos podem entrar em uma relação de concorrência com o autor ou os outros narradores. Essas questões podem ser observadas, por exemplo, nos textos de Clarice Lispector, onde a morte iminente da protagonista incita a outra forma de narração e o narrador não só passa conscientemente ao primeiro plano, como também reflete sobre seu papel de forma ativa.

Neste dossiê trataremos a questão de como as personagens e os narradores mortos desafiam a relação de referencialidade realista com a realidade, como também desafiam a relação entre vida, morte e poesia, entre arte e realidade. Para que tipo de jogos filosóficos especiais nos convidam os narradores e protagonistas mortos a respeito de pensamentos e caminhadas nos limiares? Quais são as vozes culturais e críticas que falam para nós do além ficcional? Também a representação dos mortos na literatura que ressuscitam no filme, merece uma observação particular. As consequências para as adaptações literárias e os seus meios devem ser examinadas também.

Partindo da observação de que forma o fenômeno do protagonismo paranormal e pós-mortal pode ser visto nos mais diversos meios textuais e visuais, queremos convidar para à contemplação das diferentes formações e configurações de figuras mortas na literatura brasileira para chegarmos a uma compreensão mais abrangente deste fenômeno.

Os artigos devem ser submetidos online antes do dia 1 de setembro de 2018. (veja o site para detalhes)
Este número será coeditado por Dr. Sarah Burnautzki, Dr. Ute Hermanns, e Janek Scholz.

 


CfA

Brasiliana – Journal for Brazilian Studies

Voices from the Beyond
Protagonism and Poetics of Dead Characters in Brazilian Literature

Doubtlessly, death is a classical topic in literature and literary sciences. From medieval Danse Macabre to the personified death as a typical allegory for baroque vanitas, from the narrator’s mystical longing for death in Romanticism to the numerous ghosts, living-dead and wiedergänger in the fantastic ganre and film – death is truly omnipresent and indispensable. The fascination of death associates different epochs, media, genres and cultures with one another and death as the ultimate experience provokes metaphysical questions on the meaning of life as well as literary transgressions between fiction and reality.

Brasiliana’s dossier “Voices from the Beyond” is dedicated to dead characters in Brazilian literature and raises questions on protagonism and poetics of these notable figures at the margin between realism and the fantastic. Which implications do dead characters have on the level of character interaction? Which narratological perspectives arouse because of the paradox protagonism of dead characters and their story-telling? And how does a theory on the poetics of fictional resurrection of dead characters need to be composed?

On closer examination, dead characters and dead narrators are anything but extraordinary in Brazilian literature. They appear in the narrations of Machado de Assis, Jorge Amado or Murilo Rubião, to name only a few, as well as in film adaptations like Dona Flor e seus dois maridos (1976 by Bruno Barreto and 2017 by Pedro Vasconcelos) or A morte e a morte de Quincas Berro d’Água (2010 by Sérgio Machado). Júlio Bressane’s 1985 and André Klotzel’s 2001 film adaptions of Machado de Assis’s Memórias Póstumas de Brás Cubas are remarkable. In Klotzel’s movie, the dead narrator comments off camera on how decisively and how naturally the dead can interconnect with the living and establish a dialogue with one another.

The living, too, try to establish contact with the dead, waiting for messages from the Beyond or searching for answers in foresights on their nearer future. Many texts in Brazilian literature introduce protagonists which long for support, explanations or advices by consulting a fortune-teller. The communication with the dead and the ‘reading’ the protagonists’ future, as an act of literary reception, is meaningful for the plot, even though it usually does not bring the improvement, the characters hoped for. At the contrary, usually it leads to the death of the protagonists themselves, which again particularly challenges the narration. Strong parallels can be found when examining a different genre: In their graphic novel Daytripper, Fábio Moon and Gabriel Bá tell the repetitive death of their protagonist Brás, who reaches a different age in every chapter of the book. By doing so, they create a seriality that is sustained by the motif of death.

Additionally, it should be analysed, how death changes the (self-)understanding of the characters, the narration and the author, what happens, in a narratological sense, after the ‘death of the narrator’ and in which way dead, seemingly dead and undead characters and story-tellers concur with the author or supplementary narrators. This is exemplified in a text by Clarice Lispector, where the imminent death of the protagonist incites the narrator to choose an overt form of narration, to actively reflect his own role (and responsibility) and thus, to tell the story in a different way.

The dossier tries to investigate, how dead characters and narrators make oscillate our referential relation to reality, which seems to be indisputably proofed by our everyday experiences, the relatedness of life and death, and, finally, of poetry (or art in general) and reality. To which philosophical scenarios and metaphysical border-crossings do dead narrators and characters invite their readers? Which cultural or socio-critical voices speak to us from the fictional Beyond? Furthermore, the representation of the dead in literature, which are then awakened in films, and the consequences for film adaptations and its artistic means should be payed attention to.

Given that the phenomenon of paranormal and post mortal protagonism can be found in different textual and visual media, we would appreciate transmedia analyses on how dead characters are arranged and configured in Brazilian literature, to gain a deeper understanding of this phenomenon.

Articles should be submitted online before September 1st, 2018. (see authors page for details)
This issue will be co-edited by Dr. Sarah Burnautzki, Dr. Ute Hermanns, and Janek Scholz.

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