Quinta-feira, 28 de Março de 2024
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Colóquio Internacional «Cães e Imaginário. Literatura, cinema, banda desenhada»

Início: Fim: Data de abertura: Data de encerramento: Países: Portugal

Artes visuais, Chamada para trabalhos, Ciências Humanas, Cinema, Literatura

Colóquio Internacional
Cães e Imaginário. Literatura, cinema, banda desenhada
14 e 15 de junho de 2018
Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho  - CEHUM / ILCH
Braga, Portugal

Data limite: 15 de janeiro de 2018


Apresentação

Desde os primórdios da criação estética, cuja cena primitiva se localiza em grutas pré-históricas, o imaginário humano incorporou, nas suas diversas modalidades e sob pontos de vista múltiplos, a condição animal. Ao longo dos séculos, nele tem sido presença constante e lugar de destaque a figura do cão cujos laços afetivos com o humano são testemunhados por achados arqueológicos pré-históricos, desde o dia em que os primeiros lobos ou chacais se aproximaram dos homens caçadores-coletores.

A relação do cão com o invisível e com a morte, aliada aos seus dons divinatórios e ao papel de intermediário ou tradutor entre dois mundos, fazem dele uma figura simbólica complexa e ambivalente. Representações cinocéfalas podem ser encontradas em diversas culturas e tempos: de Anúbis, deus egípcio dos mortos e condutor de almas, corpo de homem e cabeça de cão (ou chacal) a certas representações de São Cristóvão na Igreja Ortodoxa. Culturas como a celta ou em certas tribos da Oceania, atribuem-lhe um significado diurno, associando o cão à valentia guerreira, à potência sexual e à conquista do fogo. Outras, como a greco-latina, cultivam uma certa ambiguidade entre um significado noturno, associando o cão à morte, ao oculto ou ao mundo interior, e um significado diurno, associando-o à amizade e à fidelidade: Cérbero, o monstruoso cão de três cabeças vigilante do reino dos infernos e os cães que devoram Actéon, transformado em veado como castigo de ter surpreendido Ártemis nua no banho, são exemplos que viriam a ter uma grande fortuna na história da representação literária e artística ocidental, assim como Argos, o velho cão de Ulisses, dando sinais de reconhecer o antigo dono e companheiro no seu regresso a Ítaca.

Ao longo dos séculos é perfeitamente possível rastrear a evolução do pensamento humano e das mentalidades tendo como ponto de observação o modo como o cão surge figurado não apenas nos mitos, nas lendas, nas fábulas, nas églogas, nos lais, nos contos, nos romances, na banda desenhada, nos desenhos animados, no cinema, mas em todo o tipo de discursos (filosóficos, teológicos, científicos, etc.).

Assim, se o cão é para a mentalidade medieva uma figura associada à fome e também à magia, ao mal e ao demoníaco, o animal proscrito da Jerusalém prometida, e de algum modo, representação do desconhecido e estranho ou estrangeiro, Husdent, o vivaz cão de caça de Tristão, é um dos elos de amor indestrutível que une Tristão e Isolda. Já no Renascimento o cão (de caça) se torna um atributo da nobreza, com honras de entrada na heráldica e lugar de destaque na pintura e na retratística enquanto no Naturalismo, por via do crescente interesse pela patologia social e pelo evolucionismo, o cão adquire foros de personagem, denunciando os vícios, a ganância e a corrupção de uma sociedade cada vez mais dominada pelo dinheiro, como o tornam visível o cachorro Quincas Borba de Machado de Assis (ostentando o mesmo nome do dono) ou contos como “A dama do Cachorrinho” de Antón Tchékov. Denúncia que, de resto, a consciência moral burguesa procurará neutralizar pela via do romance policial, como acontece em O Cão dos Baskervilles de Arthur Conan Doyle.

No que diz respeito à contemporaneidade, o interesse pelo animal e, em especial, pelo cão, deve-se ao facto de ele permitir uma significativa descentralização antropológica, questionando o lugar do humano na tradicional hierarquia das espécies, a descentralização por intermédio da qual o homem se assume como mais um ser entre outros no ecossistema existencial e o cão o seu “companion species”, convocando ao mesmo tempo o cruzamento inovador de áreas disciplinares que vão da filosofia e estudos literários à antropologia e biologia, da genética à etologia e zoopoética, da engenharia à cibernética. Nas várias manifestações estético-culturais a que vamos assistindo, o cão adquire assim cada vez mais contornos humanos, ganhando crescente protagonismo ao mesmo tempo que o homem é redefinido como animal humano.

Enquanto figuração da alteridade, o cão permitirá abordar, sob um ponto de vista diferente ou radicalmente novo, questões como a discriminação social e racismo, emigração, velhice e morte, pós-colonialidade, género, ambiente e ecologia, património cultural e histórico, alterações climáticas, interacção homem- máquina e pós-humanidade.

Desde Laika, a primeira cadela a orbitar o planeta terra, a Lassie, a primeira a entrar numa série de televisão, ambas nos anos 50 do século XX, são muitas as representações canídeas nos domínios da criação literária, da realização cinematográfica e da narrativa gráfica. Lembremos o cocker spaniel Flush (1933) de Virginia Woolf e a sua visão de Londres, Mr Bones, o cão rafeiro de Timbuktu de Paul Auster (1999), Rambo, o pittbul de Myra de Maria Velho da Costa, os inúmeros cães de Saramago ou o Cão Branco de Romain Gary, adaptado ao cinema por Samuel Fuller em 1982; Milou, companheiro fiel de Tintin, Ideiafix, o cão de Obelix, Rantanplan, “o cão mais estúpido do universo” ou, do outro lado do Atlântico, Goofy Goof, companheiro de Mickey, e Snoopy, cão filósofo, com o seu inseparável amigo Charlie Brown têm alimentado o imaginário canídeo de gerações. O cachorro de Charlie Chaplin em Uma vida de Cão, os 101 Dálmatas da Disney e a sua versão cinematográfica, assim como Hachiko (Amigo para sempre, 2009) de Lasse Hallström, Max: o cão herói (2015, de Boaz Yakin) ou o documentário Heart of a Dog (2015) de Laurie Anderson, são apenas algumas das representações fílmicas mais recentes, às quais poderíamos certamente acrescentar ainda a presença do cão no domínio dos videojogos ou das séries televisivas.

O colóquio Cães e Imaginário: Literatura, Cinema, Banda Desenha pretende refletir sobre a inescapável presença do cão nessas três modalidades estético-expressivas. São particularmente bem-vindas propostas focando relações intermediais.


Submissão de propostas de comunicação

Para submeter uma proposta de comunicação, deverá enviá-la até ao dia 15 de janeiro sob a forma de um resumo de 200-300 palavras, acompanhado de uma breve nota biobibliográfica, para o email: coloquioLCBD@gmail.com.

As comunicações não ultrapassam os vinte minutos.

Os textos das comunicações serão submetidos à revisão por pares (peer review). Os que forem selecionados farão objeto de uma publicação.

Línguas de comunicação: Português, Francês, Inglês, Espanhol


Calendário

  • 15 de janeiro : data limite para enviar as propostas de comunicação (resumo de 200-300 palavras).
  • 25 de janeiro: date limite para a resposta da Organização.
  • 1 de maio: programa definitivo.
  • 14-15 de junho: Colóquio.


Comissão Científica

  • André Corrêa de Sá (Un. de Santa Barbara, Califórnia)
  • Anne Simon (EHESS)
  • Cândido Oliveira Martins (FacFil)
  • Charles Feldhaus (Un. E. Londrina)
  • Dorothea Kullman (Un. Toronto)
  • Eunice Ribeiro (UMinho)
  • Helena Pires (UMinho)
  • Iolanda Ramos (FCSH)
  • Irène Langlet (Un. Limoges)
  • José Almeida (FLUP)
  • Miriam Ringel (Un. Bar-Illan)
  • Nuno Simões Rodrigues (FLUL)
  • Pedro Moura (FLUL)
  • Xaquin Nuñez (UMinho)

Comissão Organizadora

  • Ana Lúcia Curado
  • Cristina Álvares
  • Isabel Cristina Mateus
  • Sérgio Sousa

Mais informações no site do evento: http://cehum.ilch.uminho.pt/caes.

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