Sexta-feira, 26 de Abril de 2024
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Congresso Internacional do Espírito Santo (Cies)

Início: Fim: Países: Portugal

Chamada para trabalhos, Ciências Humanas

A esperança na possibilidade da construção de um futuro mais justo e mais fraterno que institua um mundo melhor está inscrita em todas as culturas humanas desde os tempos mais remotos. É uma aspiração que alicerçou a dimensão mais humanizadora da cultura e constitui o móbil da elaboração de utopias que conheceram especial fortuna no milénio passado e que fecundaram o pensamento universal, especialmente desde a Modernidade.
 
O ano de 2016 merece ser salientado precisamente como um ano particularmente relevante para revisitar a história do pensamento utópico português e internacional, pois assinalam-se marcos centenariais de maior significado na relação com a esperança de uma palingenesia para a humanidade.
 
Uma das tradições mais fecundas e inspiradoras de construções utópicas que refundam a espera da possibilidade de construção da fraternidade universal é a chamada corrente joaquimita do anúncio da Terceira Idade da História. O chamado Joaquimismo tem como matriz a teologia da História do monge calabrês Joaquim de Flora. A base da sua reflexão teológica alicerça-se numa exegese bíblica que procura um nexo concordacionista entre Antigo e Novo Testamentos, assente numa interpretação particular da teologia trinitária na sua relação modeladora diferenciada da história humana. A esta luz, a caminhada soteriológica da humanidade é entendida em linha evolutiva ascendente, visando uma perfetibilidade maior, que se consumaria num último estádio do tempo terreno por graça especialmente da Terceira Pessoa da Trindade Divina – o Espírito Santo. A utopia da Terceira Idade, que atenderia ao ideal evangélico de paz, justiça, fraternidade, santidade, relação mais íntima com Deus, paridade, indistinção de raças, nações e estatutos sociais, esteve na base da fundação das confrarias e das Festas do Espírito Santo, que teriam tido a sua génese na Baixa Idade Média em Portugal. Estas celebrações festivas, que ganharam projeção com a expansão portuguesa, persistindo vivas especialmente nas rotas globais das diásporas emigrantes açorianas e também madeirenses, são dadas como tendo origem em Alenquer e no gesto fundador da Rainha Isabel de Aragão, esposa de D. Dinis.
 
Para reunir, conhecer melhor e celebrar com os que se interessam pelas “tradições do Espírito Santo” têm-se, de alguns anos a esta parte, realizado regularmente congressos internacionais dedicados a este caleidoscópico campo temático, tanto nos Açores, como no Brasil, nos Estados Unidos e no Canadá.
 
A Câmara Municipal de Alenquer entendeu por bem promover pela primeira vez em Portugal continental, em parceria com a Confraria de Santa Isabel de Coimbra e em cooperação com o CLEPUL da Universidade de Lisboa, o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, o Centro de História da Sociedade e da Cultura, e outras instituições científicas nacionais e internacionais, um grande congresso internacional do Espírito Santo. Este evento científico, sob o largo tema do Espírito Santo e a sua fecundação de utopias de concórdia, fraternidade, harmonia, paz e justiça sobre a terra, propõe-se também assinalar a passagem de cinco importantes datas centenariais que se interligam na esperança ativa da construção de um mundo unido e melhor:
 
1) Os 800 Anos da chegada da Ordem Franciscana a Portugal e a relevância dos Frades de São Francisco de Assis na promoção das festas do Espírito Santo e da expectativa da chegada de uma era de paz e fraternidade universal entre os homens e mulheres do mundo inteiro.
 
2) Os 500 Anos da Beatificação da Rainha Santa Isabel, com o seu exemplo de vida e de caridade cristã, modelar para a promoção do clima de paz, harmonia, concórdia e fraternidade, na esteira da espiritualidade franciscana, bem como o papel pioneiro que lhe é atribuído como patrona de tradições celebrativas e de confrarias do Espírito Santo, marcando a sua génese na vila de Alenquer.
 
3) Os 500 Anos do Primeiro Compromisso Impresso das Misericórdias, que representam em Portugal uma moderna e original iniciativa prática de institucionalização da utopia da solidariedade e fraternidade, herdeiras de experiências confraternais de origem medieval como as confrarias do Espírito Santo, mas exibindo um pendor universalista, que representa e anuncia o advento de sociedades mais equânimes, solidárias e atentas aos mais frágeis e desprotegidos.
 
4) Os 500 Anos da publicação da Utopia de São Tomás Moro, que cunha o conceito que passou a servir para designar os projetos de uma vida em sociedade mais bem governada e harmónica, projeto ainda não concretizado, mas reconhecido como possível.
 
5) Os 300 Anos da criação do Patriarcado de Lisboa que, de algum modo, significa o reconhecimento da centralidade de Lisboa no processo moderno de globalização do cristianismo e do lugar de liderança que lhe foi atribuído pelo pensamento utópico português e não só na inauguração de uma nova ordem mundial em nome do ideal da fraternidade e da concórdia entre todo o género humano.
 
Este congresso decorrerá em 3 momentos: na Universidade de Coimbra, na Fundação Calouste Gulbenkian e na Câmara de Alenquer. O evento está aberto quer à participação de estudiosos que desenvolvem ou pretendam desenvolver investigação e apresentar conhecimento crítico inovador no quadro dos painéis temáticos previstos para a arquitetura programática do congresso, quer a grupos e a pessoas individuais que queiram apresentar performances ou vivências de tradições do Espírito Santo, previstas para os dois últimos dias.
 
Pretende-se, pois, que este congresso internacional seja um espaço de encontro fraterno e de partilha, que promova pesquisa e investigação aprofundada em torno das efemérides assinaladas, e que, simultaneamente, possa dar a conhecer, do ponto de vista da cultura popular, o que se vive e se recria nas comunidades internacionais da diáspora portuguesa em torno das tradições do Espírito Santo.
 
No dias que correm, marcados por um profundo sentimento de crise e de incerteza em relação a um futuro de paz no mundo e de equilíbrio ecológico, revisitar a génese e a evolução da utopia da fraternidade universal, as suas tradições e tentativas de concretização pode ajudar-nos a repensar a sua atualidade e inspirar-nos a projetar futuros possíveis, fundados na esperança ativa de um mundo mais justo e mais harmonioso. É essa a grande função da utopia, realizar a palingenesia: atualizar a esperança e afrontar a crise, o sentimento de depressão e de ruína moral e ética do presente, para encontrar caminhos de superação e de progresso em favor do melhoramento da vida humana, em harmonia e felicidade na nossa casa comum que é o planeta terra; atualizar e recriar em cada tempo a utopia e a utopia inspirada nos valores humanizadores e plenificadores do Espírito Paráclito, contribuindo, assim, para uma reflexão sobre a cidadania do futuro.
 
Congresso Internacional do Espírito Santo (Cies)
Génese, Evolução e Atualidade da Utopia da Fraternidade Universal
Coimbra, 16 e 17 de junho de 2016
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 14, 15 de setembro de 2016
Alenquer, 16, 17 e 18 de setembro de 2016
 
Painéis Temáticos
 
• Pneumatologia e Teologias da História
• Joaquim de Flora, a Doutrina das Três Idades e Joaquimismo
• Metamorfoses da utopia da Terceira Idade da História
• Posteridade espiritual e filosófica de Joaquim de Flora
• Teologia do Espírito na Reforma Protestante e na Contra-Reforma Católica
• A Rainha Santa Isabel - Santos enquanto espelho do Amor de Deus
• A Rainha Santa Isabel - Santidade e Cristianismo
• As devoções da Rainha Santa Isabel: as tradições e instituições do Espírito Santo
• As devoções da Rainha Santa Isabel: a devoção à Imaculada Conceição de Maria
• A Rainha Santa enquanto agente cultural
• A Rainha Santa na Arte
• A Rainha Santa na Literatura
• A Rainha Santa Isabel: Culto e memória dos santos
• A Rainha Santa Isabel: Cristianismo e intervenção social
• A Rainha Santa Isabel: Religião e política
• A Rainha Santa Isabel e a tradição franciscana
• Cultura e Humanismo no séc. XVI
• Cristianismo e Culturas no séc. XVI
• A proliferação das confrarias do Espírito Santo e seu significado
• Génese medieval das confrarias e das Festas do Espírito Santo
• Fundação e ação dos Franciscanos na promoção do Joaquimismo
• Franciscanos na criação de tradições e instituições paracletianas
• Evolução e expressões modernas das Festas Paracletianas
• Diáspora Portuguesa e Festa do Espírito Santo
• Filosofia Portuguesa, a tradição joaquimita e o Espírito Santo
• O Espírito Santo e a utopia do Quinto Império
• Expansão Portuguesa e globalização das tradições do Espírito Paráclito e da devoção à Rainha Santa
• A criação das Misericórdias e as experiências confraternais dedicadas ao Espírito Santo
• Misericórdias e a institucionalização da utopia da Fraternidade Universal
• Consciência de crise e a afirmação moderna do pensamento utópico
• A fortuna da ideia e do conceito de utopia na Época Moderna
• A Utopia de São Tomás Moro e a sua recriação
• O pensamento utópico em Portugal: influências e originalidades
• A fundação do Patriarcado de Lisboa e o lugar da capital portuguesa no quadro do pensamento utópico
• O Espírito Santo, a utopia da Fraternidade Universal e a História das Ideias de Portugal
• Atualidade do pensamento utópico e traduções contemporâneas da utopia da Fraternidade Universal
• Espírito Santo: Arte e Utopia
 
Para mais informações: congresso.espiritosanto.2016@gmail.com.

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